sexta-feira, junho 2, 2023

Novo cangaço

Assalto a bancos de Quatis mostrou que a bandidagem de fora continua agindo na região

Pollyanna Xavier

O assalto às agências do Banco do Brasil e Caixa Econômica de Quatis, em pleno Carnaval, e a ação rápida da Polícia Militar, que prendeu a maioria dos assaltantes em uma caçada que durou cinco dias, reacendram uma antiga preocupação da população: a de que criminosos da capital e Baixada estariam agindo na região. A questão ficou clara quando a PM efetuou as primeiras prisões e constatou que os bandidos eram do Rio. Um deles, Jorge Ribeiro, o Zidane, era gerente de ponto da Favela Nova Holanda, em Bonsucesso, fugitivo do sistema prisional, onde cumpria pena por homicídio qualificado, tráfico de drogas e associação para o tráfico. Integrante do Comando Vermelho, Zidane foi preso na Dutra, tentando fugir de Quatis.
Além dele, outros integrantes do Comando Vermelho, como João Vitor Ramos e Jonathan Bartkevihi, também foram presos. “Aquela questão foi muito pontual. Eram criminosos ligados à facção CV do Rio e também de São Paulo. Posso garantir que os bandidos de fora não estão agindo na região”, pontuou o comandante do 5º Comando de Policiamento de Área (5º CPA), coronel Marcelo Moreira Malheiros. Segundo ele, o crime organizado facilita o intercâmbio entre bandidos de outras regiões, mas que pertencem à mesma facção. É por isto que dentre as 10 prisões efetuadas pela PM, pelo menos quatro eram de Barra Mansa e Volta Redonda, que não participaram diretamente do assalto, mas que por serem da mesma facção, foram até Quatis para dar fuga aos criminosos de fora.
Para o coronel Malheiros, a ação da PM foi exitosa, porque os bandidos não contavam que o policiamento na cidade estivesse reforçado em pleno feriado. “Eles devem ter pensado que, por ser Carnaval, cidade do interior, sem festividade nas ruas por causa da pandemia, não teria policiamento. Na visão deles, o cenário era perfeito. Mas eu aumentei o efetivo na DPO de dois para oito homens e, embora tenha ocorrido o ataque à base, a nossa resposta foi rápida e precisa”, avaliou, apresentando o saldo da operação: 200 policiais envolvidos, 10 prisões, dois bandidos mortos, farto material apreendido, um malote com quase R$ 13 mil recuperados, varredura aérea feita por helicópteros da PM. Tudo em cinco dias.
A operação foi cansativa porque aconteceu na mata, sob um calor de quase 40 graus. Assim que explodiram os caixas eletrônicos, os bandidos – 15 ao todo – foram surpreendidos pela Polícia Militar quando se preparavam para fugir em quatro automóveis – um deles roubado momentos antes. Na fuga, abandonaram dois carros e correram para uma área de mata no entorno de Quatis. “À medida que a gente ia prendendo os caras, eles apontavam onde estavam escondidos os demais e iam nos dando informações e detalhes do assalto”, contou o coronel Malheiros. Ainda de acordo com o oficial, as polícias Civil e Rodoviária Federal foram parceiras em toda a ação, ajudando nas investigações e no controle das estradas, para evitar a fuga pela Via Dutra.
Para o comandante, pelo menos três homens conseguiram escapar do cerco policial. “Fechamos as entradas e saídas de Quatis e Porto Real. Monitoramos a Dutra, fizemos uma varredura na mata. A ação foi um sucesso e os policiais envolvidos ficaram motivados, porque a população respondeu com agradecimentos, faixas, crianças fizeram desenhos, o prefeito veio falar com a gente. Isto deu um gás na tropa e aumentou a confiança da população na PM”, acredita. E é com base nesta confiança, continuou o comandante, “que a população não precisa se preocupar de a região estar virando um novo cangaço, com a possível ação de criminosos de fora, porque não está”, garante.
“Não é um novo cangaço. Conseguimos frustrar a ação dos bandidos e de quebra prendemos os bandidos daqui que ajudaram os de fora. Estamos atentos e eu posso garantir que este assalto foi pontual. As ocorrências de fora são de intercâmbios que acontecem com integrantes da mesma facção que moram, no máximo, em Angra dos Reis. Este é o mais longe que já registramos aqui. O restante é situação pontual, que não acontece sempre e não faz parte da rotina do Batalhão. Não é para a população se preocupar”, concluiu.
O Assalto
No final da madrugada de segunda de Carnaval, 28, a população de Quatis acordou com barulhos de tiros de fuzil e bombas. Um grupo de criminosos com 15 homens atacou os bancos do Brasil e Caixa Econômica, no Centro, levando uma grande quantia em dinheiro. Do valor total que não foi revelado, a polícia recuperou um malote com R$ 12.750,00, que foram deixados para trás na fuga. Antes do ataque, os bandidos abriram fogo contra o DPO de Quatis e a 3ª CIA da PM, em Porto Real, e destruíram a única viatura que estava no local. Nenhum policial ficou ferido.
O Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) foi acionado e reforçou o policiamento feito por homens do 28° (Volta Redonda) e 37° BPM (Resende). Para a PM, o dia mais emblemático da operação foi a quarta, 2, quando policiais foram recebidos a tiros numa área rural da cidade. Houve confronto e dois criminosos foram mortos. Há relatos nas redes sociais que, ao longo dos cinco dias, bandidos teriam rendido moradores de Quatis, dentro de suas casas, inclusive tarde da noite, atrás de alimentos e água.
Se isto aconteceu, de fato, ninguém sabe. Na 100ª DP de Porto Real, que registra ocorrências de Quatis, não há boletins neste sentido. Somente as ocorrências das prisões efetuadas. Aliás, essas prisões provam que os bandidos que agiram no assalto aos bancos não são daqui. São cangaceiros!

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