
Pelo calendário de datas especiais de 2020, daqui a exatos 15 dias, em 10 de maio, os brasileiros terão um ‘Dia das Mães’ diferente, como nunca imaginaram na vida. Muitos nem irão comemorar, afinal, é tempo de pandemia provocada pela Covid-19. Sem contar que muitos nem pensam em sair para comprar algum presente, simplesmente por estarem acatando as regras do isolamento social. Ou melhor, por estarem sem dinheiro.” O Dia das Mães deve ser o Dia do Abraço”, teoriza um especialista da área de marketing.
Só que a previsão do marqueteiro pode não acontecer de forma completa. É que o governador Wilson Witzel e dezenas de prefeitos fluminenses, como Samuca Silva, de Volta Redonda, Rodrigo Drable, de Barra Mansa, e Ednardo Barbosa, de Pinheiral, entre outros, estão dispostos a permitir a reabertura das lojas nos municípios que comandam. E que comandavam com mão de ferro até então para desespero dos empresários locais. Dispostos a pressionar Samuca e Rodrigo, comerciantes saíram em passeata, promoveram buzinaços e, queiram ou não, dobraram os dois.
Tanto é verdade que, mesmo pressionados pelo MP, os prefeitos estão dispostos a aliviar o drama dos lojistas que passaram os últimos 30 dias sem ver a cor do dinheiro. Rodrigo foi o primeiro. Anunciou que o comércio de Barra Mansa, às vésperas do Dia das Mães, poderá reabrir a partir de segunda, 27. Isso se conseguir derrubar a liminar que a Justiça concedeu ao MP impedindo a reabertura das lojas.
“A decisão judicial (contra a reabertura das lojas) vai ser cumprida. Mas eu vou questionar”, sentenciou ontem pela amanhã durante entrevista a Dário de Paula. “A condição (acordada com o MP, grifo nosso) era que eu mantivesse as restrições ´(decreto ainda em vigor) e eu mantive. Mas temos que rever isso. A gente tem que trabalhar. Se piorar, se perdermos leitos, se sobrecarregar a rede, fechamos tudo de novo. Mas temos que trabalhar”, ponderou, de forma irritada.
Reiterando que a procuradoria do município vai recorrer da decisão favorável ao MP, Rodrigo insiste que o melhor a fazer é permitir a reabertura das lojas. “Eu entendo a necessidade de nós voltarmos a funcionar. Só um inconsequente não dá apoio para a retomada do trabalho. Só não foi feito antes, porque não tinha estrutura. Agora, temos estrutura”, declarou, deixando no ar que espera apoio até dos moradores. “Há possibilidade de fazer um recurso (na Justiça) com apoio da população. Eu vou insistir nisso”, prometeu.
Não satisfeito, Rodrigo comparou o caso de Barra Mansa com de cidades vizinhas para defender a tese de que tem que reabrir o comércio. Mas não citou nomes. “A realidade de Barra Mansa é muito melhor do que a de cidades ao redor. Eu tive uma morte, mas foi uma morte. Tem cidades que morreram dezenas de pessoas. Então, eu fico pensando: se Barra Mansa, que fez o dever de casa, não pode abrir (as lojas), imagina as cidades que estão com muitos casos. Quando isso vai abrir? Em 2022?”, ironizou.
Repercussão
A posição de Rodrigo Drable foi criticada, indiretamente, por Samuca Silva, prefeito de Volta Redonda. Aliás, os dois vivem em atrito desde que foram eleitos. Em entrevista a Dário de Paula na manhã de terça, 22, Samuca foi curto e grosso: ”Não vou fechar (criar) qualquer barreira para outra cidade”, disse, sem citar o nome de Rodrigo. “Isso é desproporcional”, completou, lembrando que a região já vive isolada da região metropolitana do Rio de Janeiro e de todos os estados que têm casos confirmados da Covid-19.
