O consumo aumentou muito e a população não consegue economizar água
Por Mateus Gusmão
As torneiras estão vazias. Essa é a realidade que quase todos os moradores de Volta Redonda andam enfrentando e ainda de boa parte de quem mora em bairros de Barra Mansa, Barra do Piraí e até Pinheiral. E o vilão tem nome. É o Saae-VR, que não estaria dando conta do recado de fornecer água à população dessas cidades. Comandando a autarquia, o engenheiro Paulo César, o PC, lamenta a situação. Afinal, o calor anda insuportável e, apesar dos pedidos, pouca gente tem economizado o precioso líquido. Muitos continuam lavando carros, calçadas, desperdiçando água. Na semana passada, como o aQui o, divulgou, a UTI do Hospital Regional ficou sem água. Felizmente o problema foi resolvido.
A falta de água, dia sim e outro também, não tem data para terminar. Muito pelo contrário. Segundo PC, o consumo de água nesse período do ano, anormal, é bom que se frise, com temperaturas chegando a 40 graus, está cerca de 25% superior à capacidade da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Belmonte. Detalhe: a estação fornece água a Volta Redonda, abastece os bairros da região leste de Barra Mansa, do Complexo Califórnia, em Barra do Piraí, e ainda o empreendimento Reserva do Vale, de Pinheiral. Ou seja, a água de Volta Redonda – que falta na cidade – também abastece as casas de moradores de cidades vizinhas.
O engraçado é que PC, indevidamente crucificado em Volta Redonda, também enfrenta a ira de quem não mora na cidade do aço. Recebe até críticas de políticos de Barra Mansa, entre outros, que reclamam do Saae-VR. Marcelo Cabeleireiro, ex-deputado estadual, e pré-candidato a prefeito de Barra Mansa, é um deles. “Barra Mansa precisa de forma urgente buscar autonomia no abastecimento de água”, justificou, esquecendo que poderia ter proposto algum projeto de lei na Alerj a respeito do problema. Poderia também ter destinado verbas do Orçamento para a criação de uma ETA em BM.
Nas redes sociais, o problema da falta de água é abordado com frequência. “Eu até hoje não entendo o porquê de Volta Redonda ter que prover abastecimento de outras cidades vizinhas, sendo que o Saae é autarquia municipal, não estadual… Tudo bem que eles pagam pela água, mas quem faz o investimento em redes, equipamentos e manutenção é o SAAE e a PMVR, com o dinheiro apenas dos contribuintes de VR… Imagine se a Ponte Alta e o Belmonte fossem providos por água de Barra Mansa, não seria estranho? Ou Três Poços por Pinheiral, que é bem mais perto…”, comentou o internauta que se identifica como Onofre Cicutiano Silvestre.
Duras alternativas
Diante das críticas dos internautas, o aQui procurou o diretor-presidente do Saae-VR, Paulo César de Souza, o PC, para saber, entre outras coisas, se haveria a possibilidade de interromper o abastecimento para outras cidades. PC tranquilizou os vizinhos, mas deu um recado aos políticos dessas cidades: é necessário que os municípios criem alternativas para serem independentes no abastecimento de seus moradores. “A Estação de Tratamento de Água de Volta Redonda é única e abastece todos. Nas eventuais paradas da estação ou de adutoras ou elevatórias, todos são afetados. A estação teve sua última atualização em 1982 e, deste período até os dias atuais, a população em todos os locais cresceu muito”, explicou PC.
Tem mais. PC informou que no período de calor intenso registrado nos últimos dias, a demanda chegou a ser de 20% a 25% maior do que a ETA Belmonte tem capacidade de produzir. Por isso, ele destaca a importância de Barra Mansa e Barra do Piraí serem autossuficientes. “Seria importante a atuação dos políticos junto aos seus partidos para conseguirem verbas para a construção de estações de tratamento em suas cidades”, avaliou.
Apesar da dica enfática, PC garante que não há risco de o Saae priorizar o abastecimento de Volta Redonda e deixar de atender os municípios vizinhos. “O prefeito Neto nunca cogitou fazer tal ação. Ele defende a teoria de que o povo não pode ser prejudicado. Nunca passou pela nossa administração essa ideia”, garantiu, salientando que abastecer a região leste de Barra Mansa e a Califórnia, por serem distantes da ETA Belmonte, é mais demorado.
