Por Roberto Marinho
No xadrez eleitoral, o xeque-mate inevitável é o resultado das eleições, quando a população faz o movimento final nas urnas, determinando os vencedores da partida. E os resultados podem surpreender, quando alguns “reis” não ficam de pé depois da sacudida no tabuleiro. Foi o que aconteceu com alguns medalhões da política de Volta Redonda, que sempre tiveram uma grande quantidade de votos, seja para si próprios, seja apoiando alguém. Entre eles estão o ex-prefeitos Antônio Francisco Neto e o ex-deputado federal e também ex-prefeito Paulo Baltazar.
Apesar das eleições para deputado terem uma dinâmica completamente diferente da eleição para prefeito, a eleição de Baltazar (PDT) e de Munir Neto (PTB) – nome que o irmão do ex-prefeito Neto adotou na campanha – para deputado estadual, e Deley de Oliveira (PTB) para deputado federal, eram dadas quase como certas. No caso de Munir e Deley, os bastidores apontavam uma disputa difícil. Para Munir, por causa da quantidade de candidatos ligados ao grupo de Neto, reconhecidamente um dos nomes mais fortes da política regional, e para Deley, por causa da “invasão” de candidatos de fora. No caso de Baltazar, as chances eram bem maiores.
Mas não foi bem assim que aconteceu. Munir teve 18.718 votos, sendo 13.408 em Volta Redonda. Apesar de o total ser expressivo, ficou abaixo do esperado e não o levou à Alerj. Deley, por sua vez, teve um total de 21.377 votos, mas somente 8.305 em Volta Redonda, menos da metade do que teve nas últimas eleições. Baltazar chegou bem mais perto, com 27.558 votos, 18.633 deles em Volta Redonda. Assim como Munir, o número não foi suficiente para levá-lo para a Assembleia Legislativa.
Outros candidatos, que já foram ou ainda estão ligados a Neto – como Jari (PSB), Márcia Cury (SD) e Dinho (Patriotas) – tiveram um bom desempenho nas urnas, o que ajuda a explicar em parte a votação de Munir, considerada muito baixa por alguns. Neto concorda em parte, mas deixa no ar que não foi uma estratégia dele a quantidade de candidatos ligados ao seu grupo político.
“Isso sempre acontece, é um direito de todos (quererem se lançar candidatos), é um país democrático. Mas certamente dividiu muito, é um fator que atrapalha”, afirma, atribuindo ainda à onda Bolsonaro outra parcela da “culpa” pelas derrotas. “O povo queria votar no Bolsonaro e foi isso que aconteceu. E essa onda foi mais forte no final. A gente sentia a vontade do povo de votar nos candidatos ligados ao Bolsonaro. É isso, não se vence todas, já ganhamos muitas eleições”, avaliou, resignado.
Neto reconhece ainda o desempenho do grande campeão de votos, o delegado Antônio Furtado, candidato do PSL de Bolsonaro à Câmara dos Deputados, que chegou aos incríveis 104.208 votos, tendo obtido mais de 54 mil só em Volta Redonda. Furtado fez um estrago nas urnas da região, e afundou a maioria das candidaturas para deputado federal.
“No caso do Deley, o povo queria votar nos candidatos do Bolsonaro (Furtado entre eles). O Deley é ficha limpa, nunca ninguém ajudou tanto Volta Redonda, que perde o maior representante que a cidade já teve na Câmara Federal. Tenho certeza que vai fazer falta”, disse Neto, que acredita que o novo campeão de votos vai fazer um bom trabalho no Legislativo Federal. “Acredito no Furtado, é uma pessoa do bem, gosta de Volta Redonda e reconhece que a cidade ajudou ele. Vai ser um bom deputado também”, avalia.
O ex-prefeito Paulo Baltazar (PDT) é outro que credita parte da sua derrota à onda bolsonarista, mas afirma que a forma com que foram feitos os repasses do fundo partidário limitaram a sua campanha. “Acho que a eleição, do ponto de vista da minha campanha, não foi uma surpresa: os partidos privilegiaram os federais que tinham mandato. Recebi R$ 25 mil do partido, o que é muito pouco. Recebi ajuda de algumas pessoas, mas é muito pouco. Eu era um candidato a deputado estadual, sem mandato”, disse ele, atribuindo também à quantidade de candidatos a perda de votos.
