quinta-feira, março 28, 2024
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Nada a comemorar

Roberto Marinho

O governador Wilson Witzel está comemorando a queda nos índices da violência no estado. Pode até ser. Afinal, segundo dados do ISP-RJ (Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro), que acabaram de ser divulgados, houve uma queda acentuada da ordem de 25% nos homicídios dolosos, na comparação entre o primeiro semestre de 2018 e o de 2019 em todo o estado do Rio. Os dados também indicam uma queda de 15% na letalidade violenta em território fluminense (homicídio doloso, roubo seguido de morte, lesão corporal seguida de morte e morte de intervenção de agente do Estado) e de 34% nos latrocínios (roubo seguido de morte).

 

O que Witzel não revelou é que o otimismo dele não serve para Volta Redonda, onde obteve 96.965 votos nas eleições passadas. Muito pelo contrário. Os números são de arrepiar careca e tirar o sono das autoridades locais de segurança e, principalmente, do prefeito Samuca Silva. Trabalhando para vender o município a empresários do setor metalmecânico, Samuca gostaria de compartilhar do otimismo do governador e até do ex-delegado e deputado federal Antônio Furtado, que foi à imprensa bater palmas para a redução dos crimes na cidade do aço.

 

Que Witzel e Furtado saibam, em termos de segurança, ou falta dela, o primeiro semestre de 2019 foi o mais violento desde 2003, quando o ISP começou a divulgar a sua série histórica. No caso dos assassinatos, por exemplo, foram 51 ocorrências nos seis primeiros meses de 2019, contra 45 em igual período de 2009, o mais violento até então.

 

Tem mais. Fevereiro de 2019 registrou o triste recorde de mês mais violento até agora, com 15 assassinatos, mesmo número registrado em maio de 2009. Outro recorde negativo foi batido em abril e maio deste ano, com 12 assassinatos em cada mês. Nunca houve, vejam só, na série histórica do ISP-RJ, tantos assassinatos em sequência na cidade do aço. O último registro de 12 homicídios em um mês é de janeiro de 2010.

 

Entre as hipóteses para o crescimento da violência em Volta Redonda – levantadas por fontes ligadas à segurança pública – estaria uma briga entre facções rivais do tráfico de drogas. A questão é negada pelas autoridades, mas as apreensões de fuzis e o aumento dos assassinatos ligados ao tráfico, por exemplo, colocam a versão oficial em xeque. Outra causa, mais provável para muitos, seria a migração de bandidos da capital para o interior, especialmente para o Sul Fluminense, para cidades como Volta Redonda, Barra Mansa, Porto Real, Resende e Angra dos Reis. O fato é que os números oficiais do ISP mostram que a situação na região está longe de ser tranquila. E merece atenção mais especial do governador Wilson Witzel.

Queda geral

Os índices estratégicos de segurança, comemorados por Witzel, tiveram uma queda acentuada na comparação entre 2018 e 2019. Mas, considerado pelas autoridades como um “termômetro” da sensação de segurança sentida pela população, em Volta Redonda o termômetro deve estar indicando febre alta porque todos os números pioraram. A letalidade violenta, por exemplo, registrou aumento de 12,5% na comparação entre o primeiro semestre de 2018 e 2019, passando de 48 para 54 registros. Só o número de assassinatos cresceu 34%, passando de 38 para 51 ocorrências.

 

Outro componente do índice, o roubo de veículos, teve um crescimento da ordem de  60%, com 18 ocorrências no primeiro semestre de 2018, contra 29 este ano. Por fim, os roubos de rua também aumentaram 8,1%, passando de 209 para 226 registros. Quer mais? O roubo a estabelecimentos comerciais teve um aumento de 250%, coisa de doido. No ano passado, apenas nove lojas haviam sido assaltadas até junho e em 2019 já foram registrados 32 casos. O furto de veículos praticamente dobrou. Foram 84 ocorrências no primeiro semestre de 2018 e 167 no mesmo período de 2019.

 

Alvo preferencial dos bandidos, os telefones celulares também tiveram aumento no número de roubos (quando a vítima é abordada) e furtos (quando a vítima não percebe o crime). Os roubos aumentaram em mais de 30%, passando de 51 para 68 ocorrências, e os furtos cresceram quase 70%, passando de 60 para 101 ocorrências. Os casos de “171” – estelionato – também registraram aumento: foi de 7,4%, passando de 231 para 248 registros. Ou seja, a coisa tá feia.  

