Por Vinícius de Oliveira

Responsáveis pelo ingresso de três em cada quatro alunos de graduação no país, as instituições privadas de Ensino Superior encontram-se em um labirinto. Pela primeira vez, desde 1991, os dados aprofundados sobre faculdades, centros universitários e universidades brasileiras, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), referentes a 2016, mostram que o número total de matrículas nos cursos presenciais diminuiu.
Quem também observou o fenômeno foi o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). A partir de uma pesquisa realizada recentemente com 99 instituições do país, o órgão identificou que os números de matrícula mantêm queda vertiginosa. Desde 2015, com o fato se repetindo em 2016 e 2017, anos de baixo crescimento da economia, as instituições privadas que oferecem cursos presenciais sofrem com a perda de calouros. O acumulado, desde então, passa dos 20%.
Por aqui, pode-se dizer que o Centro Universitário de Barra Mansa é a prova viva da crise que se abateu sobre o ensino superior privado no Brasil. Hoje, o UBM, que chegou a ser uma das instituições mais importantes do Sul Fluminense, vive sob a ameaça de falência e seus mantenedores precisam fazer malabarismos para manter funcionando o que ainda resta da antiga Sobeu (Associação Barramansense de Ensino).
Poucos observaram, mas os sinais da crise já se manifestaram em 2018 quando os professores do UBM ficaram sem salário por três meses, além de terem levado calote com o pagamento do 13° e férias. Após semanas de negociação, o corpo docente, representado pelo Sindicato dos Professores (Sinpro) chegou a decretar greve. Cruzaram os braços por 15 dias, até que um acordo foi fechado. A instituição prometeu pagar 50% do que devia e o restante seria quitado em seis vezes.
Os problemas dos professores aparentemente foram resolvidos, mas não o do UBM. Estrangulada por dívidas, há algumas semanas a instituição anunciou o impensado: o fechamento do campus Cicuta, em Volta Redonda, onde eram ministrados cursos de graduação com temática de tecnologia e automação. À imprensa, os mantenedores do UBM explicaram que “em razão dos elevados custos de operação, o campus Cicuta não funcionará mais a partir de 2020.”
Não é bem assim. Na verdade, o anúncio não passa de um eufemismo para minimizar o desastre financeiro. Acontece que a instituição deve à CBS (Caixa Beneficente dos Empregados), dona do imóvel onde funciona o campus Cicuta, mais de R$ 3 milhões em aluguel. E, para quem não se lembra, a juíza da 3ª Vara Cível de Barra Mansa, Flávia Fernandes de Melo Balieiro Diniz, determinou, no mês de agosto, que o UBM deveria desocupar voluntariamente a área até julho de 2020 ou no término do primeiro semestre letivo do mesmo ano, sob pena de despejo compulsório. A ação foi movida pela própria CBS.
Na nota enviada à imprensa, o UBM explicou que os alunos da Cicuta “serão realocados e, a partir de então, todos os cursos serão oferecidos no Campus Barra Mansa”. E, a fim de amenizar o estrago, disse ainda que a instituição vai lançar, em janeiro de 2020, uma unidade de Pós-Graduação e Extensão na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda. “As atividades terão início ao longo do ano que vem, com previsão de aberturas de turmas em abril. Nosso objetivo é oferecer cursos baseados na demanda do mercado da região, com conteúdos inovadores e utilização de laboratórios virtuais”, comentou o novo coordenador de pós-graduação do UBM, Deyvison Nascimento.
A nota diz ainda que o centro universitário barra-mansense pretende promover em Volta Redonda atualizações do mercado com pós-graduação. “Parte dessas novidades serão cursos como Sistemas de Telecomunicações, Tecnologia de Banco de Dados e Financial Banking, que já estão confirmados para a nova Pós-Graduação do UBM”, avisou. Detalhe: até hoje, quase um mês depois, o UBM ainda não informou onde vai abrir as portas na cidade do aço.
Para que isso dê certo, o UBM precisa voltar a atrair calouros. O que não tem sido tarefa fácil. De acordo com uma fonte ligada ao UBM, o calcanhar de Aquiles tem sido os cursos de Engenharia. “Esse tipo de curso, as engenharias, só são lucro com desenvolvimento econômico. Não é o que tem acontecido nos últimos anos. E não deve melhorar tão cedo mediante o governo Bolsonaro, que ainda não conseguiu fazer o Brasil voltar a crescer”, analisou.
No desespero de pagar as contas, o UBM lançou mão da criatividade e está entregando de bandeja as vagas para possíveis calouros através do vestibular online. Nesta modalidade, o candidato pode fazer a prova onde e quando preferir, sem precisar ir até a instituição. “Além de facilitar a inscrição, a prova on-line também tem o objetivo de melhorar a experiência do estudante nesta etapa da vida, que já envolve muita tensão e preparação para se tornar um universitário. O UBM disponibiliza, ainda, a inscrição com a nota obtida no Enem – outra modalidade dinâmica e rápida do Vestibular UBM”, explicou a instituição.
A estratégia não caiu bem no meio educacional. “O UBM está criando o vestibular do ‘já passei’. Antigamente, a Sobeu chegou a ser conhecida pelo ‘pagou, passou’”, ironiza uma fonte, referindo-se ao passado quando um anúncio veiculado na capital ficou famoso pelo fato de a empresa contratante ter restringido as inscrições de formados na faculdade barramansense.
Verdadeiro ou não, o fato é que o vestibular pela internet pode viralizar. “Como é que um internauta vai ser reprovado em um vestibular que ele pode fazer a prova em casa, longe de tudo, de todos e perto, bem perto, do doutor Google?”, completa a fonte, apresentando uma sugestão: “que a instituição (UBM) ofereça 200 novas vagas para os 200 primeiros que se inscreverem pela internet. Sem vestibular, sem prova. Do 201 em diante, ficariam em uma fila de espera. Seria mais fácil”, avaliou. Ela pode ter razão.