quinta-feira, março 28, 2024

Guerra virtual

Por Vinícius de Oliveira

Quem acompanha o trabalho do vereador Marcell Castro sabe bem que seu Facebook é uma extensão do seu gabinete. Por lá, ele não trata apenas de seus afazeres diários como parlamentar, mas também distribui pitacos, doa a quem doer. Em março, mandou fazer uma placa de sinalização para provar a todos onde seria o limite territorial entre Barra Mansa e Volta Redonda, tendo como cenário a Floresta da Cicuta, com direito a vídeo em seu perfil do Facebook. A graça gerou rusgas com o prefeito de Volta Redonda, Samuca Silva, que achou a atitude do vereador barra-mansense uma infantilidade. “Parece que estão jogando War”, ironizou Samuca.  

 

As críticas contra ele (de políticos e próprios internautas) não intimidaram Marcell. Pelo contrário. Há quem o compare a Jair Bolsonaro – guardando as devidas proporções –, pois este também usa as redes sociais para lavar a roupa suja de seu governo. Inspirando-se no capitão, Marcel declarou guerra contra Rodrigo Drable. 

 

Seguindo a tendência do #TBT entre os internautas, que consiste em relembrar fatos passados através de fotos, Marcell usou uma postagem antiga feita pelo próprio prefeito em seu Instagram, hostilizando os petistas. Para quem não se lembra – e Marcell fez questão de lembrar –, Rodrigo disse, há um ano, que os defensores do ex-presidente Lula seriam “vagabundos” e deveriam ir para a “PQP”.

 

Determinado a criar polêmica, Marcell comentou a velha postagem.  “Também acho que o PT ferrou com o Brasil, e fui às ruas contra o PT diversas vezes, mas xingar escrachadamente desse jeito, não é o que se espera de alguém que deveria ser o líder da cidade, respeito é fundamental. Pareceu papo de bêbado. #NãoUsoFake”, postou, certo de que estaria dando um tiro certo. 

 

Em poucos minutos, a declaração bombou. O vereador, que até o fechamento dessa matéria não havia chamado ninguém de feio ou coisa parecida, deixou que os comentários corressem soltos, na esperança de que fossem inflamáveis o suficiente para acender uma fogueira na qual pretende queimar Rodrigo Drable. Mas pode ser um tiro no pé, como o que a comandante do 28º Batalhão do Aço disparou, recentemente, contra a imprensa, em especial o Diário do Vale.

 

Analistas políticos, por exemplo, garantem que a estratégia de Marcell é mais velha do que andar para a frente. “Quando a passagem de um vereador pela Câmara se dá de forma branda, ou seja, sem grandes realizações para a cidade, ele tende a virar oposição para garantir sua reeleição”, analisou uma fonte, convicta de que Marcell vai se juntar a Thiago Valério no pequenino bloco de oposição contra Rodrigo  Drable. “Mas vai ter que se esforçar muito para lograr êxito”, vaticinou. 

 

Ao aQui, no entanto, em entrevista exclusiva, Marcell garantiu que cutucar a onça com vara curta não é uma estratégia de marketing. “Desde o início (do mandato) tenho me colocado com independência. Não quis nem ficar ‘puxando o saco’ do prefeito, nem ‘puxar o tapete’ dele. Quis e quero ajudá-lo a fazer uma boa gestão, mas até o momento, ele tem sido péssimo. Ele não pode se vangloriar por fazer apenas o ‘arroz com feijão’. Barra Mansa está largada às traças pela atual gestão”, pontuou.  

 

De acordo com Marcell, Rodrigo estaria acumulando façanhas ‘negativas’. “Aconteceram episódios que qualquer cidadão de bem não aprovaria, como os remédios vencidos na Farmácia Municipal, e o caso da apreensão truculenta de goiabas e a prisão da família do vendedor ambulante. O prefeito está passando a história como o ‘Prefeito do lixo’, na qual sua famigerada gestão já tentou trazer lixo tóxico de diversas cidades para Barra Mansa, agora é a história de trazer lixo de Resende e Itatiaia pra cá”, ironizou Marcell, esquecendo, no caso do lixo, que o contrato que prevê a transferência de lixo de diversas cidades para Barra Mansa foi assinado pelo ex-prefeito Jonas Marins. 

 

Marcell, ao ser questionado sobre ter sido da base aliada a Rodrigo, foi taxativo. “Componho a base aliada dos meus princípios, vários vereadores ficaram revoltados, mas somente alguns criticaram publicamente. Acredito que ele pouco se importa com as necessidades de Barra Mansa, acredito até que ele não conhece Barra Mansa, de verdade, para fazer o que tem feito! Ele não me escuta, quero ajudar, e não bajular, com denúncias e fiscalização (eu) ajudo”, crê.  

 

Sobre o TBT, Marcell explicou que sua intenção era mostrar que Drable não se comporta de acordo com o cargo que ocupa. “Ele realmente foi muito mal-educado. Não é postura de prefeito. Apoiadores dele têm se valido de FAKES nas redes sociais para me caluniar, tudo porque não concordo com as coisas bizarras que ele faz, não posso ficar calado e não vou me calar diante dessas afrontas contra a população. A diferença é que não sou covarde, não preciso de fakes, o povo me conhece, e está revoltado com essa história de fakes contra mim, e contra outros vereadores que têm denunciado as mazelas da péssima gestão dele”, disparou. 

