Por Vinícius de Oliveira

Atirada para fora do barco pela administração da Organização Social Filantrópica Nova Espe-rança, uma OS que administra o Hospital São João Batista, o que a levou a romper em definitivo com o prefeito Samuca Silva, Márcia Cury passou a ser cotada para disputar o Palácio 17 de Julho. Nas últimas semanas, os caciques políticos de diversas legendas pas-saram a cobiçá-la como pré-candidata. E os boatos dispararam. Um deles dava conta de que, se não fosse cabeça de chapa, certamente com-poria uma aliança com Maycon Abrantes, que já se declarou adversário, não importa como, de Samuca nas próximas eleições.
Mas, para surpresa geral, Márcia deixou claro, através de suas redes sociais, que não vai se candidatar a nenhum cargo político. A declaração pegou a todos de surpresa, inclusive os que contavam com sua popularidade, iniciada quando esteve ao lado de Neto na administração do Hospital do Retiro, e comprovada nas eleições de 2018, quando foi candidata a deputada estadual, arrebanhando consideráveis 17.785 votos válidos. Não à toa, chegou a ser secretária de Saúde no governo Samu-ca, antecedendo Alfredo Peixoto. “Não penso em sair candidata, apesar de ter recebido propostas, de quase todos précandida-tos”, cravou Márcia, em uma entrevista exclusiva concedida ao aQui na última quarta, 18.
Com respostas discretas e pouco reveladoras, Márcia, que foi entrevistada via WhatsApp por questões de segurança a fim de evitar possível proliferação do Corona-vírus, não deu grandes explicações a respeito de sua decisão. Embora a teoria criada em torno de sua recusa a concorrer para a prefeitura seja de que não teria condições políticas de enfrentar, ao mesmo tempo, Samuca Silva e seu amigo Antônio Francisco Neto (ou alguém indicado por ele caso não seja liberado pela Justiça para se candidatar, grifo nosso), a ex-secretária afirmou que foi um conselho de sua família: se manter distante da disputa. “Isso (enfrentar Samuca e Neto) não vai acontecer, pois não sou candidata. Foi uma decisão familiar”, resumiu.
Definitivamente não deve ter sido fácil tomar tal decisão, já que Márcia tinha a faca e o queijo na mão. Conforme o próprio aQui veiculou em edições passadas, ela contava com o apoio de figurões importantes na política. Pode ria caminhar ao lado do deputado federal mais votado do Sul Fluminense, Antônio Furtado, além de ter livre acesso ao governador Wilson Witzel por intermédio do ex-prefeito e ex-deputado Gotardo Netto. Mas nada a atraiu. “Furtado é um grande amigo com grande vontade de trabalhar pelo Sul Fluminense, mas não haverá campanha. Gosto muito dele. E o Gotardo me ajudou muito durante minha campanha de deputada estadual. Agradeço todo apoio que sempre me dá. Não terei apoio do Gotardo, e nem do governador, já que não sou candidata”, reafirmou, noticiando ainda que sequer vai se filiar ao PSL.
Ao ser questionada se sua decisão teria sido tomada a partir de algum tipo de pressão política, Márcia fez outra revelação que pode, mais uma vez, revirar o tabuleiro do xadrez político da cidade do aço. Segundo ela, Maycon Abrantes não deve vir candidato também. “Minha decisão não foi para beneficiar o Maycon. Nem conversamos sobre apoios. O Maycon provavelmente não será candidato”, contou, sem revelar se estava se referindo ao cargo de prefeito, vereador ou aos dois.
Márcia Cury disse ainda que não foi medo o motivo pelo qual não assumiu a pasta da Saúde do governo Samu-ca, garantindo que ter uma caneta tão pesada nas mãos não a intimidaria de forma alguma. “Não assumi por discordar de muitos pontos do governo. Quanto à caneta, não tenho esse medo’, justificou.
Ao que tudo indica, da mesma forma que América Tereza, antes ligada ao ex-prefeito Neto e atualmente cooptada, de corpo e alma, pela habilidade política de Samuca Silva, Márcia também se deixou levar pela barba brilhante do jovem prefeito. Ao ser perguntada sobre o processo polêmico de impeachment no qual Samuca se viu envolvido recentemente, Márcia preferiu não polemizar. Denominou o caso de “sério”, mas o considerou benéfico, em termos eleitorais, para Samuca. “Acho que é um caso muito sério e a justiça é quem deve julgar. Sou a favor de que quem fizer errado, que deve pagar. E eu acho que foi benéfica, sim. Segundo o Ministério Público, o prefeito foi vítima de tentativa de extorsão e denunciou, o que passa uma imagem de luta contra a corrupção”, opinou.