Parece piada…

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Roberto Marinho

Quem leu a edição do dia 19 de março do ‘Volta Redonda em Destaque’ – o diário oficial do município – com certeza tomou um enorme susto quando chegou à página 5, onde está publicada a portaria 2137/2019, da secretaria Municipal de Administração (SMA): ela corresponde à nomeação, para o cargo de assessor técnico III, na Assessoria Técnica da SMA, de um cidadão batizado com o nome de Antônio Francisco Neto. Isso mesmo, até prova em contrário, o mais novo CC (cargo comissionado) do Palácio 17 de Julho seria o ex-prefeito Neto.

Antônio Francisco Neto, ou simplesmente Neto, maior rival político do prefeito Samuca Silva, estaria trabalhando na prefeitura de Volta Redonda, subordinado como simples CC a Carlos Baía. Detalhe: apesar de o DO ter sido impresso com a data de 19 de março último, a nomeação de Neto foi feita com data retroativa a 2 de dezembro de 2019. Isso mesmo, Neto (político) ou Neto (ilustre desconhecido) já teria recebido salários em dezembro, janeiro e fevereiro, tendo direito a receber o do mês de março, pois sua exoneração até ontem, sexta, 27, não tinha sido publicada em alguma outra edição do “VR em Destaque”.

O fato é que a nomeação de Neto, retroativa a 2 de dezembro de 2019, causou estranheza em todos os que tomaram conhecimento do caso. Nos corredores da Câmara, a bomba levantou suspeitas. Seria uma armação, como a que teria envolvido o vereador Paulinho do Raio-X, preso em flagrante quando tentava extorquir o prefeito Samuca Silva? Ou tudo não passaria de uma tremenda coincidência?

Procurado pelo aQui, o ex-prefeito Neto inicialmente disse que já tinha sido alertado da “coincidência”, mas não teria dado muita bola para a incrível história. “Alguém me falou, mas disseram que não sou eu, dizem que é um homônimo. Mas não cheguei a verificar”, disse, descartando de cara a hipótese de ter realmente sido nomeado e, pior, estar trabalhando para Samuca. “Não tem lógica nenhuma”, disparou.

Sobre a possibilidade de ser um homônimo, Neto disse que até conhece alguém com o mesmo nome que ele, mas não em Volta Redonda. “Conheço, sim (alguém com seu nome). Toda vez que vou registrar minha candidatura, tenho problemas, mas a pessoa não é de Volta Redonda”, pontuou.

O mais estranho na história da existência de um possível homônimo é que o nome de Neto, além de ser muito conhecido em Volta Redonda, é formado só por “nomes comuns” – Antônio, Francisco e Neto – e não sobrenomes, como Silva, Pereira ou Faria. Ou seja, seria uma gigantesca coincidência alguém de Volta Redonda ou de alguma cidade vizinha ter exatamente o mesmo nome e sobrenome do ex-prefeito. E ainda ser contratada para trabalhar no Palácio 17 de Julho, no governo Samuca.

Neto também foi confrontado diante da possibilidade de tudo não passar de uma “nomeação fantasma” feita pelo governo Samuca sem o seu conhecimento, já que só a portaria não o colocaria no cargo, uma vez que o documento de posse precisaria da assinatura de Neto e do secretário Carlos Baía. Questionado se isso poderia ser usado para prejudicá-lo na campanha eleitoral, Neto disse que a história não fazia muito sentido.

“Já tinham me falado (sobre a possibilidade do governo Samuca tentar prejudicá-lo), mas acho que não tem razão pra fazer isso. A informação que eu tenho é essa, que é um homônimo, e quem me passou disse que ia verificar no RH (da prefeitura)”, afirmou, completando: “Acho que seria muito sujo, não acredito (na hipótese)”, sentenciou, aproveitando para, entre risos, perguntar ao repórter quanto ganharia alguém no cargo de assessor técnico III. “Quanto ganha um cara desses?”, indagou.

Tem mais. A história – que poderia ser uma piada, mas não é – deixou o ex-prefeito com a pulga atrás da orelha. “Nem dei muita importância. Mas agora vou verificar”, prometeu.

Mistério desfeito

O aQui também procurou o prefeito Samuca Silva para tentar entender a história. Questionado sobre a estranha nomeação e ao ver a portaria publicada, o prefeito reagiu, incrédulo: “Como assim?!”. Imediatamente, mandou chamar o responsável pela área de Recursos Humanos da prefeitura para saber o que havia acontecido. E o mistério foi desfeito. O nome completo do cidadão nomeado é Antônio Francisco dos Santos Neto, nascido em 1963. Seria morador do Retiro. “Foi só um mal entendido”, disse Samuca, visivelmente aliviado.

O próprio prefeito chegou a levantar a tese de que poderiam usar o fato na campanha mas, na verdade, para prejudicá-lo. “Será que os caras armaram alguma coisa para depois falar na campanha que eu fiz isso para prejudicar o Neto?”, ponderou, aproveitando para dar a mesma resposta que Neto deu sobre o fato de trabalharem “juntos”: “Não faz nenhum sentido”, disparou.

O secretário de Administração, Carlos Baía, que estava na sala de espera do gabinete, aguardando para entrar em uma reunião com Samuca, foi questionado sobre a situação, e explicou que tudo indica que na publicação da portaria, o nome do meio do cidadão foi omitido e saiu errado.

“Nós vamos inclusive publicar uma errata dessa nomeação”, afirmou Baía, visivelmente tenso com a confusão. O secretário também afirmou que enviaria ao jornal os detalhes sobre o homônimo do ex-prefeito – com filiação e CPF – mas, até o fechamento desta edição, as informações ainda não haviam sido encaminhadas ao aQui.