 

Marcell foi além.  ”Vídeos [do Rodrigo] têm sido motivo de chacota, como o da Churrascaria Pampas Grill. O governo deu apenas a licença ambiental, e quem lutou pela liberação em Brasília foram os proprietários junto à ANTT, agora ele vem gravar ‘videozinho’”, ironizou, cheio de veneno.  

 

Por fim, Marcell diz que não teme a mão pesada de Drable. “Eu temo a cidade continuar do jeito que está, com empresas indo embora, e lixo de outras cidades chegando. Temo a falta de preparo, e sobretudo a falta de consideração da gestão Rodrigo Drable com Barra Mansa. Estou amparado na legislação e na Constituição.  Minha carreira política foi feita com projetos e na sola de sapato, e não puxando saco do Eduardo Cunha”, cutucou.  

“Não sou machista”

Antes de atacar Rodrigo Drable, Marcell já havia se envolvido em outra polêmica. A internauta  Jenniffer Christina fez uma crítica pesada ao vereador alegando que ele teria uma péssima dicção e que seu modo de falar se assemelharia a de um bêbado. Como resposta, Marcel não mediu palavras. Chamou a mulher de feia. Detalhe, no diminutivo. “Vc é bem feinha”. 

 

A declaração, grosseira, rodou as redes sociais. Outra internauta, Soni-nha Silva, conhecida como Nininha, tratou de printar o comentário para publicar em seu perfil. “Fala sério machista VEREADOR MARCELL CASTRO, seculo 21 e quando uma mulher opina algo sobre politica, mesmo que uma observação de fala. O macho alpha que fica nas boates e bares tentando usar seu cargo pra pegar alguém ofende a moça. Pratica rachide já denunciado, não cumpre seus horarios na camara, mas pra ofender mulher ele serve”, postou. 

 

Não demorou e o comentário caiu nas mãos da oposição, mais especificamente no perfil de Fernanda Fontes, que seria um perfil fake. O vereador, inclusive, já teria sido acusado por ela de cometer ‘rachide’ – dividir salário com assessores parlamentares. Sobre o caso, Marcell disse apenas que não é machista. “Apenas respondi o comentário dela, que me ofendeu com palavras que considerei até como calúnias, pois não bebo álcool. ‘Feinho’ foi o comentário dela. Não me considero machista. Gostaria de esclarecer este mal-entendido com ela, e convidá-la a visitar o gabinete que trabalho”, disse. 

 

O castigo veio a cavalo 

Se Rodrigo se armou para revidar os ataques de Marcell não se sabe. Mas a verdade é que o vereador já sentiu do próprio veneno. É que enquanto o vereador tenta tirar de Drable a capa de super-herói apenas com argumentos ideológicos, seus inimigos usaram as redes sociais e revidaram com artilharia pesada. Alvejaram o parlamentar com denúncias que, se forem verdadeiras, podem cassar seu mandato ou coisa pior, levá-lo à cadeia.

 

No início da semana, Marcell foi acusado de assédio sexual contra uma ex-assessora. Quem fez a denúncia foi a internauta Claudiane Lins, em seu perfil no Facebook cujos amigos são pessoas influentes da política barramansense, ligadas ao prefeito.

 

De acordo com Claudiane, Marcell pedia favores sexuais à ex-assessora Juliana Camilo. E, diante das recusas da moça, o vereador a teria difamado junto a outras pessoas, a ponto de obrigá-la a pedir exoneração do cargo. “Você conhece a história da Juliana Camilo e do MARCELL CASTRO? A moça simples, cristã e casada, foi convidada para ser assessora do ilustríssimo vereador (como ele gosta de ser chamado). Ela aceitou e veio de mala e cuia de Barra do Piraí. Além de fazer o tradicional rachide (dar parte do salário ao vereador), ainda tinha que lavar roupas dele e limpar a casa. Ela fazia, até porque trouxe a família toda e o marido estava desempregado no momento. Mas aí o “GALÔ MARCELL CASTRO COMEÇOU A PEDIR FAVORES SEXUAIS. A MOÇA QUE É DE RESPEITO SE CANSOU PEDIU EXONERAÇÃO, PERDEU O CASAMENTO POIS O VEREADOR DIZIA QUE ELA ERA SAFADA PARA OUTROS HOMENS E ETC. PARA RECUPERAR SUA VIDA A MOÇA TEVE QUE LARGAR TUDO NOVAMENTE E VOLTAR PARA BARRA”, disparou.

 

Ao ser questionado sobre o caso, Marcell foi taxativo: disse que Clau-diane não passa de um fake, logo as denúncias, segundo ele, são mentirosas. “Todos meus assessores estão de prova, e também até os outros dos demais gabinetes, do meu respeito com minha equipe, não pego dinheiro (rachide), não admito assédio algum no ambiente de trabalho”, desmentiu, de forma categórica.

 

O aQui tentou entrar em contato com Claudiane, mas até o fechamento dessa edição, a denunciante não havia respondido os contatos. O jornal também não conseguiu entrevistar Juliana Camilo, suposta vítima de assédio que teria sido praticado por Marcell.

 

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