sábado, maio 18, 2024
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‘Garoto espevitado’

Por Roberto Marinho

O ginasta voltarredondense Caio Souza, de 25 anos, realizou uma façanha há duas semanas, no Pan-Americano disputado em Lima, no Peru, que ficará para sempre na história do esporte brasileiro: ele se tornou o primeiro atleta do Brasil a conseguir uma medalha de ouro na ginástica artística masculina – prova disputada em seis aparelhos, de forma individual. Ao lado do companheiro Arthur Nory, que ficou com a medalha de prata, Caio formou o ‘pódio dos sonhos’ da ginástica brasileira, de ter dois atletas como os mais completos das Américas. 

Mas o garoto, que saiu de Volta Redonda quando tinha apenas sete anos para treinar no Flamengo, tem uma bagagem sólida de várias conquistas internacionais, fruto de um trabalho iniciado na cidade do aço pelas mãos da professora Cláudia Delgado, que viu no garoto espevitado um grande potencial. “Foi ela que me disse que ele tinha talento, que deveríamos investir”, diz a mãe de Caio, dona Rosi, que ao lado de Cláudia viu o filho brilhar em Lima.

Ela não para. Garante que, além de talento, Caio tinha muita vontade de treinar e a ginástica nunca foi uma imposição da família. “As pessoas chegavam a falar pra mim: Nossa, é muito pra ele, tira ele dessa ginástica. E eu respondia que era dele, nunca forçamos nada, ele é quem pedia para ir treinar”, diz Rosi, orgulhosa da conquista do filho. “É uma emoção muito grande. Depois de tudo que ele passou, a quantidade de cirurgias – na coluna, quatro vezes nos pés, no joelho. Mas ficou só a felicidade, foi muito bom estar lá com ele, eu só queria abraçá-lo naquela hora”, conta orgulhosa.

E a vontade de Caio se mostrou forte como nunca quando, há dois meses e meio do início do Pan-Americano, o atleta foi obrigado a passar por uma cirurgia no tornozelo, o que poderia deixá-lo de fora da competição. Mas, com muito esforço e dedicação, Caio escreveu um novo capítulo na história da ginástica brasileira. Um capítulo que tem raízes em Volta Redonda.

Confira abaixo a entrevista exclusiva que Caio concedeu ao aQui por e-mail:

 

aQui: Qual foi a sensação de conquistar uma medalha de ouro inédita para o Brasil?

Caio Souza – Felicidade, gratidão, sensação de dever cumprido, de saber que tudo valeu a pena. Tudo bem na cabeça, a mudança de cidade, de estado, se abdicar de muitas coisas por esse sonho.

 

aQui: Algum dia, lá no começo, pensou que poderia chegar a ser um atleta olímpico?

Caio– Na verdade, eu nunca pensei em ser atleta olímpico, apenas aconteceu. Com os resultados, treinamentos. Não sei quando passei a ser um atleta olímpico.

 

aQui: O que representa para você a treinadora Cláudia Delgado, com quem começou na ginástica em Volta Redonda? Chegou a falar com ela depois da sua conquista?

Caio – Ela foi o início de uma jornada! Foi ela que disse para minha mãe que eu tinha talento e que valeria a pena o investimento. Conversei com ela um pouco lá em Lima, pois ela e minha mãe foram assistir o Pan. Ela ficou super feliz com tudo que aconteceu.

 

aQui: Você passou por contusões sérias – uma delas muito próxima do Pan – e diversas cirurgias ao longo da carreira. Onde encontrou forças para continuar sua trajetória?

Caio – O esporte em si já existe a possibilidade de lesão. Mas a chance de competir mais um Pan-Americano foi o que me deu forças para aguentar outra lesão. Operei o tornozelo esquerdo dois meses e meio antes do dia da competição. Foram muitos dias de trabalho fisioterápico, psicológico, técnico, nutricional, etc. para conseguir chegar da melhor forma na competição.

 

aQui: Com quantos anos você saiu de Volta Redonda para se dedicar exclusivamente ao esporte? E como foi essa mudança?

Caio – Com 7 anos eu me mudei para o Rio junto com meus pais e meu irmão (para treinar no Flamengo, grifo nosso), e com 10 anos me mudei para São Paulo, novamente junto com meus pais e meu irmão. Essa mudança pra mim foi normal, eu era uma criança e não entendia muito disso, porém foi bem difícil para os meus pais. Graças a Deus e ao esforço deles nunca me faltou nada, eles sempre tentaram fazer o melhor para mim e meu irmão.

 

aQui: Você tem uma carreira consolidada e diversos títulos internacionais, mas sem dúvidas, pelo ineditismo, esta medalha de ouro no Pan de Lima é especial. O que é diferente nessa conquista, além de todo o esforço na sua recuperação a pouco tempo do início das competições?

Caio – Na verdade, nada muda, só a vontade aumenta, de querer sempre subir na carreira! Hoje eu sou campeão Pan-Americano, porém ainda tenho muitos desafios e sonhos a alcançar.

 

aQui:  Qual a sua relação hoje com a cidade de Volta Redonda?

Caio – Minha família por parte de mãe mora em Volta Redonda; a do meu pai é do interior de Pernambuco. Meus pais estão morando muito próximo, então eu tento ir bastante a Volta Redonda para encontrar com eles, mas é um pouco difícil por conta dos treinos e competições.

 

aQui: Recebemos informações de que a procura nas escolinhas de ginástica na cidade aumentou depois do Pan. Como você se sente com isso, e que mensagem deixaria para uma criança ou jovem que gostaria de se dedicar à ginástica?

Caio – Isso é bastante gratificante, melhor do que qualquer resultado ou medalha, saber que o que eu estou fazendo está inspirando os jovens a procurar mais a modalidade. Isso me mostra que eu estou no caminho certo.

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