Pollyanna Xavier
Oficialmente, a corrida eleitoral para o maior sindicato do Sul Fluminense – o dos Metalúrgicos – começou na segunda, 27. Foi neste dia que o Ministério Público do Trabalho homologou as três chapas inscritas, independente das irregularidades apresentadas. Estão no páreo: Jovelino José Juffo, líder da Chapa 1; Edimar Miguel Pereira Leite, da Chapa 2; e Vitor Raymundo Junior, o Vitor Véio, da Chapa 3, que brigam entre si pelo status de oposição tanto a Silvio Campos, atual presidente do órgão, quanto à CSN, a quem acusam de estar sempre agindo contra os operários da Usina Presidente Vargas.
O processo eleitoral, iniciado em maio e que deve terminar no final deste mês, se não for judicializado, foi sufocado por várias tentativas de impugnação dos membros e até de chapas inteiras. A de Edimar, por exemplo, foi acusada tanto pela chapa 1 quanto pela 3 de tentar aplicar um golpe para ficar como chapa única e, assim, ser proclamada vitoriosa. Há vários episódios que indicam isto. Um deles foi o pedido para que o grupo de Jovelino não pudesse participar das eleições porque o Sindicato dos Metalúrgicos não teria sido transparente nas contas do órgão, desde 2010.
Tem mais. Edimar Miguel deu uma de ‘migué’ tentando excluir a chapa de Véio alegando que Vitor seria um ex-metalúrgico, demitido da CSN há quase cinco anos, e não teria qualquer vínculo com o sindicato. Outra tentativa da chapa 2 para se eleger sem ter adversários (chapa única) foi o pedido de impugnação de oito integrantes da Chapa 3, sob a justificativa de não serem associados ao Sindicato e um deles ser inativo – o que ultrapassaria o número máximo de aposentados inscritos na chapa.
“Eles tentaram de todas as formas nos derrubar, mas eu fiz as substituições devidas e regularizamos toda a documentação. A chapa 3 está apta para continuar no pleito, tanto que foi homologada pelo MPT”, comemora Vitor Véio, que, ao avaliar os argumentos da Chapa 2 contra sua chapa, afirma que eles não foram fundamentados. Pior, esbarra em questões que a própria chapa de Edimar vivenciou, como a inscrição de ex-metalúrgicos da CSN, que também deixaram de ser associados ao Sindicato, mas que tentam manter o vínculo através de uma ação judicial de reintegração.
Para Vitor isto ficou claro quando Edimar justificou a inscrição de membros que foram demitidos da UPV, em abril, com base em uma liminar concedida pela Justiça do Trabalho e que foi derrubada pela CSN. “É de se estranhar que a Chapa 2 só teve um nome impugnado. A chapa 1 fez um pedido de impugnação de diversos candidatos da chapa 2, demitidos em abril. Nós também fizemos esse pedido. Mas a Comissão não aceitou alegando a existência da liminar. Mas essa liminar que eles falam era aquela que foi cassada pela CSN na corregedoria do Trabalho. Por isto eu digo que houve favorecimento da Comissão em benefício da chapa 2”, reclama Vitor.
Integrantes da Chapa 1, de Jovelino, também concordam que a Comissão teria agido com parcialidade para favorecer o grupo de Edimar. E o episódio que teria deixado isto evidente teria sido o pedido – acolhido pela Comissão – de que a chapa 1 deveria ser impugnada porque o comando do Sindicato não teria dado transparência às contas do órgão desde 2010. A Comissão, segundo documentos a que o aQui teve acesso, teria passado por cima de duas questões importantes ao acolher o pedido de impugnação da via de Jovelino.
A primeira é que não cabe ao líder da chapa 1, Jovelino, ou aos seus membros da sua chapa, prestar conta dos balanços financeiros do Sindicato, e sim ao próprio presidente, Silvio Campos. A segunda é que o Estatuto do órgão, apesar de determinar a obrigatoriedade da prestação de contas, em nenhum momento prevê punição para a diretoria que deixa de fazer isto. “Houve uma jogadinha ensaiada de tirar a chapa 1 (do pleito), mesmo estando certos”, avaliou uma fonte do jornal.
A suposta parcialidade da Comissão Eleitoral pró-Edimar foi objeto de reclamação no MPT. O órgão, porém, não visualizou o vício. Na segunda, 27, os procuradores Priscila Moreto de Paula, Ronaldo Lima dos Santos e Jefferson Luiz Maciel Rodrigues entenderam que não houve prejuízo na lisura do processo eleitoral e afastaram, por falta de provas, a denúncia de parcialidade. “Não prospera a arguição de afastamento dos membros da Comissão Eleitoral, sobre suposta parcialidade, por falta de elementos materiais de autoria e materialidade”, decidiram.
Na mesma reunião, os procuradores indeferiram os pedidos de impugnação das chapas e mantiveram as três vias nas eleições. A decisão acabou transferindo para o trabalhador, que deverá decidir – no voto – qual grupo é o mais capacitado para representá-lo nos próximos quatro anos à frente do Sindicato. As eleições acontecem entre os dias 26 e 28 de julho.
Demissões
Para uma fonte do aQui, a Chapa 2, de Edimar Miguel, além de tentar aplicar o golpe da chapa única, será lembrada pelos seus concorrentes como aquela que provocou a demissão de cerca de 200 trabalhadores da CSN quando usaram as negociações do acordo coletivo como palco para as eleições do Sindicato. A interferência não caiu bem. Atrasou tudo e o peão ficou à espera do reajuste salarial e do pagamento do abono. “Essa é a oposição que está aí. Arrastaram dezenas de trabalhadores para uma paralisação na ambição de montar uma chapa e são responsáveis por dezenas de demissões”, observa a fonte, acrescentando que o grupo de oposição corre o risco de rachar, caso consiga chegar ao Sindicato. “Eles nunca conseguiram montar uma chapa completa. Estão na oposição há 10 anos e sempre usaram a Justiça para conseguir as coisas. Armam e vão para a Justiça”, criticou a fonte, que pede que seu nome não seja revelado.
Ela tem razão. Uma pesquisa realizada pelo aQui constatou que só no nome de Edimar Miguel, líder da Chapa 2, existem pelo menos 11 processos contra o Sindicato dos Metalúrgicos ou contra a CSN. Quatro deles só em 2022. São ações que vão desde o pedido de prestação de contas, passando por interditos proibitórios até a reintegração à UPV. Na maioria, o nome de Tarcísio Xavier Pereira, que seria o mentor intelectual da oposição, aparece como advogado de Edimar.
Curiosamente, Tarcísio não integra a Chapa 2, mesmo sendo figura atuante no meio sindical há uns 20 anos. Ele, porém, esteve por trás das manifestações ocorridas recentemente na CSN e que motivaram as 200 demissões. Para outra fonte do aQui, apesar de Tarcísio não estar na Chapa 2, ele teria a promessa de assumir o departamento jurídico do Sindicato, caso vençam as eleições. “Eu diria que até mesmo as decisões do presidente serão influenciadas por ele, que não aguentará a interferência por muito tempo e um racha poderá acontecer ainda no primeiro ano do mandato. O cenário indica isto e o histórico sindical também”, lembrou a fonte, demonstrando preocupação com os rumos do maior sindicato do sul fluminense.