“O livre fluxo entre Pinheiral, Barra Mansa e Volta Redonda, sob o ponto de vista de Volta Redonda, tem que ser mantido porque nós atendemos várias pessoas da região. Recebemos gente de Barra do Piraí, Barra Mansa, Nova Iguaçu, Paracambi…”, citou, esquecendo que quem é de Nova Iguaçu não pode entrar na cidade do aço, nem em Barra Mansa, conforme decreto do governador Wilson Witzel.
Mesmo assim, Samuca foi além. “Recebemos gente de tudo que é local, gente que vem para a nossa rede de saúde, pública e privada. Então, eu não tomarei qualquer medida que possa prejudicar o povo do Sul Fluminense. Entendo da responsabilidade de Volta Redonda em nível regional”, justificou, mostrando claramente que estava contra o isolamento de Barra Mansa.
E, como Rodrigo, Samuca anunciou estar disposto a permitir a reabertura do comércio em Volta Redonda, o que deverá ocorrer já a partir do dia 4 de maio. Para que isso ocorra, Samuca fez um acordo com o MP para que a flexibilização ocorra por etapas (ver matéria na página 12). Detalhe: ela poderá voltar a estaca zero. “Se houver o aumento dos casos (da Covid-19), nós vamos fechar o comércio imediatamente”, destacou, lembrando o MP impôs uma série de exigências para permitir a reabertura das lojas como um todo.
Samuca voltou a citar que a prefeitura de Volta Redonda é réu em uma ação judicial (que corre em segredo de Justiça, sabe-se lá por quê) e que depende da assinatura do acordo firmado, na quarta, 23, com o promotor Leonardo Yukio Kataoka para pôr fim à pendenga judicial. ”Eu tenho uma sentença, respeito e concordo, inclusive, com as medidas impostas. Se não fossem elas, nós hoje estaríamos com um caos na nossa rede”, alegou, garantindo que não será levado a tomar qualquer atitude que coloque em risco a vida dos moradores de Volta Redonda.
“Ninguém vai levar o prefeito (ele) a tomar uma decisão irresponsável. Eu não vou tomar essa decisão (reabrir as lojas) sem base técnica e sem critério de transparência para todo mundo”, pontuou antes de ir ao encontro com o promotor do MP. ”Nós discutimos a proposta em bases técnicas, reais. Faltam detalhes para assinarmos o acordo para promovermos a flexibilização do comércio a partir do dia 4 de maio”, acrescentou. ”Nossa vida nunca mais vai ser normal até que se descubra uma vacina (para a Covid-19). Subiu (casos de corona-vírus), fecha (comércio) no outro dia automaticamente”, ressaltou.
Procurando dividir responsabilidades, Samuca deixou um recado a empresários e moradores de Volta Redonda para que a reabertura do comércio aconteça já a partir do dia 27. ”Vamos dividir essa responsabilidade com toda a sociedade. Todo mundo vai ter que fazer sua parte senão o comércio vai voltar a ficar fechado”, ameaçou, fazendo questão de expressar sua opinião. “Dizer que eu concordo, eu não concordo. E só vou abrir o comércio com base técnica”, disparou, garantindo que as regras para a reabertura ainda serão detalhadas.
Barreiras
Na manhã de quarta, 22, contando com a reabertura das lojas, a Guarda Municipal montou barreiras para impedir o acesso de veículos de outros municípios a Barra Mansa. Elas estão funcionando em cinco pontos estratégicos: na Avenida Dário Aragão, na Estamparia; na Avenida Presidente Kennedy, no Ano Bom; na Avenida Amaral Peixoto, na Bocaininha; na Rua Albo Chiesse, no Centro; e na Rua José Hipólito, na Cotiara.
De acordo com o comandante da GM, Joel Valcir, cada barreira conta com três agentes. Segundo ele, os cidadãos que moram em Barra Mansa e precisam sair do município devem apresentar ”comprovante de residência emitido por concessionários de serviço público, documento do veículo comprovando o licenciamento no município ou carteira nacional de habilitação emitida no município”. Os veículos coletivos e os de cargas destinadas ao comércio local não serão barrados.