
Na semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra – 20 de novembro – o Brasil comprovou que vive tempos extremamente difíceis, onde a intolerância e a raiva parecem ter dado lugar ao diálogo e à compreensão. Entre as diversas manifestações contrárias à celebração da consciência negra – e para lembrar o fato de que milhões de negros foram escravizadas e que até hoje negros ganham menos que brancos exercendo a mesma função – chamou atenção a atitude do deputado federal Coronel Tadeu, do PSL de São Paulo.
Ex-coronel da Polícia Militar paulista, Tadeu arrancou das paredes da Câmara dos Deputados uma placa com os números do genocídio negro que ocorre no país, e que fazia parte da exposição oficial (Re)Existir no Brasil – Trajetórias negras brasileiras, realizada naquela casa legislativa. A placa era ilustrada por um desenho do cartunista Carlos Latuff, que mostrava um policial militar com a arma fumegante, de costas para o corpo de um homem negro sangrando no chão.
O ex-coronel, agora deputado, pode ter se sentido atingido enquanto policial, mas muito mais atingidos são os jovens negros, que são 75,5% das vítimas de assassinato no país, segundo um levantamento recente público pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). Ignorar isso é ignorar a realidade em que vivemos.
Mas, se alguém acha que a cor da pele afeta só a vida dos negros anônimos mortos e contabilizados pelas estatísticas, talvez pense diferente ao lembrar que, só nesta marcante semana, os jogadores Taison e Dentinho, do Shakhtar, time ucraniano, foram vítimas de ofensas racistas pela torcida do adversário, o Dínamo de Kiev. Taison reagiu às ofensas, mostrando o dedo médio para a torcida rival. Foi punido pela federação ucraniana. Lewis Hamilton, único piloto negro da Fórmula 1, também deu entrevistas onde contava que sua família “tinha que ser perfeita”, com medo dele perder a vaga na escola de pilotos da sua escuderia na época.
Se para estes negros, ricos e famosos, a cor da pele ainda traz consequências, imagine para uma pessoa negra comum. Por isso, como muito se comenta nas redes sociais “enquanto a consciência humana for racista e preconceituosa, precisamos sim de uma consciência negra”.
Edson Quinto é vereador e presidente da Câmara de Volta Redonda