sexta-feira, abril 26, 2024

Em massa

Stellantis vai encerrar segundo turno; número de demitidos pode ultrapassar 500

Por Pollyanna Xavier

Conforme o aQui noticiou com exclusividade no sábado, 18, a Stellantis (antiga Peugeot- Citroën) vai encerrar o segundo turno na fábrica de Porto Real – reativado há apenas quatro meses. A empresa, inclusive, começou a demitir funcionários antes do carnaval e avisou aos demais que, depois da folia, a montadora iria operar com apenas uma jornada. A decisão foi tomada de forma unilateral, sem a participação do Sindicato dos Metalúrgicos, e pode ter sido motivada por questões econômicas, jáqueomodeloC3–que nasceu com o novo turno – não agradou ao mercado.
Anunciado em agosto e implantado em outubro de 2022, o segundo turno exigiu a contratação de cerca de 350 colaboradores, fazendo com que o efetivo da montadora saltasse para 1.840 trabalhadores. Na época, a empresa queria acelerar o ritmo de produção, apostando que o novo Citroën C3 (modelo SUV com motor Fiat) fosse explodir em vendas. Mas isto não aconteceu. “No relatório de carros mais vendidos da Fenabrave, o C3 nem aparece. O Ônix lidera em janeiro e em fevereiro. O volume de vendas vem caindo, mas esse problema não é só da Stellantis, a indústria automotiva não entrou 2023 bem”, avaliou um ex-funcionário da montadora, pedindo anonimato.
Na opinião dele, a Stellantis se precipitou ao voltar com o segundo turno, principalmente porque outro modelo – o 2008 – vai deixar de ser fabricado em Porto Real até o final de 2023. “A ideia da empresa é produzir apenas modelos Citröen na planta local. O 2008, que é um modelo Peugeot, vai para a Argentina. Atualmente, a capacidade instalada de produção é de 27 carros por hora, e até a semana passada, quando eu ainda estava lá, produzia-se 23. Esse volume vem desde o ano passado, por isso eu acho que foi precipitado o retorno do segundo turno”, avaliou. “Não sabemos qual é a estratégia da empresa com tudo isto”, comentou.
Sobre as demissões, o ex-funcionário acredita que pode ultrapassar 500, considerando o efetivo das terceirizadas, que também vão demitir. “Elas também contrataram mais trabalhadores para atender às novas demandas. Com o encerramento do turno na Stellantis, elas também encerram contratos de trabalho. É o efeito cascata. Infelizmente”, lamentou, acrescentando que a montadora já tinha sinalizado a seus funcionários e às ter- ceirizadas que, depois do carnaval, o segundo turno iria acabar. “O pessoal vinha de uma parada coletiva, justamente por não ter demanda de produção. A gente só esperava que a coisa acontecesse em março, e não agora”, disse.
A maioria dos demitidos é da produção (operadores de máquinas, soldadores, montadores e pintores), mas segundo apurou o aQui, funcionários da manutenção (técnicos em automação) também poderão ser dispensados.
Procurada, a Stellantis enviou uma nota oficial ao aQui confirmando o fim do segundo turno. Disse que seria uma readequação na unidade de Porto Real, e que as demissões se
referem aos contratos temporários e com prazo determinado. “A Stellantis readequou o planejamento industrial da unidade de Porto Real, a fim de adaptar o seu ritmo produtivo ao nível de demanda do mercado externo. A unidade passa a concentrar a produção de automóveis em um turno de capacidade ampliada, com maior eficiência e agilidade para melhor responder às demandas de mercado. Em razão desse ajuste, foi necessário ante- cipar o término dos contratos com prazo determinado e temporário, em sua maioria contratados para atender à necessidade imediata de aumento de produção”, informou.
A empresa aproveitou para desmentir uma informação que circulou nas redes sociais dando conta de que a fábrica de Porto Real seria fechada e a produção transferida para Betim (MG). “Não é uma informação verdadeira. Trata- se de uma clara fake news. A planta de Porto Real é um ativo importante e estratégico para a empresa, abrigando a produção dos modelos Peugeot e Citroën e seus motores. A planta continuará a dar sua contribuição para a empresa manter-se na liderança do mercado brasileiro, argentino, chileno e sul- americano. E está preparada para atender ao crescimento do mercado. Na volta do Carnaval, em 6 de março, a planta retomará a produção já
com as linhas de produção ajustadas e preparadas para receber novos modelos que produzirá no futuro”, esclareceu a empresa a respeito dos boatos que circulam pelo WhatsApp e que não chegaram a ser veiculados pelo aQui, é bom que se frise.

