sexta-feira, março 29, 2024
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‘Vozinho não’

A pandemia do coronavírus acentuou a discriminação contra os idosos em aspectos como a ocupação dos leitos hospitalares. O alerta foi feito por especialistas durante debate na Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara, evento realizado na segunda, 5, sobre o chamado “ageísmo” ou “idadismo”. Eles apontaram preconceito também no mercado de trabalho, na preparação dos estudantes de Medicina para atender aos pacientes mais velhos e na falta de investimentos nas Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs), entre outros aspectos.
A discriminação, segundo eles, é institucional e estrutural. Cria estereótipos de fragilidade e improdutividade, sem levar em conta a heterogeneidade da parcela da população com idade mais avançada. Os debatedores concordam que o Estatuto do Idoso é uma ferramenta importante contra o idadismo.
O secretário Nacional de Promoção e Defesa dos direitos da Pessoa Idosa, Antonio Costa, salienta que desde 2016 a Organização Mundial da Saúde (OMS) chama atenção para esses preconceitos. Segundo ele, os dados do Disque 100 mostram um aumento da violência psicológica contra os idosos entre 2019 e 2020. A discriminação foi agravada pela pandemia de Covid-19. “Vemos falas para priorizar os jovens no tratamento em detrimento dos idosos. Isso é um tipo de ageísmo que tem se colocado aí na mídia com bastante frequência, como se os idosos fossem culpados dessa pandemia”, argumenta.
A economista Ana Amelia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atesta a discriminação contra os mais velhos no mercado de trabalho, já que quem tem mais de 50 anos passa por dificuldades de recolocação. Na pandemia, ela também identificou ageísmo quando se fala em desemprego e redução da força de trabalho. “Do último trimestre de 2019 ao último trimestre de 2020, 800 mil idosos foram demitidos, estão desocupados, mas continuam procurando trabalho; e 800 mil estão desocupados, mas não estão procurando trabalho”, compara.
Deputado que propôs a discussão, Denis Bezerra (PSB-CE) ressalta as falas dos debatedores sobre um outro aspecto: a infantilização do idoso, tratado como “vôzinho” e outras expressões semelhantes. “Esses diminutivos que, muitas vezes, nós utilizamos de maneira geral, sem ter a consciência, estamos fazendo uma forma de idadismo, uma forma de preconceito principalmente pela questão etária”, afirmou.
O geriatra Alexandre Kalache, diretor do Centro Internacional da Longevidade, acrescenta que a crise sanitária fez as desigualdades sociais serem evidenciadas. Os idosos foram rotulados desde o início como grupo de risco, o que reforçou a discriminação. “Assim como não basta não ser racista, há que ser antirracista; assim como não basta não ser sexista, há que ser antissexista, ativista, não tolerar nenhuma forma de discriminação; não basta não ser idadista, é preciso ser antidadista, ativista e denunciar a cada momento que você se confronte com essa discriminação, gritar, gritar alto”, defende.
Durante a audiência pública, também foi discutida a instituição de um Dia Nacional de Combate ao Idadismo. A sugestão dos participantes é de que se adote a data de 15 de junho, que, desde 1999, é o Dia Internacional de conscientização sobre a violência contra os idosos.
Agência Câmara de Notícias

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