Por Pollyanna Xavier
O acidente na aciaria da CSN, ocorrido na manhã de quarta, 15, acabou colocando a empresa, mais uma vez, na mira do Ministério Público Federal (MPF), que com uma rapidez impressionante (em poucas horas), decidiu apurar a explosão registrada na Usina Presidente Vargas. O estrondo foi ouvido em toda a região central de Volta Redonda e em bairros como Conforto, Aterrado e parte do Retiro. “Há mais de 20 anos moro na Vila e nunca ouvi algo tão assustador”, desabafou um morador do Edifício Gacemss, cujas janelas tremeram por intermináveis segundos.
Pior. Ao olhar do seu apartamento, o voltarredondense pôde ver e fotografar uma densa nuvem de fumaça que cobria boa parte da UPV. No total, 25 operários foram intoxicados e, devidamente, socorridos no Hospital das Clínicas, onde passaram por exames, permanecendo em observação por algumas horas.
Em nota, a CSN informou que durante “a retirada de escória da panela da aciaria houve uma reação que provocou o deslocamento de ar, acompanhado por emissões fugitivas que duraram poucos minutos”. Tem mais. Garantiu que nenhum metalúrgico se feriu com gravidade. “Os colaboradores que estavam no local foram atendidos pela equipe médica da CSN por terem inalado pó, e encaminhados preventivamente para atendimento hospitalar”. A CSN terminou a nota dizendo ainda que prestou assistência aos seus trabalhadores e deu início às investigações das causas do incidente.
A nota oficial da siderúrgica, porém, não foi suficiente para acalmar o MPF, nem o novo bispo de Volta Redonda, D. Luiz Henrique. O procurador da República, Luiz Eduardo Camargo Outeiro Fernandes, por exemplo, pediu detalhes do acidente ao 22º Grupamento de Bombeiros Militar, aos hospitais São João Batista, Unimed e ao Hospital das Clínicas, e ainda à própria CSN. Ele quer saber as causas do acidente, se houve Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e pretende analisar os prontuários de atendimento de emergência dos feridos. O MPF solicitou também a cópia do relatório ou documento elaborado pelos bombeiros responsáveis pelo atendimento.
Já D. Luiz Henrique, através de sua assessoria, aproveitou para criticar a CSN. “Permanecemos em oração para o pronto restabelecimento dos feridos e em apoio às famílias e vigilantes pela promoção da segurança e da dignidade do trabalhador que deve estar acima do lucro, como bem diz a Doutrina Social da Igreja. É indispensável que, no interior da empresa, a legítima busca do lucro se harmonize com a irre-nunciável tutela da dignidade das pessoas que atuam na mesma empresa”.
Na terça à tarde, equipes do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) estiveram na CSN para vistoriar a área do acidente. Até o fechamento desta edição, não se sabe se o órgão fiscalizador multou a CSN ou realizou algum outro procedimento. Segundo o aQui apurou, todas as autoridades ambientais competentes foram informadas do ocorrido. Em uma segunda nota emitida pela CSN, a empresa disse que no momento do acidente, 30 metalúrgicos estavam no local, nove teriam sido atendidos pelo serviço médico da própria UPV e o restante foi encaminhado para o Hospital das Clínicas. A nota diz ainda que no final da tarde, a aciaria voltou a funcionar normalmente. O Sindicato dos Metalúrgicos também se manifestou sobre o acidente na aciaria. Por meio de nota, lamentou o ocorrido e informou que no momento do acidente tinha um diretor (do órgão) na área acidentada. “Ele trabalha na área e pôde acompanhar o socorro aos trabalhadores atingidos com a nuvem de poeira que causou irritação nos olhos e narinas”, ressalta, acrescentando que um diretor do RH (também do Sindicato) esteve no Hospital das Clínicas para visitar os feridos e que todos estavam estáveis, inclusive com alta médica prevista para o final da tarde daquele mesmo dia.
Reincidente
Esta não foi a primeira explosão na aciaria da CSN. Em outubro do ano passado, um episódio parecido teria sido registrado no setor, porém, em proporções menores. Foi quando ocorreu uma emissão fugitiva pontual e de curta duração, provocando uma nuvem de fumaça alaranjada sobre o céu da UPV. Na ocasião, a CSN emitiu nota informando que a fumaça teria se dissipado rapidamente e que, apesar do impacto visual, não foram registradas alterações na qualidade do ar da cidade.
Em 2019, uma nova explosão envolvendo a aciaria foi registrada no dia 16 de março. Moradores e comerciantes do entorno da UPV relataram ter ouvido um forte ruído vindo da usina, seguido de uma nuvem de fumaça, novamente de cor alaranjada. Na época, a CSN admitiu ter ocorrido uma reação da passagem do ferro gusa para a escória, e da escória para a panela. A explosão ocorre porque durante o vazamento do aço para a panela são adicionados ferro ligas, que ajudam a conferir ao aço certas características desejadas, se o tempo de vazamento não for controlado corretamente, pode ocorrer oxidação excessiva da escória, provocar explosões como a que aconteceu na última quarta-feira.