sexta-feira, março 29, 2024
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Justa homenagem

No início deste ano, mais especificamente no dia 7 de fevereiro, o bispo diocesano de Barra do Piraí/Volta Redonda, Don Luiz Henrique Henrique da Silva Brito, prestou uma homenagem a uma figura icônica da Cúria: concedeu ao padre Nobuo Sano o título de Monsenhor. Para quem não é muito ligado às questões religiosas do catolicismo, esta honraria – em extinção – é para poucos e eleva o sacerdote a um nível mais alto na hierarquia do clero, ficando abaixo, apenas, do bispo.
Nabuo Sano, de descendência japonesa, foi um dos mais atuantes na região Sul Fluminense. Próximo de completar 57 anos de batina, o religioso já viu de tudo na diocese. Trabalhou, inclusive, ao lado do falecido bispo emérito Don Waldyr Calheiros de Novaes que, em certa ocasião, chegou a avisar a Sano que este ficaria responsável pelo governo da Cúria caso fosse preso pelos militares da Ditadura, em 1964. Felizmente a prisão não aconteceu. Ao contrário, Don Waldyr conseguiu libertar presos políticos encarcerados pelo regime na sede do Exército, em Barra Mansa. E padre Sano nunca virou bispo.
Para alguns fiéis mais tradicionais, que comentam a questão pelos corredores da capela Santa Cecília, onde padre Sano ainda atua como líder religioso e de outras também, o título de Monsenhor concedido a ele é a reparação de uma injustiça histórica. Agora com 85 anos e de saúde frágil, Nabuo Sano, segundo as rigorosas leis canônicas da Igreja Católica, não poderia mais ser bispo (a regra é que estes se aposentem compulsoriamente aos 75 anos, grifo nosso). Embora tenha afirmado que, no tempo certo, teria aceitado a missão. “Se a Igreja me pedisse estarei à disposição para tudo. Mas, acho que agora não teria muita condição de ser bispo por conta da minha idade e limitações”, disse.
Padre Sano, em conversa exclusiva com o aQui, considera ter recebido um valioso prêmio das mãos de Luiz Henrique e do Papa Francisco. “Essa nomeação naturalmente é o bispo quem pede, em virtude dos anos de dedicação e de trabalho que sempre procurei ter, procurando ser fiel e obediente aos bispos, me mantendo em comunhão. Dom Luiz Henrique me deu a nomeação como se fosse um presentão para mim. Quero agradecer ao Papa pelo presente e também, sobretudo, agradeço profundamente ao nosso bispo dom Luiz Henrique que solicitou esse título para mim”, agradeceu.
O título de Monsenhor foi criado no século XVII pelo Papa Urbano VIII, com inúmeras classes (subtítulos) que foram posteriormente alargadas por seus sucessores e que tinham o único objetivo de garantir status e fidelidade de líderes religiosos ao bispo e ao próprio Papa. No entanto, em 1968, o Papa Paulo VI iniciou uma reforma dentro do catolicismo e limitou a conceção desta e de outras honrarias. Em 2014, já com Francisco à frente da Santa Sé e munido pelo desejo, em suas próprias palavras, de uma igreja mais humilde e próxima das pessoas, decidiu suprimir ainda mais os títulos. A intenção, segundo o santo Padre à época, é acabar com “o classismo e o espírito mundano” dentro da hierarquia eclesiástica. Não à toa, Sano sente-se orgulhoso do novo posto, mas afirma que pouca coisa muda na prática de sua vocação.
“Não existe na função e no ofício nenhuma diferença, só existe diferença nesse título honorífico, que o monsenhor tem e o sacerdote não. Além disso, a roupagem própria do Monsenhor é semelhante à do bispo, com a batina, a faixa e o barrete. A minha atuação será no mesmo lugar que já atuo: sigo na paróquia Santa Cecília como padre auxiliar ajudando meu pároco e na comunidade São José Operário, em Bárbara, em Barra Mansa, onde celebro as missas”, explicou o Monsenhor, que fez questão de dedicar o título à Deus. “Eu posso dizer que primeiro quero agradecer a Deus, pois quem me criou e me sustenta é Ele. Quem me chamou para esse ministério foi Jesus Cristo e eu tenho cumprido dentro das minhas possibilidades, apesar das minhas limitações, da melhor maneira possível o exercício desse ministério”.
Conhecido na Cúria como o padre fotógrafo por, quando ainda mais jovem levar pendurada no pescoço uma máquina fotográfica para todo canto que ia, Sano sempre transitou no alto clero enquanto defendia a ideia de unidade, acolhimento e respeito ao próximo. Para se ter uma ideia, ano passado, no dia 28 de janeiro, ele ficou responsável pela celebração da centésima missa da Diocese. Um marco importante para o catolicismo local. Na ocasião, usou a oportunidade para pregar na sua homilia que a Igreja tem o compromisso de ser um segundo lar para os fieis e não um lugar de exclusão. “A Igreja é justamente uma grande família, formada por aqueles que fazem a vontade do Pai Celestial”.

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