Roberto Marinho
O ano de 2018 começou de uma forma bem diferente, quase especial, para milhares de pessoas em Volta Redonda. Acostumadas a passar o Réveillon na Curva do Rio, na Voldac, elas viram Elymar Santos, por exemplo, perder o trono para os ‘Paralamas do Sucesso’, que fizeram o maior sucesso na Vila. O magro prefeito Samuca Silva, ao contrário do gorduchinho Neto (com todo o respeito) usou o Escritório Central da CSN para surpreender a todos com uma cascata de fogos cobrindo os 16 andares do ainda elefante branco da cidade do aço. De quebra, Samuca mandou soltar fogos de artifício, com decibéis bem abaixo das ‘pererecas’ que poluem Volta Redonda. Nem assim escapou das críticas infundadas de ONGs de proteção aos animais.
A segurança da festa foi outro ponto alto do primeiro Réveillon da era Samuca. Nenhuma briga que chamasse atenção ou outro episódio de violência teria sido registrado pelas forças policiais, que tomaram a Vila de assalto, com cerca de 300 agentes, antes mesmo das 18 horas. GMs e PMs deram um show. Deram também prejuízo ao Banco do Brasil, que gastou uma grana para colocar tapumes nas suas vidraças, como se todos em Volta Redonda fossem baderneiros. Não são.
O público assistiu tranquilamente as apresentações das bandas locais Mistureba e Amplexos, e depois participou da contagem regressiva, curtindo a cascata de fogos – de quase 50 metros de altura – que caía do alto do Escritório Central. A multidão vibrou. Vibrou mais ainda com a grande atração da noite, a banda ‘Paralamas do Sucesso’.
A empolgação foi tanta que teve até gente ficando noiva no meio das comemorações. “Eu ia pedir a minha namorada Carla em noivado em fevereiro, mas essa festa está tão boa e contagiante que fiz o pedido aqui mesmo”, disse Jorge Oliveira. “Claro que aceitei”, completou Carla. Felicidades ao casal!
Samuca, estrategicamente colocado no terraço do Pontual Shopping, de frente para o Escritório Central, esbanjava alegria e disse que a festa coroou o seu primeiro ano de governo. “Já demos muitos passos importantes na saúde, geração de empregos, no esporte e muitas outras realizações e tínhamos que oferecer esse lazer e cultura para a cidade”, avaliou, completando que a decisão de promover a festa na Vila foi “acertada”. “As pessoas aprovaram”, apontou. Aprovaram de verdade.
Silêncio?!
Mas nem tudo foram flores na virada de ano em Volta Redonda. Teve gente que reclamou do barulho dos fogos, que a prefeitura prometeu que seria reduzido em até 70%, com a priorização de efeitos de luz e cor no espetáculo pirotécnico. Como se só a prefeitura estourasse foguetes no fim de ano, as ONGs Vira-Lata, Amigas dos Bichos e SPA-VR (Sociedade Protetora dos Animais de Volta Redonda) enviaram aos jornais uma carta irada, acusando o poder público de não cumprir com o combinado.
As ONGs garantem que haviam se encontrado com a secretária de Cultura, Aline Ribeiro, e relatam que esta teria garantido a redução do barulho, que provoca muito desconforto aos animais de estimação. As ONGs afirmam na carta que ao checarem a licitação para a compra de fogos o material seria incompatível com o acordado. O grupo só não explica qual critério e a opinião de quem foi usada na consulta.
A carta diz ainda que foram feitas várias denúncias de venda ilegal de fogos nas ruas da cidade, e que a fiscalização da prefeitura e a Guarda Municipal “não teriam feito nada”. O grupo também afirma que a queima de fogos no Escritório Central é irregular, porque estaria em desacordo com a lei estadual 1.866/1991, que trata da queima de fogos em terraços e praças de esportes.
As ONGs usam o ‘juridiquês’ para impressionar os incautos, mas a lei – modificada em 2007 – só afirma que é preciso autorização das entidades correspondentes, entre elas o Corpo de Bombeiros, que a prefeitura garante que autorizou. O engraçado é que o próprio grupo reconheceu “a beleza visual” do espetáculo. Mesmo assim disse que não pôde agir porque só teve conhecimento das supostas irregularidades “horas antes do espetáculo”.
As ONGs dizem ainda que, “ao contrário do governo anterior”, deram crédito ao governo Samuca, mesmo reconhecendo que a prefeitura não tem obrigação legal de usar fogos silenciosos. Dizem ainda que têm recebido pedidos de donos de animais que fugiram, assustados com o barulho dos fogos, sem especificar locais e número de “vítimas”. Afirmam até que houve mortes, também sem entrar em maiores detalhes.
Um detalhe interessante é que a carta inclui um link para um vídeo da queima de fogos nas redes sociais, mostrando as supostas “irregularidades”. Mas parece que as ONGs acenderam o foguete no lado contrário e saíram meio chamuscadas, porque os comentários dos internautas eram só de elogios ao espetáculo no Escritório Central. Que realmente ficou uma beleza, a julgar pelas imagens.
Menor que antes
A prefeitura respondeu que as informações das ONGs podem estar sendo “ofuscadas por ilações”. Ou seja, o velho “tá querendo me enganar?”. A secretaria de Cultura, que organizou a queima de fogos, afirma que medições apontaram a redução de 70% do barulho em relação aos anos anteriores, quando a queima de fogos era feita na curva do Rio, na Voldac. Quer dizer, barulho teve na Vila, mas teria sido bem menor que antes.
O governo afirma também que teve autorização de todos os órgãos responsáveis, e que vários donos de animais tomaram precauções para evitar que os bichinhos sofressem com o estresse causado pelo barulho. Diz ainda que não teria – como não tem – a obrigação legal de reduzir o barulho dos fogos, mas o fez, e que várias festas particulares podem não ter tido a mesma preocupação. Fica a dica aí, pessoal.
A prefeitura acrescentou ainda que coibiu a venda irregular de fogos nos dias anteriores à virada de ano, com “resultados positivos”, e que vai procurar ampliar os cuidados para o próximo ano. Que assim seja!