Por Pollyanna Xavier
O SUS é para todos e é com essa máxima que o governo do Estado tem transformado, pelo menos na prática, o Hospital Regional Dra. Zilda Arns numa unidade estadual. Construído em Volta Redonda para atender doentes das 12 cidades do Médio Paraíba que compõem o Cismepa (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraíba), a unidade tem recebido muito mais pacientes de outras regiões do que do Sul Fluminense. Com uma média de internação de 15 pacientes/dia, o Regional é referência no atendimento da Covid-19. A expertise, porém, esconde um problema: a preocupação dos prefeitos com a falta de leitos para seus munícipes.
Ontem, sexta, 24, em entrevista a Dário de Paula, o prefeito Samuca chegou a lamentar o problema. “É muito grave. Nós estamos fazendo nossa parte e não é justo que Volta Redonda, em determinado momento, tenha que fornecer seus leitos por conta do caos que está sendo criado (pela Covid-19) em outros locais. Nós já fazemos a nossa parte para o povo regional, para o povo fluminense”, desabafou.
O assunto, inclusive, foi tema de uma reunião por aplicativo entre vários prefeitos e o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos. “Temos uma preocupação com o número de leitos disponíveis no Hospital Regional sendo ocupados por pacientes que não são do Sul Fluminense, vindos da Baixada, diminuindo assim a nossa capacidade de atendimento. O secretário estadual se comprometeu em manter 60% das vagas ofertadas pela unidade para cidadãos acometidos pela Covid-19 da nossa região”, revelou o prefeito Rodrigo Drable em uma das suas lives da semana.
Apesar da promessa, ele sabe que caso a estrutura hospitalar do Rio fique sobrecarregada (como já está), novas transferências serão feitas para o hospital estadual de Volta Redonda. “Independentemente de onde é o paciente, ele tem direito ao atendimento médico”, reconheceu. Até o fechamento desta edição, Barra Mansa tinha cinco pacientes internados no Hospital Regional com quadro de Covid-19. Todos em clínica médica. Além destes o aQui apurou que há ainda outros cinco pacientes internados no Hospital Santa Maria, sendo dois em enfermaria e três no CTI.
O chefe do Executivo confirmou 31 casos da doença; 132 exames descartados, ou seja, negativos; 32 casos suspeitos; seis internações na Santa Casa, sendo quatro pacientes com quadro clínico estável e dois na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com auxílio de ventilação mecânica, além de cinco pacientes internados no Hospital Regional, localizado em Volta Redonda, também em tratamento clínico.
A situação de Volta Redonda é mais delicada. Os casos suspeitos e confirmados não param de subir. Ontem, sexta, 24, Samuca anunciou que do total de leitos do Regional, 137 estão ocupados por pacientes de várias cidades do estado. De Volta Redonda são apenas 14, sendo 8 no CTI e 6 na enfermaria. A boa notícia é que do dia 1º até o dia 24 de abril, 31 pacientes (de todo o estado), que passaram pelo Hospital Regional foram curados e receberam alta médica. Em compensação, um levantamento feito pelo aQui mostra que no mesmo período 13 pessoas de Volta Redonda morreram no Regional (ver quadro ao lado). Essas mortes não entraram nas estatísticas do município, porque ainda aguardam confirmação do Laboratório do Estado.
Outras unidades hos-pitalares de Volta Redonda, como o Hospital da Unimed, o São João Batista e o Hospital do Retiro, também registraram óbitos pela Covid-19 no mesmo período. De acordo com o levantamento feito, as vítimas tinham entre 46 e 90 anos e possuíam alguma doença pré-existente.
Questionado o porquê de pacientes de Volta Redonda com sintomas moderados estarem sendo transferidos para o Hospital Regional, Samuca informou que as transferências seguem uma estratégia do Estado, de concentrar na unidade do Roma somente os casos da Covid-19. É uma forma, segundo ele, de evitar o comprometimento de leitos nos demais hospitais públicos, liberando vagas para atender pacientes com outras doenças.
Apesar de ocupar uma área dentro de Volta Redonda, no Roma, o Hospital Regional não pertence ao município. Mas recebe recursos dos cofres municipais. “O Regional é uma questão do Estado e ele é regulado por uma equipe especializada em CTI e UTI. Hoje ele é uma estratégia para o isolamento da Covid-19. O Hospital de Campanha também tem essa estratégia, de atender apenas vítimas do Coro-navírus. É uma forma de preservar os pacientes de outras doenças”, comparou Samuca.
Hospital Regional
Inaugurado em março de 2018, o Hospital Regional nunca teve tanta importância na Atenção à Saúde como agora. Com localização estratégica – às margem da Dutra e distante dos centros urbanos –, o Regional favorece o atendimento aos pacientes com Covid não apenas pela estrutura hospitalar existente, mas também pelo isolamento social garantido pela localização da unidade. De fevereiro para cá, o Estado equipou o hospital, aumentou o número de leitos de enfermaria e CTI, contratou novos profissionais e conseguiu aumentar o financiamento do SUS para atender a nova demanda. Se antes o Hospital Regional caminhava devagar, agora os passos estão acelerados e a unidade tem se tornado referência estadual no atendimento à nova doença.
Para o Estado, o novo cenário do Hospital Regional mistura conveniência e estratégia. A ideia, segundo uma fonte ouvida pelo aQui, é fazer com que a expertise conquistada com os atendimentos à Covid-19 mantenha o hospital ativo mesmo após a pandemia. A estratégia tem tudo para dar certo, afinal a unidade está bem equipada e possui um serviço de imagem completo, com exames de alta complexidade. “Quando foi inaugurado, apenas uma parte do hospital funcionava. Há setores que, mesmo com o Coronavírus, ainda não foram ativados. A estratégia do Estado é torná-lo uma referência para garantir a manutenção do financiamento amanhã. É um benefício para o Estado e a região”, avaliou a fonte.
Óbitos suspeitos e confirmados por Covid-19 em Volta Redonda

*Em respeito às famílias, divulgaremos apenas a iniciais dos nomes das vítimas
Em destaque, os casos já confirmados pela Secretaria Municipal de Saúde de VR
Situação dos hospitais públicos e privados de Volta Redonda
Lembramos que esse boletim é diário e os dados divulgados no quadro abaixo referem-se às internações do dia 23/04 (última atualização médica antes do fechamento desta reportagem).