Provocado pelo aQui a dizer se acha justo a população de Volta Redonda sofrer com falta d’água enquanto o Saae-VR abastece outras cidades, PC preferiu não opinar. “Não compete a mim avaliar se é justo ou não, apenas acho que a cidade de Barra Mansa deveria priorizar o abastecimento através de estações e redes. No caso de Barra do Piraí, fizemos projetos de estação, redes e reservatórios e apresentamos em diversos governos, tivemos a resposta que Barra do Piraí está fazendo a concessão dos serviços. Já poderíamos ter resolvido essa situação”, disse.
O diretor-presidente do Saae-VR, entretanto, revelou que não existe qualquer documentação – ou lei – que obrigue o município de Volta Redonda a abastecer regiões das cidades vizinhas. “No caso de Barra Mansa, eu desconheço. Na minha gestão, não tenho conhecimento, apenas continuamos fazendo algo que já era feito. No caso de Barra do Piraí, foi feito um convênio que expirou em 2013”, disse.
Segundo dados do Saae, a autarquia vende água diretamente para o Saae de Barra Mansa, que se encarrega de fazer a distribuição e a cobrança do produto de seus moradores (com aumento, grifo nosso). “Para Barra Mansa, vendemos a água a R$ 4,35 m3 até 150.000 m3. Acima dessa quantidade, o valor é de R$ 6,12 o m3, sendo que o valor médio da fatura é de R$ 608.360,15. O Saae-BM, por sua vez, vende a água aR$64,64m3(10m3 água e esgoto)”, detalhou. “A tarifa mínima em Volta Redonda custa R$ 35,00. Em Barra Mansa é R$ 65,00”, comparou PC, lembrando que em Barra do Piraí a distribuição e a cobrança são feitas diretamente pelo próprio Saae- VR. Existem, segundo ele, 4.300 ligações de água, gerando um faturamento de R$ 284 mil/mês.
Caixa d’água
O aQui também aproveitou para perguntar a PC sobre a possibilidade de se criar uma campanha para a população dessas cidades trocar caixas d’água para unidades com maior capacidade de armazenamento. “O mundo mudou, a água é um bem finito e estão cada vez piores as mudanças climáticas. Nos dias atuais, ter uma caixa d’água de menos de 1.000 litros é uma aberração. O Saae não para de divulgar e pedir aos moradores que aumentem a vazão. O Saae não tem recursos (para fazer campanha), mas os usuários podem financiar em lojas em até 12 vezes. Em relação à população mais carente, poderia se tentar algo através dos vereadores. Poderiam arrumar verbas para doação de caixas d’água”, sugeriu.
NOTA DA REDAÇÃO: O aQui procurou as prefeituras de Barra Mansa e Barra Piraí para saber se haveria a possibilidade de criarem estações de tratamento de água próprias para abastecer as regiões que hoje são atendidas por Volta Redonda. A prefeitura de Barra Mansa não respondeu os questionamentos.
Já a prefeitura de Barra do Piraí enviou uma nota dizendo que há relatos de que o SAAE-VR presta um bom serviço no Complexo Califórnia, mas a PMBP aponta que já está na hora de ela assumir os serviços naquele distrito. E, por conta disso, existe um processo de concessão em curso para abarcar 100% do município barrense. Essa concessão contempla a construção de novas ETAs para locais como a Califórnia. “Acreditamos que, tão logo seja assinado o contrato, os principais locais a serem assistidos são os distritos”, pontuou.
Ao todo, em toda Barra do Piraí, a empresa vencedora do processo de concessão dos serviços sanitários tende a investir cerca de R$440 milhões em obras de infraestrutura na construção de ETAs e ETEs, em toda a cidade barrense. “Apontamos que Barra do Piraí já deveria ter esta estrutura. No entanto, os entraves burocráticos ajudam a emperrar o avanço do processo”, completou a prefeitura, fazendo questão de agradecer a Volta Redonda pela distribuição de água no distrito de Califórnia.