“Outro ponto é que nossa base eleitoral – Volta Redonda – é fértil em candidatos, e candidatos bons. Tiveram três ou quatro com quase 20 mil votos; o Munir, a Márcia, o Jari. Se eu não tivesse saído candidato, o Munir ou o Jari teriam sido eleitos, e vice versa. Por causa da minha trajetória, tive alguns votos fora, mas aqui os votos foram muito divididos”, pontua. Mas, assim como Neto, Baltazar também sentiu os efeitos da onda Bolsonaro e a questão da segurança pública que ele carrega a tiracolo, e que varreu o país.
“Outra coisa é que muitos candidatos surfaram na onda Bolsonaro. No Brasil inteiro, os candidatos ligados à polícia, juízes, vários ligados à segurança, foram eleitos. O Witzel (candidato do PSC ao governo do Estado, que vai para o segundo turno contra Eduardo Paes, e que apoia Bolsonaro), por exemplo, é um ilustre desconhecido. Então houve um conjunto de fatores”, destaca Baltazar, considerando ainda a quantidade de pessoas que não foram votar.
Fazendo as contas, Baltazar também conclui que poderia ter tido sucesso se tentasse a vaga para a Câmara Federal, mas diz que não se arrepende da decisão de optar pela Alerj. “Se eu saísse candidato a deputado federal pelo PDT, teria sido eleito com meu número de votos. Mas depois do jogo jogado, é fácil fazer previsões. Mas estou em paz. Defendi minhas propostas – como a criação da região Metropolitana do Sul Fluminense”, aponta, afirmando que espera que quem se elegeu “trabalhe duro”. No entanto, lamentou que “Volta Redonda vá ficar sem representante na Alerj”.
E 2020?
Se dependesse do resultado das urnas, talvez Neto desanimasse para concorrer ao Palácio 17 de Julho em 2020. Mas, com o peso de quatro mandatos à frente do município, este não parece ser o caso. “Acho que o pedido para minha volta e a votação do Munir e do Deley não tiveram nada a ver. Volta Redonda teve a onda (de candidatos ligados a) Bolsonaro e com todas essas pessoas na mesma área, os votos foram muito divididos. A frase que mais ouvi, independente do voto das pessoas, foi “volta, Neto, por favor”. Vou atender à população e vou ser candidato”, dispara, aproveitando para provocar o prefeito Samuca Silva. “Vou ser candidato muito pelo que ouvi da população. Sou apaixonado pela cidade e lamento muito o momento que está passando. O prefeito deveria trabalhar um pouco mais e me esquecer”, pontuou, acrescentando que a soma dos votos dos candidatos ligados a ele chega a quase 100 mil votos.
Já Baltazar afirmou que não tem planos imediatos para 2020, mas deixou no ar a possibilidade de uma candidatura à prefeitura. “O futuro ainda não pensei. Como dizem os antigos, é preciso primeiro lamber as feridas. Mas quero continuar ajudando a região, mas sem nenhuma ambição pes-soal. Se for um soldado importante, estou à disposição”, diz ele, completando: “2020 ainda está muito distante, posso ser candidato ou não”.
Bolsonaro preocupa
Se a “onda Bolsonaro” provocou reviravoltas nas urnas, um possível governo do polêmico candidato – conhecido por seu discurso agressivo – preocupa tanto Neto quanto Baltazar. “Fico um pouco receoso, preocupado, com algumas posições que estou ouvindo”, afirmou Neto, que atribui parte do espaço que o discurso bolsonarista tomou a uma falha da própria classe política. “Talvez a situação que se encontra hoje, os culpados sejam os próprios políticos, que decepcionaram muito a população”, calcula.
Neto afirmou ainda que vai trabalhar fortemente para tentar eleger Eduardo Paes (DEM), candidato que apoiou ainda no primeiro turno, contra Wilson Witzel. “No estado do Rio, acho que o Paes é o único com capacidade de mudar a situação. Vou ajudar o Paes como nunca no segundo turno”, prometeu. Já Baltazar diz que um provável governo Witzel é temerário, pela falta de experiência do candidato. “O provável governador, o Witzel, é sem experiência, e com Volta Redonda sem representante para defendê-la, é muito ruim”, diz, para acrescentar: “Uma preocupação é um discurso muito raivoso e carregado de ódio. Isso não faz bem. O Brasil não pode ser reconstruído pelo ódio. Os dois não são bons conselheiros: nem o medo, nem o ódio”, salienta Baltazar, fazendo a ressalva de que “a alternância de poder é boa”.
O ex-prefeito e ex-deputado federal dizem acreditar que o país conseguirá superar eventuais excessos de um governo Bolsonaro. “Acho que no Brasil há um arcabouço jurídico e institucional forte o suficiente. Agora, temos que aguardar, ver se o cara (Bolsonaro) está falando sério ou é maluco mesmo”…