
Vinicius Oliveira
Quem conhece o presidente do Sindicato do Funcionalismo Público de Volta Redonda (SFPVR), Ataíde de Oliveira, sabe bem que ele não é dos bons com as palavras. Pouco eloquente, vive a tropeçar nas próprias frases e, algumas vezes, até se perde em seus pensamentos. Mas, à beira do precipício, empurrado pelos seus adversários, como Ronaldo Rodrigues, o sindicalista dá provas que não pretende cair tão facilmente. Agarrando-se às brechas jurídicas e a um estatuto fragilizado, colocado à prova pela própria categoria que representa, Ataíde usa justamente as palavras que pouco domina para reagir contra a oposição, que até então estava um passo à sua frente.
Na terça, 19, em entrevista exclusiva ao aQui, o homem acusado de ludibriar os servidores públicos de Volta Redonda para estender seu próprio mandato mirou seus tiros em Ronaldo, ex-assessor da ex-vereadora América Tereza. Para ele, Ronaldo representa um perigo aos sindicalizados. Teria até oferecido emprego para sua filha e um cargo para ele próprio dentro do Sindicato, desde que Ataíde abrisse mão da presidência. “O Ronaldo me fez uma proposta de escolher qualquer função, menos a de presidente no sindicato e ‘pegar’ três diretores, e dar um emprego para minha filha sem que ela trabalhasse. Quem estava perto pode não (querer) provar, pois as testemunhas hoje estão com ele. Veja o risco que o funcionário público corre em ter um presidente dessa categoria, com uma cabeça maluca e que faz uma proposta ordinária dessa”, denunciou Ataíde.
Questionado sobre a legalidade da Assembleia de 2014 que aprovou a mudança no estatuto e prorrogou seu mandato, realizada no mesmo dia da festa que sorteou um carro zero quilômetro, Ataíde tentou minimizar a denúncia. E desmentiu os boatos de que pessoas não sindicalizadas teriam assinado a ata. Para ele, Ronaldo, criador do movimento “O Sindicato é Nosso”, diz mentiras e besteiras. “O sindicato não é do Ronaldo. Ele vive falando um monte de calúnia, besteira, mentiras. Ele diz que o pessoal (presentes na assembleia) já estava bêbado. Nada disso. Ficou uma senhora na portaria pegando assinatura das pessoas para conferir o contracheque. Não tem nada a ver com o sorteio do carro. Depois (da assembleia) teve uma festa e mais nada”, disse.
Atuando como porta-voz de Ataíde para evitar que o sindicalista fosse traído pelo seu hábito de falar o que pensa, Aloizio Teles considerou ser normal que um sindicato ofereça festas depois de uma assembleia importante como a de 2014. “É normal a direção oferecer um café, um suco antes, durante e depois das assembleias. Até uma festa se for o caso”, defendeu o advogado, que procurou desacreditar Ronaldo.
Ele questionou, por exemplo, a demora do ex-assessor em procurar a Justiça. “Depois de quatro anos? Estamos arguindo também com o juiz a prescrição. A parte contrária já deu o assunto por encerrado”, exclamou, aproveitando para provocar Ronaldo. “Onde estava o senhor Ronaldo, que só apareceu depois de quatro anos como o salvador da pátria? Quem é ele? Qual é o benefício que conquistou para o servidor? O Ataíde é funcionário de carreira, batalhador, homem humilde. Ele não está fazendo nada de errado. Ele anda de ônibus, nem carro tem”, comparou.
Sobre a eleição da Junta Governativa, Aloísio garante que seu cliente continua presidindo a entidade. “A direção atual está mantida. A junta não tem autorização judicial para assumir o sindicato e acredito que ela não poderá fazê-lo de forma violenta. Vamos tomar as providências cabíveis, inclusive na área penal, porque já fizeram uma invasão parcial”, pontuou.
Segundo ele, o presidente da Junta, Wilton de Mello Peixoto, da UGT (União Geral dos Trabalhadores); a tesoureira Rejane do Couto Araújo, da Confederação dos Sindicatos de Servidores Públicos Municipais; e o secretário geral, Nilton dos Santos, da Federação dos Sindicatos de Servidores Públicos do Estado do Rio, tentaram tomar posse e teriam ocupado, à força, a sede do SFPVR, o que teria provocado transtornos psicológicos nos diretores. “Já estamos comunicando aos juízes. Entraram sem autorização. Não cometeram nenhuma violência, mas deixaram os diretores em pânico porque são pessoas idosas, e se ocorrer a morte de alguém aqui, a imprensa vai ser informada”, ameaçou.
Para Aloísio, a assembleia que elegeu a Junta é fruto de uma fraude, pois o grupo de Ronaldo não teria provado a veracidade do quórum. “Ajuizamos uma ação para o juiz reconhecer a nulidade da assembleia. Ela foi baseada num abaixo-assinado, sem identificação de todas as pessoas que subscreveram. Temos um quórum mínimo para a assembleia, que é de 30 % dos associados. A primeira inverdade é que existiam 1.500 assinaturas. O abaixo-assinado tinha 1.136 assinaturas. O quórum é de 894 pessoas e esse quórum mínimo a gente não sabe se foi respeitado, porque no abaixo-assinado só tem assinaturas, muitas delas ilegíveis. Não dá para identificar a pessoa”, disse.
