2017 foi um ano emblemático para o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense. Silvio Campos, presidente do órgão, enfrentou a reforma trabalhista e, com ela, a não obrigatoriedade da contribuição sindical por parte dos trabalhadores. Também teve de enfrentar a CSN – maior empresa da base do Sindicato –, que forçou o fim do turno de seis horas (conquistado na gestão do seu aliado Renato Soares, que deve ser candidato a deputado nas eleições de outubro) e a volta do turno de oito horas.
Silvio engrossou. Rejeitou propostas, subiu no carro de som, ameaçou parar a Usina e deflagrar uma greve. Mas também soube negociar. Não entregou o turno de mão beijada, como costumam dizer os sindicalistas: exigiu abono, estabilidade, comida boa e uma hora de refeição para os operários do turno. Deu certo!
O engraçado é que, na prática, a volta do turno de oito horas na UPV não superou as expectativas da CSN. Trabalhadores ouvidos pelo aQui disseram que estão tendo que trabalhar 9, 10, até 12 horas por dia, porque a empresa não conseguiu se organizar para a mudança. “Espero que ela pague estas horas extras. Não gostaria que fosse para o banco de horas”, disse um trabalhador, pedindo para não ter seu nome divulgado. Ele e quase todos do seu setor estão cumprindo, desde o início de dezembro, uma jornada muito superior à de oito horas. “A CSN não soube fazer a transição, pelo menos é o que ficou claro pra gente. A gente espera que as coisas se ajeitem, porque, por enquanto, ela deu um tiro no pé”, disse.
A CSN implantou o turno de oito horas nos primeiros dias de dezembro. Os ajustes, porém, estavam sendo feitos ao longo do mês. Aliás, pode-se dizer que nem deu tempo para que as coisas entrassem nos eixos, afinal, no primeiro dia de dezembro, a empresa – e Volta Redonda inteira – foi surpreendida pela cúpula ambiental do Estado com a decisão de paralisar as atividades da UPV, por pendências ambientais. Silvio Campos, preocupado com a empregabilidade, não ficou em silêncio. Marcou agenda com o governador Pezão e intercedeu pelos mais de 20 mil trabalhadores (diretos e indiretos) que dependem da Siderúrgica.
O esforço do Sindicato não se restringiu apenas à CSN. Graças às negociações com as montadoras da região, a MAN – e seu consórcio modular – colocou um ponto final do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) no dia 1º de julho e voltou a contratar trabalhadores. Foram cerca de 300 admissões na MAN e mais de 400 na Nissan, ambas em Resende. Silvio Campos comemorou.
Em entrevista exclusiva ao aQui, Silvio fez um balanço do que foi o ano de 2017 para o Sindicato e opinou sobre o que as empresas e os trabalhadores podem esperar para 2018. Comentou ainda sobre as mudanças na reforma trabalhista e o que elas vão, de fato, impactar na vida dos operários. Confira aQui a reportagem na íntegra.
aQui – O cenário este ano foi bem mais difícil e o senhor enfrentou negociações duras com a CSN e a Volks, por exemplo. Que balanço o senhor faz da sua administração nestes e em outros casos?
Silvio Campos – A atuação sindical já vinha mudando e muito há alguns anos. Hoje, se prioriza o diálogo na tentativa de resolver os impasses, deixando as ações, como as greves e paralisações, para casos extremos. Desde que assumi a presidência do Sindicato tivemos muitas situações em que foi necessário endurecer com as empresas para defender os interesses dos trabalhadores, e assim o fizemos. Com grandes empresas, como a Volks e principalmente, a CSN, não é diferente. São duas grandes empresas da região, reconhecemos isso, é claro. Mas tentamos sempre, primeiro, o diálogo, marcando reuniões, discutindo as pautas e, muitas vezes de forma calorosa. A empresa defendendo seus interesses e nós, os dos metalúrgicos, mesmo diante da crise financeira que atingiu o Brasil. Terminamos o ano com mais de três milhões de desempregados. E foi assim durante o meu mandato. Conseguimos garantir alguns direitos, manter tantos outros, travamos algumas lutas importantes para defender os interesses dos trabalhadores. Fortalecemos o nosso departamento jurídico e já conquistamos mais de R$ 150 milhões em ações desde 2006. É pouco? Não é, não. E poucos reconhecem as vitórias que alcançamos. Acredito, sinceramente, que o saldo da nossa gestão é positivo.
aQui – Este ano também foi implantada a nova legislação trabalhista, que trouxe muitas mudanças. Como o senhor avalia essas mudanças pensando em termos de região?
Silvio – Os trabalhadores perderam muito com a reforma trabalhista do presidente Temer. O prejuízo será sentido em breve. Nós nos mobilizamos, fizemos ações, mas com o cenário de crise, os trabalhadores ficaram com receio de se expor, de lutar por um direito. Por isso, a importância de se ter um sindicato forte. Se não é o sindicato, por exemplo, como é que os trabalhadores vão negociar um acordo coletivo com a empresa, como prevê a reforma? Sem estabilidade no emprego, você acha que a empresa vai dar reajuste? Que a CSN vai dar reajuste em cima da nova reforma? Ou a MAN? Dificilmente. Sem dúvidas, essa reforma é um retrocesso e vai nos atingir no Sul Fluminense.
aQui – O fim da contribuição sindical obrigatória vai prejudicar o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense? Qual a estratégia para lidar com isso?
Silvio – Irá prejudicar todos os sindicatos, que sairão enfraquecidos com essa determinação do governo Temer. Por exemplo, só conseguimos ganhar ações judiciais importantes – como as que renderam mais R$ 150 milhões aos metalúrgicos da CSN – por termos um departamento jurídico qualificado. Sem isso, ações coletivas importantes, ou até mesmo individuais, poderiam ser perdidas. Isso só é possível com essa contribuição (sindical, o dia da viúva grifo nosso). Já estamos estudando meios para tentar driblar esse problema, ampliando nossos convênios, serviços, nos reinventando.
aQui – O senhor considera a implantação do turno de oito horas na CSN uma derrota para o sindicato? Por quê?
Silvio – A diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos sempre defendeu o turno de seis horas na CSN. Foi uma grande conquista do Renato Soares quando presidente; uma bandeira defendida com muito afinco, por ele e por nós. Não vejo como derrota, pois foi uma escolha dos próprios trabalhadores. Nós pedimos a opinião deles e eles decidiram aceitar a mudança proposta pela CSN. Acredito que seria muito pior se a empresa empurrasse o turno fixo, como cogitou fazer.
aQui – 2017 vai terminar melhor do que começou? Ou pior?
Silvio – Acredito que um pouco melhor. As montadoras da região começaram a dar sinais de retomada, ampliando turnos. As exportações estão crescendo. Sem dúvidas, poderia ter sido um ano melhor, mas para tudo o que aconteceu, para quem passou por essa grave crise econômica, acredito que (2017) não vai deixar saudades. Estamos otimistas para 2018.
aQui – Quais são seus planos e metas para 2018?
Silvio – Primeiro, vou aproveitar um breve recesso para descansar. Foi um ano árduo, de grandes batalhas contra as empresas. No plano pessoal, posso dizer que vou dar mais atenção à família. Já como sindicalista, quero continuar o trabalho que estamos fazendo. Teremos eleição e sei que ainda há muito a se fazer. Estamos reestruturando o Sindicato para ficar mais eficiente. Estamos querendo implantar alguns serviços e ações que trarão mais benefícios aos trabalhadores. E que todos tenham um feliz 2018.