sexta-feira, abril 19, 2024
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Votação em candidatos de fora impediu eleição de políticos da região

Vinicius de Oliveira

Mais uma vez o Sul Fluminense é obrigado a amargar um triste resultado nas urnas. Apesar de sua importância, não elegeu ninguém para a Câmara. Em compensação, elegeu seis deputados estaduais. Ou seja, os cerca de um milhão de eleitores preferiram votar em candidatos de fora, os famosos ‘forasteiros’, que só aparecem, com exceções, de quatro em quatro anos. Aliás, em Volta Redonda e Barra Mansa, mais de 117 mil votos foram para deputados estaduais de fora. Para federal, o desperdício foi ainda maior: Mais de 150 mil eleitores votaram em quem não é da terrinha.
Entre os sortudos que conseguiram uma cadeira na Alerj estão André Corrêa (PP), de Valença, que mora na capital; Célia Jordão (PL), de Angra dos Reis; Gustavo Tutuca (PP), de Piraí, e que mora em Volta Redonda; os volta-redondenses Jari (PSB) e Munir Neto (PSD) e, finalmente, Tande Vieira (Pros), de Resende. Todos os outros ficaram de fora, caso do barra-mansense Marcelo Cabeleireiro (DC), tido como forte candidato à reeleição.
Cabeleireiro, próximo a Rodrigo Drable, estabeleceu parcerias importantes com outros prefeitos e, mesmo com 31.556 votos, não se reelegeu por conta do famigerado quociente eleitoral, girando em torno de 90 mil votos. “Agradeço a confiança e o apoio de cada um que acreditou em nosso trabalho e em nossas propostas. Foram mais de 31 mil votos. Infelizmente a expressiva votação não foi suficiente para garantir a continuidade de nossa atuação na Alerj. Mas certamente dias melhores virão”, comentou, confiante e frustrado ao mesmo tempo, ao montar uma legenda – ele é o presidente estadual do DC – com nomes fracos na rabiola.
A petista professora Clarice, que concorreu à prefeitura de Barra Mansa em 2018, também ficou a ver navios. “Quero agradecer aos meus 6.400 eleitores que confiaram no projeto que tem o nome da Professora Clarice como protagonista, mas é um projeto coletivo. Para nós, a vitória também vem acompanhada destes votos, da luta ideológica, do projeto de uma nova sociedade, do choro de um abraço durante a caminhada, de uma palavra que diz: ‘não desista, porque você nos representa’, afirmou Clarice, que ficou atrás de Inês Pandeló, a ex-prefeita, também do PT, que obteve 10.448 votos no total.
Thiago Valério (PDT) também se deu mal. Usando como mote de campanha a ideia de que o futuro de Barra Mansa começaria com sua eleição, o ex-vereador só obteve 6.261 votos. Mesmo assim, foi o segundo mais votado da cidade. “Não foi dessa vez, mas a gente segue firme e acreditando que é só através da política pública que a gente vai melhorar a qualidade de vida do cidadão. Agradeço a cada um que confiou e acreditou no nosso trabalho e vamos em frente”, agradeceu.
Entre os candidatos a estadual por Volta Redonda, muitos sentiram a frustração da derrota. Foi o caso de Renan Cury. Foi o sétimo mais votado de seu partido (19.413 votos) e o terceiro da cidade (15.517 votos), mas ficou de fora pelo quociente eleitoral. “Quero agradecer a todos que confiaram e votaram em mim. Infelizmente os votos não foram suficientes para eleição. A vida é assim, um dia ganhamos e no outro perdemos, seguiremos sempre trabalhando. Tenho em mente que fizemos uma campanha limpa, com poucos recursos e com muito trabalho. Aproveito para parabenizar meus adversários que conseguiram a eleição e que são da região. Precisamos de um Sul Fluminense forte”, ponderou.
Betinho Albertassi obteve 22.414 votos e, apesar de ser um forte comunicador, usou poucas palavras ao agradecer aos eleitores no Instagram: “Bom dia, minha gente! Muito bom estar de volta à rádio 88 no nosso programa fato popular. Obrigado a todos pelas mensagens de carinho e apoio. Deus abençoe a todos”, publicou.
Para deputado federal, a vergonha alheia é grande. Ninguém se deu bem. Nem mesmo Antônio Furtado (UB) – que em 2018 se elegeu, graças a Bolsonaro, com 104.211 votos e que chegou a mudar-se para a cidade do aço para tentar aparentar ser daqui. Não conseguiu. “(No dia da eleição) fiz uma oração onde pedi a deus que concedesse a vitória tão buscada por nós com trabalho e entusiasmo. Pedi que fizesse a sua vontade e se não fosse a nossa tinha certeza de que seria pro bem. Mas a eleição não veio e agradeço aos 35 mil amigos e amigas que reconheceram nas urnas o trabalho feito em Brasília e Rio nestes quase quatro anos. Mas vamos encerrar o mandato com a sensação de dever cumprido. Impossível não ficar triste, mas a tristeza passará e ficarão as relações”, comentou.
Quem não levou, apesar do apoio que tinha do prefeito Neto, foi o ex-deputado federal Deley de Oliveira. “A gente dizia na campanha ‘você não me vê, mas eu tô aí perto de você’. Vou estar sempre”, disse o ex-jogador do Fluminense todo alto-astral, aproveitando para agradecer seus apoiadores. “Quero agradecer a todos que nos ajudaram a caminhar nessa luta que não é fácil. Quero agradecer muitas pessoas, como o Neto, mas se for dar no-me a todos que queria agradecer, ficaríamos aqui sei lá quantas horas. Vou fazer pessoalmente”, prometeu.
