“Não guardo mágoa”

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Por Vinicius de Oliveira

 

Embora o prefeito Samuca Silva insista em dizer que não está pensando nas eleições de 2020 (e está), sua mais nova aliada, a ex-vereadora América Tereza (MDB), não esconde de ninguém que seu propósito, ao aceitar fazer parte do governo Samuca, é bem claro: quer reconquistar sua cadeira na Câmara de Volta Redonda. E, em entrevista exclusiva ao aQui, a ex-aliada de Neto anuncia que vai se abrigar no ninho tucano para se lançar como candidata a vereador pelo PSDB.    

Depois de cinco mandatos consecutivos como vereadora de Volta Redonda – chegou a ser presidente da Casa e, neste período, prefeita interina por apenas dois dias –, a ex-catadora de tomates, como todos sabem, perdeu as eleições municipais para Samuca e passou os dois últimos anos meio que esquecida pelos eleitores. Foi por essas e outras que Tereza não pensou duas vezes para aceitar o comando da secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, Idosos e Direitos Humanos (Smidh), mesmo que isso signifique ajudar a puxar o tapete daquele que foi, por muito tempo, seu grande mentor: o ex-prefeito Neto. 

Na entrevista exclusiva concedida na tarde de quarta, 18, Tereza garantiu que não se sente em dívida com Neto. Pelo contrário. Tem a sensação do dever cumprido e admite que se alguém pisou na bola foi o ex-prefeito, já que, mesmo tendo se mantido fiel a ele durante o período que foi vereadora, Neto fez questão de desprestigiá-la, apoiando a candidatura de qualquer um, menos a dela. “Ninguém naquela Câmara foi mais fiel a ele [Neto] do que eu. Quando ele passou por momentos difíceis, como o seu processo de cassação e a última greve importante dos funcionários públicos, fiquei do lado dele. O defendi porque éramos do mesmo partido e eu entendia que era o certo a se fazer”, lamenta Tereza. 

A nova integrante do governo Samuca suspeita que a indiferença de Neto por ela tenha começado justamente depois que ela, como prefeita interina (mesmo que por dois dias), exonerou o então impopular comandante da Guarda Municipal, Major Luiz Henrique. “Ele [Neto] não gostou. Perguntou o que eu estava fazendo. Disse que era uma prerrogativa minha e que quando ele voltasse para a prefeitura, era só readmitir o major. E foi exatamente o que aconteceu”, relatou América Tereza, garantindo que não demitiu Luiz Henrique por questões pessoais. “Não guardo mágoa de ninguém, nem do major. Eu só atendi a um apelo da população. Me lembro que um dia, na Câmara, um guarda me parou e disse que se não fosse feita alguma coisa, ele daria um tiro no major. Eu estava preocupada que uma tragédia acontecesse”, pontuou. 

Durante a entrevista, Tereza fez questão de lembrar que Neto foi resistente à sua candidatura à prefeitura de Volta Redonda mesmo com as pesquisas internas indicando, segundo ela, que os favoritos do ex-prefeito não tinham a menor chance. “Na época, Neto disse que o candidato dele seria o Deley [de Oliveira, ex-deputado federal e amigo íntimo de Neto]. Só que ele não estava bem nas intenções de voto e o MDB, meu antigo partido, declarou que eu seria a candidata. Ainda assim, Neto não aceitou e disse que se não fosse Deley, seria o Sebastião Faria. Este também não foi bem recebido e o partido começou a exigir que Neto me apoiasse”, relembrou Tereza. 

O problema, como Tereza fez questão de relembrar, é que o apoio de má vontade do ex-prefeito saiu, para ela, como um tiro pela culatra, acertando em cheio seu próprio rosto com a pólvora amarga da derrota. “Na época, campanha que tivesse o Neto junto era barata. Mas, no meu caso, saiu bem caro”, disparou, de forma irônica. 

Agora, América Tereza garante que tudo são águas passadas. Admite que Neto ainda não é um defunto eleitoral, pois tem nas veias o sangue azul da política correndo inexoravelmente, mas não pretende seguir novamente seus passos. Prova disso é que abriu mão definitivamente de concorrer à prefeitura da cidade do aço e ainda pretende migrar para o partido do atual prefeito, o PSDB. “Eu vou seguir o partido do prefeito. Vou me filiar ao PSDB. Aceitei fazer isso porque há muito tempo ele já me sondava e achei muito boas as propostas”, resumiu.  

Outro detalhe que encheu os olhos de Tereza foi o fato de poder assumir a secretaria que ajudou a criar, através de um PL de sua autoria de quando ainda era vereadora. Mais um desejo negado a ela pelo então prefeito da época e seu mentor, Antônio Francisco Neto, que preferiu nomear Glória Amorim em seu lugar. “É um sonho realizado. Foi com muito carinho que pensamos na secretaria da Mulher”, concluiu. 

Projetos 

Após um ano presidindo a FIA (Fundação para a Infância e a Adolescência), autarquia ligada ao governo do Estado, Tereza trouxe na bagagem projetos que pretende implementar em Volta Redonda que visam a garantia de Direitos Humanos, principalmente para pessoas com deficiências. “Pela FIA, lidei com muitas crianças deficientes. É triste vê-las jogadas, sem carinho, sem mães e sem acessibilidade. Aprendi muita coisa trabalhando no Rio e, então, desenhei alguns projetos para nossa cidade. Eu gostaria, por exemplo, de praças-polos, com brinquedos adaptados. O primeiro lugar seria no horto florestal. Também tenho a ideia de implementar sinais sonoros de trânsito para ajudar os deficientes visuais. Mas para tudo isso precisamos de verba”, afirmou, adiantando que na segunda, 23, vai se encontrar com a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. “Vou mostrar minhas ideias e tentar obter verbas”, justificou. 

Tereza diz ainda que pretende fazer o contrário do que fazia sua antecessora na pasta, Dayse Penna. Conforme o aQui já noticiou dezenas de vezes, a ex-secretária não era famosa por sua intimidade com os movimentos sociais ligados ao povo negro, à comunidade LGBTI e nem às mulheres, clientela da Smidh. “Quero ouvir a todos, saber quais são as demandas de todos para, assim, poder ajudar. Inclusive guardei um cargo para uma negra. Ela só não apareceu ainda”, disparou Tereza, mostrando que é muito diferente de Dayse no trato com as minorias. 

Ao ser questionada como lidaria com as demandas do público LGBT, que vem se organizando cada vez mais, Tereza diz que está esperando a visita do coordenador da ONG Volta Redonda sem Homofobia, Natã Teixeira Amorim, para tratarem do tema, mas deixou claro que não baterá de frente com Samuca. Para quem não se lembra, o prefeito andou colocando empecilhos para a realização da Parada Gay. Chegou a condicioná-la à afastada Radial Leste, o que desagradou a militância. “Essas festas têm crescido. E são boas, sem violência. Mas uma coisa é apoiá-los, outra é interferir na política do prefeito”, pontuou.