quinta-feira, março 28, 2024

Adios!

Por Roberto Marinho

Futuro ministro, Luiz Henrique Mandetta, se posiciona contra o programa ‘Mais Médicos’

A polêmica sobre o ‘Mais Médicos’, agravada com a decisão do governo de Cuba de chamar de volta os médicos cubanos que estavam no Brasil, por considerar “ofensivas e desrespeitosas” as críticas do presidente eleito Jair Bolsonaro aos profissionais da ilha caribenha, ainda vai render. Mais que comprar briga com os cubanos, Bolsonaro criou uma área de atritos com os prefeitos dos mais de cinco mil municípios brasileiros, já que muitos deles correm o risco de ficar sem profissionais para atender nos postos de saúde, principalmente em lugares mais carentes. Em 611 cidades brasileiras, por exemplo, os cubanos são os únicos médicos disponíveis.

 

Algumas cidades da região também estão à procura de soluções para driblar a saída dos médicos cubanos, que deve ser concretizada até o próximo dia 7 de dezembro. Volta Redonda, que chegou a ter oito cubanos na primeira fase do ‘Mais Médicos’ – além de uma médica brasileira formada em Cuba –, não será muito afetada. Muito pelo contrário. Hoje, apenas um profissional da ilha caribenha atua na cidade do aço.

 

Trata-se de Victor Benício Armenteres Horta, que atua na UBSF Belo Horizonte. Ele veio na primeira leva dos médicos cubanos enviados para a cidade do aço, onde ele está há cinco anos, tendo fixado residência na Vila Americana ao lado da mulher, também cubana e que, por conta das dificuldades de se comunicar, não teria conseguido emprego, apesar de ter curso superior. O casal cubano, inclusive, segundo uma fonte, estaria recebendo uma cesta básica doada por voltarredondenses, pois o salário do médico é praticamente todo enviado para Cuba, conforme regras do programa ‘Mais Médicos’.

 

Apesar dos pesares, Victor fez história na cidade do aço, já que foi coberto de elogios na nota enviada pela secretaria de Saúde de Volta Redonda para a reportagem do aQui. “Volta Redonda contava com apenas um médico cubano do programa ‘Mais Médicos’, que desempenhou um ótimo papel em suas funções, sempre integra-do e comprometido com a gestão, equipe e comunidade. Sua assistência qualificada contribuiu significativamente para a  melhoria na qualidade de vida das pessoas”, diz a nota do governo Samuca, que foi além. Confirmou que Victor encerrou seu ciclo de trabalho no município no último dia 14, e que ele deve deixar o Brasil em um voo marcado para o dia 9 de dezembro. A nota da secretaria de Saúde afirma ainda que a saída do único médico cubano “não trará alterações no atendimento público”.

 

Mas a saída do médico cubano não representa o fim do programa ‘Mais Médicos’ no município. Na verdade, ainda no início deste ano, Volta Redonda recebeu cinco novos profissionais enviados pelo programa – contratados por edital em novembro do ano passado, exclusivo para médicos brasileiros ou formados no Brasil. Os novos profissionais, que ficarão na cidade por três anos, já estão atuando nos bairros Padre Josimo, Volta Grande, Vila Mury, Vila Brasília e Siderlândia. Eles se somarão a outros que do ‘Mais Médicos’ nas unidades básicas de Saúde da Vila Americana, Água Limpa e Belo Horizonte.

Rodízio em Barra Mansa

Na terra de Rodrigo Drable, a situação é um pouco diferente. De acordo com nota enviada pela secretaria de Saúde, a cidade conta com pelo menos quatro médicos cubanos, lotados nas UBS da Vila Principal, Siderlândia, Vila Ursulino e Santa Rita de Cássia. A saída dos profissionais estava marcada para ontem (sexta, 23), mas a secretaria de Saúde garantia que a população ‘não sofreria nenhum impacto no atendimento’.   

 

Para driblar a falta dos profissionais, de acordo com a pasta, será adotado um sistema de rodízio temporário entre os médicos da rede, para garantir o atendimento à população, sem que haja qualquer transtorno. A prefeitura de Barra Mansa afirma ainda que conta com a contratação de novos profissionais – brasileiros – por meio do edital lançado às pressas pelo governo Federal, depois do anúncio da retirada dos profissionais cubanos do programa.

 

Vão precisar de sorte. É que o Ministério da Saúde informou que vai prorrogar até 7 de dezembro o prazo para que médicos brasileiros se inscrevam no ‘Mais Médicos’, já que, das 6,3 mil inscrições recebidas, pouco mais de 2,8 mil teriam sido efetivadas, principalmente, de acordo com o ministério, por causa de irregularidades encontradas após o cruzamento de informações com outras bases de dados, como o CFM (Conselho Federal de Medicina). Além disso, o endereço eletrônico onde as inscrições são feitas andou sofrendo ataque de hackers, o que tornou o site inacessível desde a tarde de quarta, 21.

‘Modelo’

Na região, o programa federal ‘Mais Médicos’, criado em 2003, considerava Volta Redonda um modelo a ser seguido, na avaliação da Opas – entidade que intermediou a contratação dos cubanos. A ONG chegou a fazer uma reportagem em 2014 sobre o programa na cidade, tendo como entrevistados a então secretária de Saúde, Marta Magalhães, e o doutor Victor Armenteres, o mesmo que vai embora da cidade no próximo dia 9 de dezembro.

Na reportagem – disponível em vídeo no canal da Opas no Youtube, Paho TV -, Victor fala das dificuldades de adaptação que teve, principalmente no convívio com médicos brasileiros, quase sempre contrários à vinda dos cubanos, que chegaram até a ser vaiados nos aeroportos.

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