Nas ondas

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Na terça, 17, o prefeito Samuca Silva ocupou o microfone do programa Fato Popular, da Rádio 88,7, comandado por Betinho Albertassi. Quase no mesmo horário, na Rádio 96,1, o presidente da Câmara, vereador Neném, era entrevistado por Dário de Paula. Os dois inimigos voltaram a se estranhar. O parlamentar contou até que vai pedir proteção policial. Por temer pela sua vida. “Vou sair (da emissora) e vou conversar com meu advogado para que entre, ainda hoje, com um pedido de proteção na Polícia Militar, Civil e Federal” anunciou. “Volta Redonda tá parecendo uma cidade da Baixada, onde acontece esse tipo de coisa”, acrescentou, referindo-se ao escândalo que tomou conta do meio político em torno da possível ‘extorsão’ do vereador Paulinho do Raio-X ,  contra Samuca.

Neném foi além. “Proteção porque eu tenho 1.400 pessoas no meu WhatsApp e hoje estão me ligando pessoas – que não tô atendendo porque não estão no meu WhatsApp. Minha família está muito preocupada comigo porque eu ando sozinho e chego muito tarde em casa. Então, hoje eu vou sair daqui e vou no advogado pra ele fazer essa petição (de proteção) pra dar entrada nesses três órgãos (da polícia). E a vida que segue”, pontuou.

Neném tentou deixar claro, na entrevista a Dário, que Samuca sabia o que estava fazendo. “Quero deixar bem claro às pessoas que me conhecem, que são de Volta Redonda e do meu bairro, e que me abraçam, choram e acreditam em mim, que em momento algum eu podia ter participado de um esquema desses. Eu acho que pra acabar com a corrupção não é dessa forma.  Quando uma pessoa chega e te oferece um dinheiro, eu acho que você tem que aconselhar a pessoa. Não ficar incentivando”, disse, dando a entender que teria dado conselhos a Paulinho do Raio-X para não cair na história. “Quer tirar uma pessoa da droga, você tem que conversar com ela, mostrar que não é o caminho certo, não é o caminho de Deus. Da forma que foi feita (a extorsão), foi planejada, forjada. Isso (a denúncia) não quer dizer que a pessoa (prefeito) seja honesta, não. A pessoa foi calculista”, analisou, sempre se referindo a Samuca.

Para o presidente da Câmara, a estratégia tinha nome e endereço. “Eu tenho certeza que o Samuca quis fazer isso pra atingir uma pessoa só: o Antônio Francisco Neto (ex-prefeito), pois eu sou do grupo dele. Não tenho dúvida; a cidade toda não tem dúvida”, acredita Neném, indo além. “Eu sou amigo particular do Neto. Se a tentativa dele foi essa, ele deu com o burro nas águas (sic), porque o Neto confia muito em mim e eu confio nele”, comentou.

Nesse ponto da entrevista a Dário de Paula, o vereador aborda o possível envolvimento de outras pessoas do Palácio 17 de Julho. “Eu não consigo, eu não tenho coragem de participar de nenhum tipo de esquema dessa forma. E vou além, Dário, vou além… a Câmara vive de fofocas. Quem vai ter que se explicar à justiça é o Samuca, porque da mesma forma que eu não acredito que o Paulinho do Raio-X possa ter ligado pra ele pedindo dinheiro, nem o Samuca tenha ligado pra ele pedir dinheiro”, disse de forma truncada, bem truncada.

O que Neném poderia estar dando a entender é que os dois protagonistas do caso – Samuca e Paulinho do Raio-X – teriam sido envolvidos em um grande quiproquó – político e criminal. “Teve algum intermediário e isso tá no processo. Eu não vou falar o nome do assessor que começou isso porque eu não quero ser leviano. Assessor do prefeito. Foi um assessor do prefeito que começou isso. Ele intermediou essa situação desagradável. No processo tem o nome dele (do assessor) e tem o nome do Rafael, que hoje nós acreditamos ser o Rafael Capomiriano (Capobiango, grifo nosso)”, comentou, referindo-se a um empresário que é assessor especial do Palácio 17 de Julho. “Isso são fofocas lá na Câmara”, acrescentou. “Dário, a justiça tem que pegar lá no começo, (ver) quem começou”, disse.