Benteler e Magneto
Na noite de sexta, 17, quando o aQui já estava na gráfica, trabalhadores da Benteler e Magneto procuraram o jornal para contar que foram demitidos e calculam que as duas empresas podem ter dispensado quase 200 operários de uma vez. “Eles chamaram muitos táxis para levar o pessoal embora para casa. Esperaram a gente trabalhar e avisaram da demissão no final do turno. Uma covardia”, lamentaram (ver vídeo em www.jornalaqui.com/ stellantis-vai-encerrar- segundo-turno/)
Segundo eles, houve grande especulação acerca das demissões na Benteler e na Magneto depois que funcionários da Stellantis começaram a ser dispensados. Por causa disto, trabalhadores teriam ligado para o Sindicato dos Metalúrgicos pedindo a adoção de medidas de proteção ao emprego. “Um colega que estava perto ligou na hora do almoço pro Sindicato. Soube de outros que fizeram o mesmo. Todo mundo já estava comentando as demissões, mas ninguém ainda tinha certeza de que aconteceriam. No final do dia, eles demitiram. O Sindicato não mandou ninguém. Não atendeu a gente”, reclamaram.
A notícia das demissões, publicada com exclusividade no sábado, 18, foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais do aQui durante a semana. Os internautas lamenta- ram o ocorrido e criticaram as empresas. “Todo ano a mesma história, isso é só para se livrar dos nó cego (sic)”, disparou uma internauta. “Meu irmão foi demitido também, um cara superprofissional, dedicado ao trabalho, casado, filho pequeno em casa e esposa grávida, acha mesmo que é só pra se livrar dos nó cego? Presta atenção no que fala (Sic)”, rebateu outro.
Outro internauta confirmou as demissões, dizendo que estava na fábrica no momento das dispensas e presenciou a reação dos demitidos. “É verdade, eu estava lá. Demissão em massa. Foi muito triste, muitos saíram chorando como criança. Já havia mais de 100 táxis esperando. Foi uma sexta muito triste. Só Jesus!”, contou, sendo seguido por outro internauta que confirmou que o segundo turno na Stellantis será encerrado definitivamente em março. “A partir do dia 6, apenas um turno, de 7h às 16h48”, publicou.

O que fez o Sindicato?
Na terça, 21, pelo WhatsApp, o aQui tentou falar com Edimar Miguel. A intenção era saber se o Sindicato sabia das demissões e se teria participado de alguma reunião para ne- gociar uma saída para o problema. A participação de sindicatos nestes assuntos chegou a ser derrubada pela reforma trabalhista, mas foi levantada novamente, em junho de 2022, pelo STF. E os ministros da Suprema Corte decidiram que as empresas devem comunicar demissões em massa aos sindicatos que representam seus funcionários, para que medi- das alternativas sejam discutidas.
Além desta questão, um dos trabalhadores demitidos que procurou o jornal comentou que a Stellantis, ao retomar o segundo turno em Porto Real, teria se comprometido com o Sindicato a não demitir nenhum colaborador por um período de 12 meses, mesmo que a demanda do mercado não justificasse a manutenção do turno. Essa informação também não pôde ser confirmada, porque o Sindicato não respondeu ao jornal. Edimar ignorou os questionamentos do aQui, da mesma forma como teria ignorado o chamado de socorro dos trabalhadores demitidos, na sexta de carnaval.
Na segunda, 20, o líder sindical reuniu seus diretores e gravou um vídeo para o Facebook do Sindicato. Nele, Edimar jura que esteve na Stellantis e na Benteler e notificou as empresas pelo descumprimento do que foi determinado pelo STF. “Levamos a nossa solicitação e exigimos o imediato cancelamento de todas as demissões ocorridas, como a consequente reintegração de todos os trabalhadores e trabalhadoras. Para isto, nós temos de alternativa férias coletivas e lay-off para enfrentar a crise e evitar as demissões”, anunciou, sem informar a reação das empresas.
Na quarta, 22, em boletim, o Sindicato informou aos trabalhadores que teria notificado o Ministério Público do Trabalho sobre as demissões na Stellantis e nas terceirizadas e diz que solicitou que seja feito o pedido de reintegração pelo órgão fiscalizador. Tem mais. Quer uma mesa redonda para discutir o problema.

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