Por Vinicius de Oliveira
Acompanhado de uma força-tarefa encabeçada pelo prefeito Samuca Silva, o senador e pré-candidato à presidência Álvaro Dias esteve na tarde da última segunda, 16, em Volta Redonda, onde no Hotel Bela Vista apresentou os projetos do Podemos, partido pelo qual pretende ser eleito em outubro. Apesar de ostentar apenas 5% das intenções de voto, e ofuscado pela polarização entre Lula (inelegível pelo TSE) e Jair Bolsonaro, Álvaro deixou claro que pretende contar com a mesma sorte que Samuca teve na cidade do aço quando, em 2016, apareceu com ínfimos 0,8% de chances de ser eleito, mas acabou levando a melhor no segundo turno contra Paulo Baltazar, cacique da política local.
“Ele [Samuca] começou a campanha com 0,8% de intenções de voto, participou do debate graças a uma liminar judicial, e depois desse debate foi para o segundo turno e ganhou a eleição. No nosso caso, sabemos que ainda há entre 70% e 80% do eleitorado que ainda não definiu seu voto. O jogo de verdade ainda não começou”, analisou Álvaro Dias, cheio de gás, se denominando uma terceira via ao eleitorado brasileiro.
As semelhanças entre o discurso de Álvaro Dias com o que foi pregado por Samuca durante sua campanha em Volta Redonda são inúmeras. O candidato do prefeito também defende uma gestão eficiente da máquina pública, evitando nomear indicações políticas para cargos técnicos e de ministérios. “Não vamos aparelhar o Estado com indicações. O governo indicará os melhores para cada cargo. Temos que reverter a lógica do balcão de negócios”, defendeu, frisando que pretende, se eleito, “refundar a República”. “A reforma política não é só uma mudança na legislação. Ela começa por refundar a República, e, a partir daí, se fará uma reforma da Constituição Federal, seguida de uma reforma do Estado, destinada a reduzir seu tamanho, incluindo aí uma diminuição no tamanho do Poder Legislativo e no número de partidos”, defende.
Álvaro, contando que conheceu Samuca quando ambos eram do PV, explicou que trocaram de sigla por não acreditarem que atualmente exista partido que siga, de fato, sua ideologia norteadora e, por isso, teriam migrado para o Podemos a fim de criar um movimento em prol da ética e dos valores político-partidários. Além disso, Álvaro criticou a quantidade de partidos existentes no Brasil. “Basta notar que existem 35 partidos registrados e 73 aguardando registro. Isso torna impossível um bom governo. A legislação acaba ficando mal feita ou, quando é bem feita, é mal aplicada. Pressionado por acordos de conveniência, o governo gasta mais do que arrecada, e arrecada muito, gastando mal”, observou.
Ainda de acordo com o senador, a mudança deveria começar do alto escalão. “Uma pessoa uma vez me disse que, quando se lava uma escada, deve-se começar a limpeza de cima para baixo. Assim é com a reforma. Precisamos começar no andar de cima, eliminando privilégios. Inclusive, um projeto de minha autoria acabando com o foro privilegiado está na Câmara dos Deputados para ser votado, depois de aprovado no Senado Federal”, comparou Álvaro Dias.
Indagado sobre como faria reformas tão audaciosas, levando em conta a forma como os parlamentares estão acostumados a atuar, garantindo seus próprios privilégios em primeiro lugar, Álvaro foi taxativo: disse que só existe parlamento corrupto graças à existência de um corruptor que, neste caso, seria o próprio presidente da República. “Se tivermos um presidente honesto, todo o sistema muda. Além disso, a população pode pressionar o Congresso a efetuar essas mudanças; basta que o governo a convença dessa necessidade. Com competência é possível fazer”, resumiu.
Mas certamente não vai ser fácil convencer o Congresso e, tampouco, a população, totalmente descrente de que haja boas intenções entre os chamados ‘políticos de carreira’, de suas pretensões. Diferente de Samuca, seu principal cabo eleitoral no Sul Fluminense, que não pertencia à classe política quando se lançou candidato a prefeito, Álvaro Dias é um tarimbado político que foi, inclusive, denunciado pelo próprio Alberto Youssef, preso em um dos desdobramentos da operação Lava Jato, de ter recebido dinheiro sujo para financiar sua campanha ao Senado.
Ao ser questionado pelo repórter do aQui sobre o fato, Álvaro ficou visivelmente consternado e, sem citar o nome do doleiro, saiu pela tangente, alegando que as denúncias são falsas. “Esqueça isso. Esse cidadão nunca financiou nada meu. Alguém foi pago para dizer essas coisas”, alegou.
O presidenciável também foi perguntado pela equipe do aQui sobre as dificuldades de articulação na política interna do Podemos no Sul Fluminense. Vale lembrar que Samuca, ex-presidente da sigla em Volta Redonda, por rixas com Romário, que preside o partido em âmbito estadual, deixou o cargo ocupado atualmente por Rogério Loureiro, pré-candidato a deputado estadual. Sobre isso, Álvaro disse que são questões menos importantes.
“Divergências políticas locais não nos atingem no momento. Elas serão superadas”, acredita o senador. “Além disso, não faremos um governo de partidos. Será uma gestão suprapartidária, com pessoas de bem. Teremos de fazer um verdadeiro mutirão para cumprirmos essa missão, pois os ventos da mudança ainda não sopraram na classe política. Quem não perceber essa questão, será trocado automaticamente pelo povo”, concluiu.
Sobre as rusgas internas dentro do Podemos, Samuca preferiu não se manifestar. Aliás, o prefeito entrou mudo e saiu calado. A única frase que disse foi um chavão político: “Sou um soldado do Álvaro Dias e de seu projeto e essa tarefa tem prioridade sobre eventuais discordâncias internas no partido”, resumiu, atuando de forma a garantir que apenas seu candidato brilhasse.