Fake news

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Por Roberto Marinho

Já em fevereiro, quando começaram a pipocar os primeiros casos confirmados da Covid-19, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que, além de combater a pandemia do coronavírus, a organização estaria bastante preocupada com a “infodemia”, que é a propagação rápida e alarmante de falsas notícias sobre a doença. A praga das ‘fake news’ é tão complexa de combater quanto o vírus que desafia os governos de todo o mundo, inclusive o do Brasil, que não está imune nem ao vírus nem às mentiras propagadas, principalmente, pelas redes sociais. 

As fake news não são exatamente uma novidade. Há décadas, os tablóides britânicos já exploravam notícias exageradas, imprecisas e falsas para atrair leitores. Só que a internet, as redes sociais e os aplicativos de mensagens passaram a impulsionar, em velocidade de fibra ótica, tudo quanto é tipo de mentira. Algumas podem ser apenas brincadeiras de mau gosto. Mas outras podem gerar tragédias, assassinatos e linchamentos.

Com a pandemia do coronavírus, os propagadores de notícias falsas encontraram terreno fértil para espalhar mentiras, seja por motivos políticos, econômicos ou mesmo só para chamar atenção. Quando não para simplesmente ‘zoar os amigos’. A grande questão, que preocupa a OMS, é que as informações imprecisas em torno da Covid-19 podem gerar a morte de milhares de pessoas. Por isso, Tedros Adhanom elogiou o Google e o Facebook por seus esforços para limitar a propagação de notícias falsas ou perigosas durante o período da pandemia. O que resultou, por exemplo, na retirada de postagens até do presidente Jair Bolsonaro pelo Twitter, Facebook e Instagram.

O passeio de Bolsonaro no domingo, 29, em Brasília, quando o presidente parou para cumprimentar comerciantes – contrariando as regras do distanciamento social -, foi taxado pelos administradores das redes sociais como “perigoso e capaz de gerar danos”, dentro das novas regras que essas empresas colocaram para si mesmas por causa da pandemia. Por isso, dois vídeos de Bolsonaro que registravam a “aventura por Brasília” foram retirados das redes sociais.

O presidente também divulgou, na quarta, 1, um vídeo falso – o que seria o desabastecimento da Ceasa de Belo Horizonte. Tanto que o próprio Bolsonaro o removeu e, para surpresa de muitos, pediu desculpas por ter divulgado uma fake news.

Fake news local

Em Volta Redonda, as fake news já criaram um grande mal-estar. Na semana passada, um blogueiro local, que administra uma página de entretenimento no Facebook, publicou um vídeo afirmando que “tinha a vacina” contra o coronavírus. O rapaz, que pode até ter algum talento, na verdade estava vendendo uma espécie de curso ou palestra para os comerciantes que perderam vendas com o fechamento das lojas por causa do distanciamento social. Uma lástima, ainda que tenha sido visto por poucas pessoas.

Outra fake news, criada para pressionar o prefeito Samuca Silva a abrir o comércio, afirmava que mais de 1,7 mil pessoas haviam sido demitidas pelos comerciantes de Volta Redonda em apenas 10 dias por conta da Covid-19. No entanto, o único documento que embasava a afirmação era um recorte de uma suposta planilha de uma empresa de contabilidade da cidade. Era apenas uma contagem informal, sem qualquer dado oficial, fornecido, por exemplo, pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia. 

A mensagem foi distribuída por grupos de WhatsApp, principalmente os que reúnem comerciantes, que chegaram a organizar uma carreata para pressionar o Palácio 17 de Julho a liberar o funcionamento de todas as lojas. A manifestação, que ocorreria no domingo, 29, foi barrada pela Justiça. Mas, a fake news continuou sendo apregoada, o que levou Samuca a fazer o seguinte comentário: “Ninguém me apresentou qualquer estudo que comprove essas demissões”, disparou, sendo irônico ao completar “1700 vidas foram preservadas”, disparou. Ele tem razão. Há quem diga que o estudo não passa de uma pesquisa feita entre internautas nas redes sociais. Redes que aceitam tudo, é bom lembrar.

Afinal, o que é fake news?

As fake news (notícias falsas, em português) têm uma característica especial: são disseminadas como se fossem reais. E quem as espalha copia o visual e usa o nome de veículos da imprensa para dar um ar de “verdade” à notícia mentirosa que quer viralizar. Usa dados falsos, declarações mentirosas, deturpadas ou fora de contexto, aproveitando-se, por exemplo, de vídeos e fotos antigas, devidamente editadas para que possam parecer ser atuais. E não são.

No jornalismo profissional, os responsáveis por divulgar uma notícia falsa podem ser responsabilizados perante a Justiça, o que não ocorre com os blogueiros e internautas que se acham acima de tudo e de todos. Inventam o que querem, falam o que bem entendem e espalham os falsos boatos com a maior cara de pau, sob beneplácito da Justiça, que entende que fazem tudo em nome da liberdade de expressão. Uma fake news judicial.

Vale destacar que o WhatsApp inaugurou a era das fake news, onde as notícias nem precisam ter cara de notícia de jornal. Basta um simples texto, sem assinatura, dependendo do assunto, para viralizar. Ou até um áudio. No caso do coronavírus, várias já foram espalhadas, como a das comidas que podem combater o vírus; que o Covid-19 foi criado em um laboratório chinês; e por aí vai. Tudo falso.