 

Procurado pela reportagem do aQui para analisar os dados do ISP-RJ, que provam que a insegurança em Volta Redonda é crítica, o prefeito Samuca Silva informou: “Mesmo não tendo responsabilidade constitucional, sou município e tenho tomado atitudes para melhorar a vida e a segurança da população”, pontuou, passando a relatar fatos que seu governo já criou.

 

“Criei a secretaria de Segurança e estou em contato com a Polícia Militar para renovar e ampliar o convênio do Programa Estadual de Integração de Segurança (Proeis). Com isso, o número de vagas disponíveis para que policiais militares trabalhem na cidade nos dias de folga, reforçando a segurança, poderá subir consideravelmente”, completou, lembrando ainda que a prefeitura adquiriu novas viaturas para reforçar a frota da Guarda Municipal e reativou as câmera de vigilância que existem pela cidade.

Barra Mansa: número de estupros aumentou 50%

Se em Volta Redonda a violência em geral não dá tréguas, na vizinha Barra Mansa o quadro é um pouco diferente. Sorte de Rodrigo Drable, pois na sua cidade, quase todos os indicadores estratégicos de segurança tiveram queda. Os homicídios, por exemplo, caíram de 21 para 19 – queda de cerca de 10% – na comparação entre o primeiro semestre de 2018 e de 2019. Os roubos de rua diminuiram 14% em igual período, caindo de 71 para 61 casos. Até os furtos – tidos como crimes “mais simples” – tiveram queda: os furtos de celular caíram de 44 para 39, e os furtos de veículos, de 45 para 44.

Mas, que Rodrigo não comemore. Barra Mansa registrou o aumento da violência contra a mulher. O número de estupros, inclusive, teve um aumento substancial: foram registrados 17 casos nos seis primeiros meses de 2018 contra 26 no mesmo período de 2019, um aumento de praticamente 50%.

Outro crime que aumentou muito em Barra Mansa foi o roubo de veículos, único dos indicadores estratégicos que apresentou crescimento no município: foram 12 ocorrências no primeiro semestre de 2018, contra 23 no mesmo período de 2019, praticamente o dobro.

 

Briga de facção faz novas vítimas em Porto Real

A pequena e bucólica Porto Real já era. Hoje a cidade assiste, sem nada poder fazer, a briga das facções criminosas que disputam o controle do tráfico de drogas no município. E a rivalidade mata. Desta vez, quem morreu foi Sthefany das Graças Simões, jovem de 18 anos, grávida de sete meses, que foi atingida por três tiros quando caminhava em direção à casa da avó, na companhia do namorado Marcos Guilherme Inocêncio da Silva. O casal foi surpreendido por dois homens em uma motocicleta e, segundo a PM, o alvo seria o namorado da vítima. Sthefany morreu na hora. O bebê, uma menina, também não resistiu.

O crime aconteceu na Rua A, no bairro Vila Real. Segundo informações da Polícia Militar, o namorado de Shtefany, Marcos Guilherme, estava em liberdade condicional havia poucos dias. Ele teria reconhecido um dos autores dos disparos como sendo Ruginy Matterson Moreira Luiz, membro de uma facção rival à dele. Ruginy foi preso em flagrante por homicídio e aborto provocado por terceiros e o comparsa segue foragido.

As brigas de facção em Porto Real fazem, em média, pelo menos uma vítima por mês. No início de julho, Breno Coelho, 17 anos, foi assassinado a tiros dentro do carro do avô, no bairro Jardim das Acácias. O crime aconteceu por volta das 11h30min, próximo a uma creche que atende mais de 100 crianças. Segundo populares, a família de Breno, temendo que ele fosse morto por traficantes rivais, teria pedido ao avô que o buscasse em Porto Real para passar uns dias fora da cidade. Ele foi assassinado justamente no momento em que entrou no carro.

No final de junho, outro crime envolvendo briga de traficantes, chocou os moradores de Porto Real. Patrick Andrey dos Santos, 18 anos, morador do bairro Bulhões, desapareceu depois de avisar à mãe que daria uma volta pela cidade. Seu corpo foi encontrado no dia 2 de julho em Passa Vinte (MG), com sinais de violência. Ele teria sido esfaqueado e partes do corpo teriam sido jogadas para alimentar os cães.

Reforço

Em janeiro, o prefeito Ailton Marques comemorou a chegada de três viaturas novas para a Polícia Militar, enviadas pelo Estado, para reforçar a segurança em Porto Real. Os carros foram incorporados à frota do 37º BPM, de Resende, responsável pela área de Porto Real. Em junho, a Polícia Civil também ganhou três carros novos para auxiliar no trabalho de investigação dos agentes da 100ª DP. Só que a insegurança não dá trégua a ninguém.

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