Por Roberto Marinho
No início do mês, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou o 13o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, recheado de números alarmantes sobre a violência contra a mulher. Um dos piores exemplos foi o triste recorde de estupros cometidos em 2018, com 66.041 casos, o maior até hoje. Do total, a maioria absoluta das vítimas (81,8%) são mulheres, sendo que mais da metade – 53,8% – são meninas com até 13 anos. Isso significa uma menina estuprada no Brasil a cada quatro horas.
Em Barra Mansa, a situação da violência contra a mulher também é alarmante: o número de estupros aumentou em 2019, em comparação com 2018. Foram 27 casos entre janeiro e julho deste ano, contra 17 em igual período do ano passado. Tem mais. A cidade já registrou pelo menos dois casos de feminicídio em 2019: em março, Natiele Caitano dos Santos, 33, foi estrangulada na Vila Coringa. A principal suspeita é a companheira dela, Sabrina Amaro, 33, que teria confessado o crime em mensagens de WhatsApp enviadas à própria mãe. Sabrina continua foragida.
Em julho, Vanessa Sabino, 30, morreu depois de ser agredida com uma garrafa de cerveja e uma panela de pressão pelo companheiro, de quem estava se separando. Ela teve o rosto desfigurado pelas agressões. Sua filha, de 14 anos, também foi agredida. Moisés Augusto Dias de Oliveira, 32, o agressor, foi preso no dia 2 de agosto, em Barra do Piraí, e ainda aguarda julgamento.
Outra mulher, assassinada no mês passado, pode ser mais uma vítima de feminicídio em Barra Mansa. Trata-se de Renata Aparecida Silva, 34, encontrada morta no bairro São Luiz, mesmo local onde morava. Ela foi encontrada seminua. A família afirma que Renata trabalhava e cuidava de uma filha de 14 anos, e não teria envolvimento com drogas ou mesmo inimizades. Morreu sufocada, com areia, e teria sofrido pancadas na cabeça, de acordo com o laudo da necropsia. Nenhum suspeito foi preso até o momento.
Tem ainda o caso da mulher, não identificada, que teria sido vítima de tentativa de feminicídio em março último. Ela, que mora na Vila Coringa, teria sido agredida a facadas e o agressor seria seu próprio companheiro. Ele foi preso, embriagado, logo depois do crime, e confessou a ação aos policiais, conforme registro na 90a Delegacia de Barra Mansa.
Perfil das vítimas
O Dossiê Mulher 2019, publicado este ano pelo ISP-RJ, mostra qual o perfil das vítimas de estupro em Barra Mansa, de acordo com os casos registrados em 2018 – 41 no total. A maior parte das vítimas (59%) tinha até 17 anos, com predominância de meninas entre 12 e 17 anos (32% dos casos). Independente da idade das vítimas, praticamente 70% dos casos aconteceu dentro de casa. A maior parte dos agressores seria conhecida da vítima: seriam companheiros ou ex-companheiros (17%), amigos ou vizinhos (5%), padrasto ou madrasta (12%), pai ou mãe (9,8%), ou outro parente (9,8%).
Mas o perfil das vítimas e seus agressores em Barra Mansa não é muito diferente do registrado em outros locais do estado. Na conclusão do Dossiê Mulher, as autoridades de segurança e especialistas salientam que a violência sexual contra a mulher, em geral, é cometida em relações íntimas e familiares, e que um dos aspectos mais perversos disto é que a proximidade entre agressores e vítimas torna possível que o abuso seja recorrente. Outro ponto é a presença dos filhos no local das agressões em 35% dos casos denunciados, em todo o estado.
O relatório também salienta que a violência sexual contra a mulher não obedece a nenhum padrão em termos de renda, ou distribuição espacial: os casos acontecem igualmente em comunidades de baixa renda e bairros de luxo, no interior e na capital.
Os dados do ISP-RJ apontam ainda uma tendência de aumento dos crimes contra a mulher em Barra Mansa, que é a quinta cidade no estado com maior número de vítimas nos últimos cinco anos. Além disso, a série histórica mostra que houve uma queda no número de estupros entre 2014 e 2016, mas a partir de 2017 os números voltaram a aumentar, uma tendência que continua em 2019.