Por Pollyanna Xavier
A Companhia Siderúrgica Nacional trocou Volta Redonda por Taubaté e está levando para a
cidade do Médio Paraíba Paulista uma unidade da Metalúrgica Prada. Para quem não se lembra, a subsidiária da CSN do ramo de latas e embalagens de aço era uma das
oito empresas cotadíssimas para se instalar no Polo Metalmecânico que o exprefeito Samuca Silva e Benjamin Steinbruch anunciaram para Volta Redonda, no final de
2018. O projeto nunca saiu do papel. Nem mesmo a aprovação de uma lei estadual que
garante a redução do ICMS para produtos do setor aço e a viabilização de um terreno às
margens da Via Dutra para a instalação do Polo foram suficientes para garantir a empreitada.
Em 2020, a maioria das empresas que assinaram o protocolo de intenções para se instalar
no Polo Metalmecânico desistiu do negócio. Ao aQui, cinco delas disseram que adiariam os planos em função da pandemia. Mas depois disto, nunca mais retomaram as negociações. Duas optaram por Minas Gerais, onde a alíquota do ICMS é alta, podendo chegar a 18%
dependendo do produto e da operação. Na época, a CSN chegou a dizer que não tinha desistido de instalar a Prada em Volta Redonda e que a cidade continuava no radar do
grupo, até pela proximidade com a UPV, com o porto de Itaguaí e, principalmente, com os mercados do Rio e São Paulo.
No final de dezembro de 2022, Benjamin Steinbruch esteve com investidores e analistas de mercado e revelou as estratégias de crescimento da CSN para 2023. Destacou a intenção de “criar novos negócios dentro dos que já existem” e avisou que “diluiria os cinco ativos (siderurgia, mineração, cimentos, energia e logística) e os transformaria em empresas independentes, com CNPJ próprio”. Por fim, informou que procuraria “oportunidades internas com o objetivo de reduzir custos através de novos negócios correlatos”.
E foi justamente isso que a CSN começou a executar. O grupo pediu – e conseguiu – a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para instalar uma unidade da Companhia Metalúrgica Prada Embalagens em Taubaté.
A autorização foi publicada no Diário Oficial da União de quarta, 29, e, graças a isso, a CSN segue com o projeto e as negociações necessárias para a nova unidade. A Prada será instalada em uma área da antiga fábrica de motores da Ford, em um galpão de 105 mil m², que foi adquirido pela Construtora São José Desenvolvimento Imobiliário, no Parque do Senhor do Bonfim, em Taubaté. Em documentos públicos obtidos pelo aQui
junto ao Cade, consta a informação de que a CSN, na verdade, pediu autorização para a aquisição de 50% do galpão da Construtora São José, e a locação da outra metade a partir de um contrato chamado de built-to-suit (BTS).
Neste modelo, o locador constrói ou reforma substancialmente determinado imóvel de sua propriedade para ser utilizado pelo locatário, em longo prazo, de acordo com as necessidades empresariais preestabelecidas em contrato. O valor do aluguel não foi divulgado, muito menos a vigência do contrato. Mas a CSN deixou claro ao Cade que pretende reunir nesse galpão todas as unidades da Prada Embalagens espalhadas
no Brasil.
Na prática, isto significa que a CSN poderá levar para Taubaté as linhas de montagem, estamxparia e litografia de Prada de Resende (RJ), Uberlândia (MG) e ainda a de Pelotas,
no Rio Grande do Sul. “A CSN esclareceu que a Companhia Metalúrgica Prada pretende consolidar parte de suas atividades operacionais (que atualmente estão espalhadas em
diferentes unidades e estados da federação) em um único local, isto é, nos imóveis objeto da presente operação”, informa um dos ofícios referentes ao processo que tramita no
Cade. Consta ainda que a CSN e a São José Empreendimentos passariam a ser coproprietárias do galpão, e os 50% da CSN poderiam abrigar não apenas as unidades fabris da Prada, como também serviria para sublocação, inserindo a CSN no mercado imobiliário. A empreitada é uma mostra do que Benjamin Steinbruch chamou de “negócios correlatos”.
Todos os detalhes da empreitada, valores, prazos e outras informações estratégicas são mantidas sob sigilo. A publicidade, porém, está no fato de que as empresas conseguiram cumprir todos os requisitos e exigências do Cade e obtiveram a aprovação para prosseguir
com o negócio.
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À imprensa, a CSN não divulgou que será a Prada, a subsidiária que irá para Taubaté. Mas nos documentos oficiais do Cade, a siderúrgica cita claramente o nome da metalúrgica especializada na produção de latas e embalagens de aço. Outra prova de que se trata da
Prada foi o anúncio, com foto, feito pelo prefeito de Taubaté, José Antônio
Saud. Na imagem divulgada tanto nas redes sociais quanto nos jornais, aparecem alguns
executivos da CSN, dentre eles, Roberta Santana, diretora de Planejamento da Prada Embalagens. O valor global do investimento – que inclui a aquisição de metade do
galpão, o aluguel da outra parte, além da montagem do parque industrial e da transferência das unidades da Prada fora de SP – não foi divulgado. Mas estimase que será da ordem de 100 milhões e deverá gerar mil empregos diretos.
Outra informação que requer maior apuração é quanto ao início das operações, previstas para 2024. Vale ressaltar que a escolha da CSN por Taubaté não foi por acaso. A cidade está no eixo Rio-São Paulo e já abriga uma das maiores concorrentes da CSN no país: a Usiminas.
Visita técnica
Desde 1° de março, quando a CSN abriu processo administrativo no Cade para a aprovação dos investimentos em Taubaté, diretores da CSN passaram a visitar o município paulista com mais frequência. Numa dessas visitas, se encontraram com o prefeito José Antônio
Saud, confirmaram a instalação da Prada no município. Ao prefeito, os executivos da CSN (ver foto) falaram em números: serão R$ 60 milhões na implantação da Prada com a geração de mil empregos. “A chegada da CSN será um marco para a economia
local e para a geração de empregos”, comemorou Saud em suas redes sociais.