Um vírus que nos ensina que precisamos uns dos outros
Nas últimas
décadas alguns problemas humanitários se agravaram e as discussões em torno
deles ganharam força nos noticiários: o cuidado com a natureza; a destruição da
camada de ozônio causada pela poluição; a situação das guerras; a fome; os
refugiados; entre outros.
São
questões que vão e voltam nos grandes encontros entre líderes mundiais.
Contudo, parecem mais discussões sistemáticas, sem resultados efetivos. No
fundo, sabemos como solucionar cada um destes problemas. Mas para quem é
interessante resolvê-los? As ações e decisões são norteadas por interesses econômicos
particulares de grandes corporações e poderosas nações.
Entretanto, não pensemos apenas na responsabilidade daqueles
que detêm poder. No ordinário da nossa vida, também não somos tão acostumados a
pensar nos outros, com exceção de ocasiões especiais, como o Natal e a
Quaresma, por exemplo, quando separamos algumas roupas e alimentos para
entregar aos mais pobres.
O novo
coronavírus traz para nós muitos ensinamentos. E um deles é a importância de
pensarmos coletivamente. De forma contraditória, ele nos ensinou que a melhor
maneira de ajudar o próximo, neste momento, é mantendo a distância. Ensinou-nos
ainda que o ser humano não está limitado ao espaço geográfico. Estamos todos
conectados, num mesmo planeta.
Até
tínhamos a impressão de uma estratificação social e diferentes mundos,
divididos por um abismo de dignidade humana. Porém, esta pandemia, que não
conhece país poderoso ou pobre e não distingue classes sociais, mostrou que, na
verdade, somos todos iguais perante a natureza e, mais ainda, perante a Deus.
Esta
fragilidade humana nos mostrou que precisamos, sim, uns dos outros e que,
diante do gigante biológico que se levantou, o “salve-se quem puder” tornou-se
um chavão sem efeito algum. Nem mesmo os mais privilegiados que podem se manter
“isolados” em suas fazendas ou em iates em altomar estão totalmente livres
desta crise de saúde global. Se precisarem de assistência médica, em algum
momento, terão que pedir um auxílio ou ir a um hospital, tendo contato com o
“mundo aqui fora”.
Por isso, o
inimigo invisível que chegou de forma tão rápida nos obrigou à união nesta
luta. Ficar em casa, evitar aglomerações, lavar bem as mãos, usar álcool em gel
e não deixar crianças com idosos foram medidas necessárias para o nosso bem e
também do próximo.
Estamos
sendo treinados a pensar e entender como agir coletivamente. Neste sentido,
para conter o contágio, que pode vir de pessoas assintomáticas, foi adotada a
premissa de que qualquer um de nós pode estar infectado, mesmo sem sintomas.
Utilizar máscara em ambientes públicos, por exemplo, tornou-se um grande sinal
deste pensamento coletivo. Já ignorar as medidas de prevenção pode ser um
sinônimo de ignorar o bem do outro, arriscando uma vida que é preciosa: a de um
idoso, de um jovem cheio de sonhos e projetos, de uma mãe ou de um pai de
família de quem os filhos dependem.
Esta
nobreza de fazer o bem ao próximo é um dos ensinamentos do cristianismo: “Tudo
o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7,12). Embora
dita há mais de dois mil anos por Jesus Cristo, esta proposta se adequa muito
bem aos dias de hoje. Se quero que cuidem de mim, também preciso cuidar dos que
estão à minha volta.
Certamente,
nosso mundo não será mais o mesmo depois desta pandemia. Já estamos mudando
nossa maneira de nos comportarmos, os hábitos e costumes. E na visão de grandes
sociólogos, esta é a base de uma mudança social.
Se os
grandes ensinamentos deixados por esta pandemia forem acolhidos por cada um e
pelas grandes nações, sairemos deste caos seres humanos melhores, menos
egoístas. A resposta a ser dada, embora reflita no bem comum, terá que ser
individual. Quem aprendeu ou quem ignorou só o tempo dirá.
Catarina Jatobá é missionária da Comunidade Canção Nova,
jornalista e apresentadora do Telejornal Canção Nova Notícias – 2ª
edição.