Concorrência desleal

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Assim como quem não quer nada, ele chegou de mansinho, estacionou no ponto que queria, antes das 18 horas, no coração da Vila. Fez um gato de luz (com a ajuda de terceiros, é claro) e começou ‘a deitar e rolar’. Deve ter vendido quilos e quilos de ‘sandubas a preços ‘populares’, afinal terça, 28, era comemorado o ‘Dia do Hambúrguer’, como tinha anunciado nas redes sociais, sem se importar com a fiscalização do Palácio 17 de Julho. O relato é real, e mostra o “embate” ocorrido na noite de terça, 28, na Vila, em Volta Redonda, entre um dos food trucks – caminhão de comida, no português nosso de cada dia – e o proprietário de um dos restaurantes da cidade do aço.

 

Antes de mais nada, fica o registro: não foi um caso isolado. Acontece quase todo dia e pode ter o beneplácito da secretaria de Desenvolvimento Econômico de Volta Redonda, que faz vista grossa ao crescente negócio dos food trucks, assim como ao do caminhão das verduras, do carro do ovo, e até da ‘mardita pinga’. “É fruto da crise”, define o titular da pasta, Joselito Magalhães, tentando justificar a omissão da fiscalização, que cobra dos legalizados – empresários que pagam seus impostos –, mas nada faz para impedir que camelôs e afins fiquem em lugares privilegiados sem pagar as famosas taxas aos cofres públicos.

 

O caso do hambúrguer mostra bem o que anda acontecendo. Indignado após ver um carrinho de food truck (ver foto) estacionar bem frente ao Gacemss, na Vila, onde haveria um evento cultural, o dono de um restaurante imediatamente ligou para o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Joselito Magalhães, para informá-lo do que estava ocorrendo. Aproveitou para pedir as necessárias providências. Segundo Marcelo Moreira, nada foi feito, uma vez que o carrinho de sanduíches continuou vendendo seus hambúrgueres até às 23h30min. “O food truck estacionou na frente do teatro, colocou mesas na calçada, puxou energia da sede do Gacemss e trabalhou até a hora que bem quis. Até quase meia noite”, contou, desapontado com a falta de ação da prefeitura. “Será que o food truck tinha alvará?”, pontuou.

 

Procurado pela reportagem, Joselito Magalhães, até bem pouco tempo presidente da Aciap-VR, confirmou que a ação do responsável pelo ‘food truck’ teria sido irregular. E jurou que o proprietário do carrinho de sanduíches teria sido notificado a se retirar do local.

 

“Ontem (terça, 28)  houve uma ação irregular, mas nós agimos rápido. Entramos em contato com a presidência do Gacemss, que não havia autorizado o food truck, e o dono do caminhão logo se retirou do local. Era (food truck) clandestino, (estava) sem a autorização da prefeitura ou da própria direção do Gacemss”, disse Joselito, acrescentando que o veículo de comida tinha estacionado “praticamente na porta dos restaurantes” da Vila.

 

“(Ele) Criou um problema até mesmo para o Gacemss. Acredito que foi desinformação mesmo, um caso isolado. Não temos problemas com food trucks em Volta Redonda; os que estão funcionando têm alvará da secretaria de Fazenda”, garantiu. Não é bem assim. No caso do Gacemss, testemunhas garantem que o dono do carrinho de sanduíches “funcionou até às 23h30min”. “O Gacemss, como sempre, desligou a luz às 22 horas, mas o food truck ainda ficou lá até quase meia-noite”, disse um deles.   

 

Joselito também erra ao dizer que foi um caso isolado. Na São Geraldo, na praça do ginásio de esportes do bairro, outro food truck funciona normalmente à noite. Na 207, perto de uma antiga boate, local sem grande movimentação popular, um food truck – modesto, por sinal – tem feito ‘a festa’ com a falta de fiscalização. Pior. Ocupa um pequeno pedaço de um trecho da rua. Informado pela reportagem, Joselito disse que vai mandar tomar providências. “Na São Geraldo está irregular. mas é preciso entender que as pessoas começam no comércio de rua por falta de opção, então, quase sempre, estão irregulares. Eles serão notificados e nós iremos avaliar como o espaço público está sendo utilizado. É o processo normal”, disse.  

 

O ex-presidente da Associação Comercial de Volta Redonda entende que com casos como os dos food trucks, do carro do ovo, do pão, do abacaxi etc, a cidade do aço será invadida por uma nova geração de “negócios móveis”. Com apoio do Palácio 17 de Julho, se depender dele. “A ideia é criar outros centros gastronômicos pela cidade, para quem quiser empreender”, disparou, sem dizer onde teriam sido criados os primeiros centros de gastronomia. “No futuro não teremos emprego para todo mundo, empreender será uma grande saída”, argumenta, citando o centro que foi criado na Praça Brasil, em terreno localizado embaixo da linha de alta tensão da Light, onde há food trucks de comida baiana a japonesa, passando pela tradicional pizza frita e espetinhos, e cervejas.

“Na Praça Brasil tem um centro gastronômico, em uma área que era subutilizada à noite. Eram operações irregulares, que nós fomos convencendo os proprietários a mudar para lá, assim como foi feito na época com as barraquinhas de cachorro quente que estão agora ao lado da Cúria (no governo do ex-prefeito Neto, grifo nosso). Ali (na Praça Brasil e na Cúria) são lugares onde o espaço público era mal utilizado, e agora tem movimento, e sem concorrência direta com os restaurantes ou entre eles mesmos, porque os produtos são muito específicos – comida baiana, comida japonesa, hambúrguer gourmet, pizza frita”, afirmou Joselito, que acrescentou: “Antes, na Praça Brasil, muita gente não queria ir, porque dizia que as pessoas não passavam por lá, não tinha movimento. Hoje tem fila de espera”, avalia.

 

Joselito aproveitou para anunciar que outro local pode virar centro gastronômico. É o caso do estacionamento próximo à Capela Mortuária do Aterrado, para onde devem ser levados os ambulantes que ficam próximos ao Centro Universitário Geraldo Di Biase. “O Aterrado, principalmente próximo ao UGB, é um local em que estamos trabalhando. Começamos a planejar para usar o estacionamento próximo da Capela Mortuária. O processo de convencimento é complexo, até porque não queremos causar perdas econômicas para aquelas pessoas, o objetivo não é esse”, afirmou, ressaltando que o processo é feito somente com os ambulantes cadastrados na prefeitura.

 

“Esse processo é feito com aqueles que se cadastraram na prefeitura, de forma organizada, com autorização da Vigilância Sanitária, com alvará da secretaria de Fazenda. O importante é que qualquer evento em área pública tem que passar pela prefeitura para ter autorização. Assim, se evita problemas para trabalhar”, afirmou, esquecendo de defender os empresários, como ele, que pagam uma infinidade de impostos municipais, estaduais, federais, que pagam imposto sobre lucros e que têm que manter seus empregados com carteira assinada.