CPI

Conforme o aQui anunciou, com exclusividade, Neném contou a Dário de Paula que coube a ele escolher os integrantes da CPI do Samuca. “Nós indicamos, porque o regimento diz que eu tinha que indicar o presidente, o relator e o membro e ainda o suplente. Então, como o Rodrigo foi o autor do requerimento, ele ficou como presidente. O Dinho será o relator e o Fernando Martins, membro. O Buchecha é suplente”, disse.

Se depender apenas dele, Neném, o processo será rápido. “O Rodrigo pediu, em média, 60 dias, mas estamos pedindo que seja o mais rápido possível, porque é um caso de urgência. Tem que ser resolvido rápido. E eu acredito que, com 30 dias, vai estar solucionado”, crê.

Neném contou ainda que teve acesso ao processo – o da prisão de Paulinho do Raio-X – e que seus advogados já entraram com uma interpelação contra o prefeito Samuca e contra Paulinho do Raio-X. Quer que eles neguem ou confirmem o seu envolvimento. “Eu li o processo e dois itens chamam atenção,  e eu quero deixar claro pra população de Volta Redonda que aqui eu não quero pedir desculpa a ninguém. O Paulinho hora nenhuma falou de vereador nenhum. Quem falou de vereador foi o prefeito Samuca”, disse, dando alguns detalhes:

“Ele (Samuca) fala que no dia 29, ele teve um encontro com o Paulinho na Vila por volta de 10, 10h30min, entendeu? Não sei o que eles conversaram. Por volta do meio-dia, tiveram outro encontro e o Paulinho disse pra ele que tinha falado comigo. Dia 29, Dário, caiu num sábado. Eu cheguei de viagem na sexta-feira (28) e sábado, geralmente, eu passo no sítio. Lá meu telefone não pega, não pega em hipótese nenhuma. Lá é sem sinal. Isso é que eu quero deixar bem claro: não teve ligação nenhuma pra mim (de Paulinho). Eu, em hipótese nenhuma, podia ter contato com Samuca e Paulinho”, garantiu, passando a dizer do segundo item estranho, na opinião dele.

“O segundo item é que o Samuca diz que o Paulinho garantiu pra ele que teria um sinal do presidente da Câmara. Ele está falando do presidente da Câmara. O sinal que teria uma ligação (entre eles) seria de um requerimento. Eu falaria dele e esse seria o sinal que o Samuca teria certeza que eu tava participando e sabia”, contou, negando tudo a seguir: “Eu não ligo pro Samuca e ele não me liga também. Meu telefone tá aberto para a Justiça. Eu tenho até um outro telefone que tá consertando, mas tá à disposição da Justiça”, garantiu.

Ao encerrar, Neném voltou a criticar a postura dos seus velhos e novos desafetos. “Tudo muito estranho. O Paulinho garantiu pra ele (Samuca) que ia levar mais dois vereadores para segurar a base dele porque a base dele não tinha condições de segurar. Quer dizer, tem 16 pessoas na base e ele diz que não tem condições de segurar a base. Então, é uma coisa muito estranha dita por um parlamentar e por um prefeito. Eu nunca participei de qualquer coisa desse nível, principalmente sendo uma armação calculista, de gente com tempo pra fazer (armações)”, pontuou.

Sem povo

A crise política nos bastidores da Câmara de Volta Redonda será meio que abafada com as regras determinadas pela mesa diretora em virtude da pandemia do coronavírus. As sessões da Casa do Povo, por exemplo, só serão assistidas por assessores e jornalistas. “Não teremos o público que costuma ficar presente na Câmara, às quartas e sextas, A Câmara vai estar fechada”, anunciou Neném. “Compramos gel para todos os gabinetes”, apressou-se em divulgar. “Essa medida vai até o dia 31 de março”, finalizou. “As sessões serão às segundas, terças e quintas só com vereadores e assessores, e mesmo assim a gente diminuiu a assessoria. Tem gente (vereador) que trabalha com seis assessores e eu pedi pra que levem um ou dois assessores. De fora só jornalista, sem público”, determinou.