Sem o mesmo espírito de Deley, o ex-prefeito Samuca Silva, assim que viu o resultado das eleições, abandonou a internet e os eleitores. Apagou tudo e sumiu. Também pudera, recebeu apenas 2.147 votos. Um fracasso. Em contrapartida, o vereador Jorginho Fuede lidou melhor com a derrota. “Hoje eu venho aqui agradecer o voto de confiança de todos e dizer que quem perdeu muito foi nossa cidade, que não teve a condição de eleger um deputado federal sequer. Mas continuo com meu mandato de vereador e vou continuar trabalhando com afinco por Volta Redonda. Aproveito para parabenizar todos os deputados estaduais eleitos pela nossa região e um abraço especial para o Jari e Munir”, disse.
Um barra-mansense que foi bem, mas não conseguiu ultrapassar o quociente eleitoral foi o presidente da Câmara, Luiz Furlani. Contando com o tímido apoio de Rodrigo Drable, o vereador obteve 22.646 votos. “Não vencemos a eleição, mas agradeço a Deus, minha família, meus apoiadores e a você que acreditou em nossa candidatura, que nos honrou nesta eleição com quase 23 mil votos, sendo o Federal disparado mais votado de nossa cidade! GRATIDÃO, GRATIDÃO E GRATIDÃO BARRA MANSA! Meus amigos e minha amigas barra-mansenses dias melhores virão para nossa cidade! O Futuro é logo ali”, anunciou Furlani, dando a entender que já pensa nas eleições de 2024.
Ademir Melo (Podemos), tradicional político local, não escondeu sua frustração com o resultado. Candidato a federal e dono de ingratos 7.825 votos válidos, Ademir usou o seu perfil do Instagram para lamentar a triste sina do Sul Fluminense. “Agradeço os quase 8 mil votos. Obrigado. É aniversário de Barra Mansa, mas infelizmente não tem nada para comemorar. Perdemos um deputado estadual que está fazendo um trabalho brilhante. E ainda vamos continuar sem um deputado federal. Não só em Barra Mansa, mas em toda a região. Que coisa ruim”, desabafou.
Ele foi além. Criticou vereadores e secretários de Barra Mansa por terem apoiado gente de fora. “Agora, como poderemos cobrar de alguém, cobrar do eleitor se até na Câmara municipal apenas dois vereadores dos 19 ajudaram a apoiar candidatos da terra? Somente dois! A maioria dos secretários apoiou gente de fora. Temos que fazer o eleitor raciocinar em quem vamos votar nas próximas eleições daqui a dois anos. Vote em quem ama a terra de verdade. Eu amo Barra Mansa e não vou desistir. Vou continuar nessa luta”, garantiu, sem citar os nomes de Drable e Fátima Lima.
Para Luiz Fernando Cardoso, do PL em Volta Redonda, o motivo para o mal desempenho dos candidatos da região não tem a ver com ingratidão da população. “Nossos candidatos são bons, mas muitos deles receberam quase nada do fundo eleitoral, enquanto candidatos da capital foram beneficiados. Como não pode mais haver doação de empresas para a campanha, os que chegam primeiro levam vantagem e os políticos do Rio têm mais acesso ao diretório regional, dono do dinheiro”, criticou.
Hugo Vilela, mestre em Políticas Públicas pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais e pesquisador da Fiocruz, faz uma análise mais detalhada. “Primeiramente é importante lembrar que o nosso estado tem a representação de 46 vagas na Câmara dos Deputados e que a maior parte do eleitorado se concentra na região metropolitana: cidade do Rio de Janeiro, Baixada Fluminense e São Gonçalo. Partindo desse princípio, já fica difícil a ascensão de qualquer candidatura que esteja fora do maior centro de discussão política. Contudo, acredito que os candidatos da região do Vale do Paraíba não fazem uma campanha ruim. E a não eleição de nenhum deles nesse primeiro turno tem mais a ver com outros fatores que podem ser de baixa distribuição de recursos oriundos do fundo eleitoral para essas candidaturas – que implica diretamente na dinâmica da campanha de cada candidato – e/ou o não cumprimento de legenda dentro da distribuição das coligações”, analisou.
Hugo lembrou que o desgaste em torno de nomes tradicionais também pode explicar o fracasso dos políticos do Sul Fluminense. “Outro motivo que pode não ter levado à vitória nas urnas de nenhum candidato a deputado federal da região Sul Fluminense é o desgaste natural que se avança com o tempo. As pessoas exigem novidade na política. Fora raras exceções, como ocorre com o mandatário do executivo municipal de Volta Redonda, o eleitorado apresenta uma mudança de comportamento, onde apresenta desinteresse em votar em figuras que já perpetuam no poder por um longo período. Há vários exemplos na região de deputados e deputadas que passaram boa parte do período ocupando cargos eletivos nos legislativos estadual e nacional; e que hoje sequer se apresentam como alternativa por já ter acumulado esses desgastes em outras eleições”, explicou o pesquisador.

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