Por Pollyanna Xavier
A trajetória de Edimar Miguel à frente do Sindicato dos Metalúrgicos está sendo marcada por sucessivas trapalhadas e embates administrativos, que foram parar nos tribunais de Justiça. É das mais complicadas já vistas, desde os tempos de Waldemar Lustosa. Não é para menos. A cada semana, uma situação nova e inacreditável. A última foi a comemoração do líder sindical diante da votação inexpressiva para a mudança do estatuto do órgão. Só não disse – e nem reconheceu – que a assembleia, que reuniu menos de 200 trabalhadores num universo de cerca de 10 mil operários representados na base, além de estar com os efeitos sustados pela Justiça, não foi registrada em cartório. A assembleia para a mudança do estatuto – para a inclusão de supostos anistiados políticos no quadro de sócios do Sindicato – aconteceu na terça, 16, na Praça Juarez Antunes. Para o G5, formado por diretores do próprio sindicato que se rebelaram contra Edimar, todo o processo foi recheado de supostas irregularidades e vícios. Edimar, garante o G5, não teria seguido as regras estatutárias desde a publicação do edital até a votação das mudanças. O correto, segundo o grupo, seria a colocação de urnas nas empresas da base, para que um maior número de trabalhadores decidisse se queria ou não a inclusão de anistiados no Sindicato. “Tudo viciado, sem qualquer critério, sem observar o próprio estatuto”, reclama diretor jurídico Leandro Vaz, que não é contrário à inclusão da categoria, desde que se faça de maneira correta.
Na assembleia sem metalúrgicos, Edimar decidiu pela aprovação das mudanças e tem comemorado o feito em entrevistas a alguns veículos de comunicação. O problema é que a Justiça do Trabalho sustou os efeitos da assembleia, após apreciar o pedido de um trabalhador que queria o cancelamento do ato. Com a decisão nas mãos, o G5 oficiou o Cartório de Registros de Notas da decisão, para que a ata não fosse registrada. “Com os efeitos sustados e sem registro em cartório, não há oque se falar de mudanças estatutárias”, destacou Leandro, acrescentando que a situação está sub judice, sem previsão de julgamento.
Estatuto
Segundo Leandro Vaz, atualmente, o Sindicato dos Metalúrgicos possui dois estatutos: um criado em 2008 e outro, em 2012. As mudanças propostas por Edimar para beneficiar anistiados políticos seria no documento de 2012, mas oqueestáemvigoréo de 2008. “A gente precisa seguir o estatuto que autorizou as eleições, que foi o de 2008. A Justiça autorizou a usar esse, e o Edimar aceitou. Só agora que está no poder ele quer mudar para o de 2012, e não pode”, comentou Leandro, explicando que, no de 2008, a gestão é compartilhada com a diretoria executiva, enquanto que no de 2012 quem manda é apenas o presidente. “Daí já dá para perceber por que ele quer a mudança”, emendou.
Quanto à inclusão de anistiados políticos no quadro societário do Sindicato, Leandro Vaz explicou que até hoje não foi apresentada uma lista de quem, de fato e de verdade, será beneficiado com a possível mudança. “Não tem lista, não tem nomes, porque isto não existe. A ideia é beneficiar uma única pessoa somente”, criticou o diretor, referindo-se, supostamente, ao assessor jurídico e advogado pessoal de Edimar, Tarcísio Xavier.
Segundo apurado pelo jornal, Tarcísio tenta o reconhecimento de anistiado político desde os anos 2000, quando da edição da lei que criou a Comissão Nacional de Anistia. Na época, ele teria apresentado requerimento ao Ministério da Justiça, mas teve o pedido negado. Desde então, tenta a condição na Justiça Federal. O processo está em Brasília, aguardando julgamento.