Por Mateus Gusmão
Para o próximo dia 29 de setembro, daqui a pouco mais de 30 dias, os moradores e comerciantes da Rua 33 pretendem comprar um bolo de chocolate para convidar algumas autoridades, como o prefeito Neto, para a ‘comemoração’ de dois anos do início das obras de reforma, revitalização e modernização da principal via da Vila Santa Cecília (começou em 2021, ao preço de R$ 3,5 milhões). Detalhe: que ainda não foi concluída – a última previsão dada por Neto foi de que tudo estará pronto em novembro, antes das festas (e vendas) de Natal.
A previsão pode se confirmar ou não. Mas quem passa pela 33 teme que a obra só seja concluída em 2024. “A colocação do novo piso anda a passos de cágado. Não sai do lugar. Ainda está próximo da Rua 48 (sentido ETPC-Vila), e isso só de um lado. Falaram que iam trabalhar 24 horas, passa lá para ver”, ironizou um lojista, pedindo anonimato. “Na quinta, 24, estava tudo parado por volta das 18 horas”, informou.
Ele pode ter razão. É que a obra da 33, além de ter consumido milhões dos cofres públicos sem ser concluída, acumula contratempos desde que a empresa Irmãos Vasconcelos Ltda foi embora, reclamando que a prefeitura de Volta Redonda não quis reajustar o valor da empreitada. Foi e deixou tudo ao deus-dará.
A solução, adotada por Neto em outubro de 2022, foi repassar o serviço – transformado em ‘cimentar as calçadas’ – ao Saae-VR e à secretaria de Infraestrutura, até que uma nova licitação fosse feita. Não adiantou nada. Os dois auxiliares do prefeito passaram a bater cabeça. ‘Freud explica’. A quebradeira das calçadas infernizou a vida de quem mora na 33 e nas ruas transversais. Era e ainda é comum ver idosos caindo quando tentam caminhar por entre pedras e buracos abertos em nome da modernização da via.
Teve dono de carro que ficou com o veículo preso na garagem por mais de 30 dias sem poder abrir o portão para levar o carro para bem longe do caos. Sem contar os prejuízos que levaram os lojistas à loucura. Temem, inclusive, pelo Natal deste ano. Tem ainda o desespero dos pacientes que precisam ser atendidos em uma das centenas de clínicas e consultórios existentes ao longo da 33 e que passam sufoco para chegar na hora da consulta marcada.
Como os problemas afetam a todos, uma comissão de empresários foi formada e na próxima semana vai se reunir com o prefeito Neto para debater a conclusão das obras e a adoção de medidas paliativas que possam ser tomadas de forma imediata. A informação foi dada por Maycon Abrantes, presidente da Aciap-VR. “Vamos levar um grupo de empresários para conversar com o prefeito. O Neto se mostrou aberto para receber sugestões, quer ouvir o que precisa melhorar na obra. Sabemos que os benefícios serão grandes, mas precisamos diminuir os prejuízos”, ponderou Maycon, que já foi vice-prefeito.
Segundo Maycon, há relatos de empresários que fecharam as portas por conta de uma queda de 50% no faturamento. “Na sexta, 18, estive no gabinete do prefeito para conversar sobre a reforma (da 33). Os empresários estão sofrendo muito ali. O prefeito nos garantiu que a obra será entregue em novembro, para não atrapalhar as vendas de Natal. O próprio prefeito nos garantiu que esteve de madrugada na via para acompanhar a obra e ver se estão trabalhando durante o período noturno para acelerar essa entrega”, comentou, sem dizer qual teria sido a resposta do prefeito.
Maycon também confirmou a informação divulgada por Neto, noticiada com exclusividade pelo aQui, de que a prefeitura pretende fazer o mesmo tipo de reforma nas ruas 12, 14 e 16, também na Vila. “O prefeito confirmou essa intenção, mas disse que a obra será feita por etapas, uma rua de cada vez. Mas isso só em janeiro ou fevereiro do ano que vem. Ele (Neto) disse ainda que quer conversar com os empresários das ruas para explicar o projeto e mostrar os benefícios com a obra”, comentou o presidente da Aciap-VR.
Por falar em transtornos na 33, em entrevista a Dário de Paula na quinta, 24, o prefeito revelou que clientes de duas operadoras de telefonia celular ficaram sem internet na quarta, 23. “Eu sei que a obra está gerando transtorno… Ontem, estavam sem internet, mas liguei para as pessoas para poder consertar”, destacou Neto, que se irritou quando Dário lhe disse que “o pessoal que faz fisioterapia na Faps da 33 estaria sem tratamento” por não conseguir chegar até a unidade. “Tem dificuldade, mas consegue chegar, sim, pelo amor de Deus. Eu sei que está trazendo um transtorno muito grande”, desabafou Neto.
TRANSTORNO DIÁRIO
Além dos problemas com o atraso da obra, há outros transtornos gerados pela demora na conclusão do serviço. Renato Freitas, que trabalha em uma clínica na 33, destacou que, com o tempo seco, a poeira está transformando o cenário da via. “O que a gente tem visto nos últimos meses é um verdadeiro cenário de guerra na 33. Quem trabalha ou mora aqui convive diariamente com uma poeira absurda, que se junta ao pó da CSN e tem deixado as pessoas doentes. A obra ficou muito tempo parada, e a poeira tomou conta”, comentou. “Após o período da obra parada, parece que estão tentando correr para entregá-la. Mas não parece ter planejamento. A sinalização não existe, aí é comum ver pedestre e veículos se acidentando. Eles fecham a rua e não colocam nenhuma placa. E não existem alternativas para idosos e deficientes”, completou Renato.
A reclamação do motociclista Eduardo Reis, que trabalha como mototáxi e motoboy, é semelhante. “Diariamente tenho entregas para fazer na 33 de almoço. É péssimo por conta do fechamento de vias e falta de sinalização, placas. Além disso, já tive relatos de colegas de trabalho que, por conta do entulho gerado pela obra, tiveram quedas e até pneus furados. É horrível passar por ali”, destacou.
ACELERANDO O TRABALHO
No início de agosto, depois de negar ao aQui que pudesse tocar as obras durante a noite, Neto decidiu obrigar a empreiteira a executar os serviços da 33 no período noturno. Tudo para correr contra o tempo. Foi assim durante uma semana. “Estamos fazendo de tudo para que a Rua 33 seja mais atrativa aos seus moradores, comerciantes e visitantes. Será uma nova via, totalmente revitalizada, acessível, um legado para a população da nossa cidade”, justificou Neto, ciente de que sua popularidade está em baixa junto aos que estão sendo prejudicados. “Eles vão gostar quando a obra ficar concluída”, aposta. Amém.