Aloísio questiona a presença de Rejane como um dos membros da Junta, sem amparo legal. “Quem entrou foi o presidente da comissão, o Wilton e a Rejane, que nunca foi vista em Volta Redonda. É de uma federação que o sindicato não está filiado. Ela é totalmente estranha à categoria. Portanto é uma junta ilegal”, interpretou Aloísio, reforçando que a Justiça ainda não definiu o caso. “O juiz não se manifestou de forma objetiva sobre a questão da posse. As pessoas não podem invadir a casa de ninguém. Sendo assim, a Junta tem que buscar na Justiça a (autorização para) posse do sindicato. Se conseguir, tudo bem”, disse.
Aloísio garantiu que Ataíde continua administrando o sindicato, mas está impedido de movimentar a conta bancária da instituição por decisão do próprio banco. “A justiça não impediu o Ataíde de administrar. O banco, que por conta própria, em razão de uma confusão gerada por essa comissão (Junta, grifo nosso), fez uma suspensão dos atos financeiros. Vamos denunciar isso também. Porque se ele [o juiz] impediu a junta [de tomar posse], ele permitiu que a atual diretoria continuasse administrando o Sindicato. É uma coisa lógica”, ponderou o advogado.
Aloísio questionou ainda o motivo pelo qual Ronaldo e seu grupo teriam escolhido a sede da Câmara para realizar a assembleia que votou pela saída de Ataíde. “Por que na Câmara? Lá não é um local adequado para isso. Sindicato tem que ser independente e não pode estar subordinado ao empregador. Qual é o poder que essa Junta tem de realizar a assembleia dentro da Câmara? Então que se faça dentro da prefeitura. Realizar na Câmara tem mais uma conotação política. É tendencioso. Um sindicato não pode ter interferência da parte contrária. Eu suspeito que haja interesse do governo, porque o Sindicato incomoda”, sentenciou.
Aloísio aproveita e alerta sobre o edital que convoca uma assembleia para o próximo dia 11 de março, para confirmar a realização de novas eleições em 15 de abril. “Ataíde convocou a assembleia por uma questão jurídica, a pedido da Junta. Se o juiz decidir em favor do Ataíde, essa assembleia poderá ser cancelada”, resumiu.
De cara fechada, Ataíde mandou um recado aos diretores que renunciaram: “Eram um câncer que foi curado. Para o Sindicato, (a saída dos diretores) foi uma beleza, porque são pessoas que não têm vontade de trabalhar. Não estavam somando. Não adianta falar porque ninguém vai provar (as irregularidades)”, atacou.
A versão dos envolvidos
Procurado, Ronaldo Rodrigues voltou a chamar Ataíde de golpista, garantindo que nunca ofereceu cargos a ele. “Eu nunca conversei com o Ataíde sozinho justamente por saber que ele é um golpista. Nunca ia querer compor com quem enganou a minha categoria. Não sou ninguém para oferecer cargo”, disparou, salientando que a filha do presidente do SFPVR já é funcionária pública. “Ela trabalha na prefeitura, não sei em que cargo”, ponderou.
Quanto à conversa com Ataíde, Ronaldo disse que tentou apenas alertá-lo. E jura que não tentou suborná-lo. “Só pedi para ele abrir novas eleições. Dei um alerta”, explicou, afirmando que não tem nada a esconder. “Sou transparente e não me calo”.
Sobre a ironia do advogado de Ataíde, que questionou por onde ele esteve nos últimos quatro anos, Ronaldo foi taxativo: “Estava cumprindo minha carga horária. Eu apareci porque descobri o golpe que Ataíde deu no Sindicato. Afirmo que não tenho nenhuma pretensão política nisso tudo, ao contrário do ‘ex-presidente’, que já se candidatou duas vezes para a Câmara”, respondeu, admitindo que cumpria horário no gabinete da ex-vereadora América Tereza. “Estava cedido pela prefeitura”, resumiu.
Rejane do Couto Araújo também foi procurada e desmentiu a invasão da sede do SFPVR. “Sou uma mulher baixinha, com 56 anos. É pouco provável que consiga ser truculenta. Apenas estivemos na sede do Sindicato para informar que o senhor Ataíde fora destituído do cargo e lhe entregamos a ata”, defendeu-se. “Fizemos tudo dentro do estatuto”, afirmou, apresentando um vídeo onde ela e outros membros da Junta conversavam com Ataíde.
No vídeo, Ataíde aparece sentado, com um pedaço de madeira na mão. Em dado momento, ele se levanta, sai e volta com a Polícia Militar. “Houve truculência por parte dele, que chamou a PM onde só tinha trabalhador”, rebateu Rejane.
Sobre não ser filiada a nenhum sindicato do município e nem militar na cidade, Rejane explicou que deliberações na hierarquia sindical lhe permitem assumir um cargo na Junta Governativa. “Talvez ele (Ataíde) não conheça o movimento sindical. Sou servidora em Piraí e diretora de instituições de grau superior, que pode atuar legalmente nesses casos”, gabou-se. “Ataíde deveria aceitar a derrota, porque praticou muitos atos ilícitos e enganou a categoria. Deveria ter dignidade e desistir”, contra-atacou.