quinta-feira, março 28, 2024
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Roberto Marinho

Todo mês, o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ) divulga as estatísticas da violência pelo estado, com o número de ocorrências de cada crime em todas 92 cidades fluminenses. Os dados são coletados junto às delegacias de Polícia Civil, e os leitores do aQui já estão acostumados com as reportagens que o jornal publica a respeito dos números da violência em Volta Redonda. Também sabem que a pandemia – e o consequente isolamento social – alterou o perfil da criminalidade nas duas cidades, com a diminuição de alguns crimes e o aumento de outros.
O que poucos sabem é que o último estudo do ISP-RJ comprova que a Covid-19 mudou a face da violência, mas não ajudou a diminuí-la. Para chegar à essa conclusão, os especialistas do instituto compararam a série histórica de diversos crimes com um modelo de previsão sem a ocorrência da pandemia e do isolamento social. E descobriram que os índices reais apresentaram pouca diferença em relação ao que foi previsto no modelo comparativo.
Os técnicos do ISP-RJ avaliaram que os crimes analisados – homicídios, roubo de cargas, veículos, entre outros – já vinham apresentando tendência de queda, que não foi muito alterada pelo isolamento social. Eles também compararam o estudo com outros semelhantes, realizados em diversos países do mundo – nos EUA, Canadá e Austrália – que mostram resultados parecidos. “O estudo conclui, portanto, que é possível considerar que as políticas adotadas no âmbito da segurança pública tiveram papel importante para os resultados dos indicadores”, defende o relatório do órgão.
Os números em Volta Redonda comprovam a tese e mostram que alguns tipos de crime tiveram um crescimento quase exponencial na pandemia. É o caso, por exemplo, do estelionato, que com 896 ocorrências registradas em 2020, alcançou quase o dobro da média registrada nos seis anos anteriores – em torno de 480 ocorrências por ano, com exceção de 2019, que registrou 612 casos. Uma das explicações, segundo especialistas de segurança pública, é o aumento do número de transações comerciais pela internet, o que também fez crescer o número de golpes virtuais.
Os casos de estupro, que vinham apresentando tendência de queda desde 2017, também registraram aumento em 2020. Em 2017 foram 66 casos, em 2018 os casos chegaram a 59 ocorrências, e 2019 apenas 49 casos. Em 2020 houve o registro de 52 casos. Para além da frieza dos números, é importante destacar que são mais de quatro mulheres, jovens ou crianças, sofrendo violência sexual por mês na cidade do aço.
Segundo outros estudos do ISP-RJ, o isolamento social acabou acentuando a convivência das vítimas de agressão sexual com os abusadores, uma vez que maioria dos casos – cerca de 72% – ocorrem dentro de casa, tendo como maior parte das vítimas (72%) crianças entre 1 ano incompleto e 17 anos.

Homicídio doloso
Os homicídios dolosos também apresentaram pouca alteração em Volta Redonda por causa da pandemia, reforçando a tese dos técnicos do ISP-RJ. Desde 2017 – com 63 casos registrados – o número de assassinatos vinha aumentando, chegando ao pico de 89 ocorrências em 2019. Mas em 2020 foram registrados 70 homicídios na cidade, praticamente o mesmo número de 2018 (72 mortes). Ou seja, a Covid não freou os assassinatos na cidade, se for feita uma comparação com a série histórica. Outro crime que a pandemia não diminuiu foram os roubos a estabelecimentos comerciais, que seguem em alta desde 2018, com 34 casos. Em 2019, foram 56 ocorrências, e em 2020 – já na pandemia e com isolamento social – o número de casos chegou a 64.
Entre os chamados indicadores estratégicos da violência – além dos homicídios, roubos de carga, veículos e transeuntes – também foi verificada uma tendência de queda que já ocorria antes da pandemia. No caso do roubo de cargas, após uma ligeira alta em 2019 (oito casos), em 2020 foram registradas três ocorrências, pouco mais que o ocorrido em 2018 (cinco casos). O roubo de veículos apresentou a mesma tendência, com uma alta em 2019 – 59 ocorrências -e uma pequena redução para 50 casos registrados em 2020.
Já o roubo de rua registrou uma forte queda, com 216 ocorrências. O número é próximo ao registrado em 2014, quando houve 210 registros. Entre 2016 e 2019, esse tipo de crime teve em média 400 ocorrências, praticamente o dobro do registrado no ano passado. Segundo os especialistas, esse é o chamado ‘crime de oportunidade’ e dependeria da circulação de pessoas nas ruas. Com o isolamento social, diminuiu a quantidade de transeuntes e, portanto, as chances para os criminosos.

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