Daqui a oito dias, os eleitores de Volta Redonda vão às urnas para eleger seus representantes. Detalhe: dos 354 candidatos ao Parlamento, apenas um – isso mesmo, um – se autodeclarou membro da comunidade LGBT QIA+. É Charles Toniolo, candidato do Psol, que quer quebrar um tabu: ser o primeiro vereador assumidamente homossexual.
Em entrevista exclusiva, Charles Toniolo destacou a responsabilidade de ser o único candidato homossexual. Tem mais. Acredita que outros candidatos também façam parte da comunidade LGBTQIA+, mas não assumem. “Temos uma comunidade enorme em Volta Redonda, e que, não raramente, é atacada por algum parlamentar conservador. Esse tipo de comportamento político incentiva a violência contra nós. Quero que minha candidatura seja vista como um grande ‘não’ a isso”, destacou Charles.
O candidato, de 47 anos, nascido na cidade do aço, é assistente social. Trabalhou como RPA na prefeitura de Volta Redonda e depois fez concurso para o Ministério Público do Estado. Hoje, é professor da UFRJ. “Vivo em união estável há 10 anos, e divido minha rotina entre trabalho, vida conjugal e cuidados com meus pais idosos, além da militância política”, explicou. Charles destacou que em nenhum momento pensou em omitir o fato de ser homossexual ao registrar sua candidatura a vereador. “Nós sofremos preconceito o tempo todo, em vários espaços as nossas vidas. Eu já sofria preconceito quando criança. E aprendi que se omitir diante do preconceito, além da violência que nos causa um sofrimento profundo, é dar a vitória aos preconceituosos!
Se hoje estou vivo, é porque enfrentei o preconceito. Essa é a realidade da nossa comunidade”, destacou, ressaltando que não tem receio de perder votos. “Se um eleitor não vota em uma pessoa pelo simples fato dela ser homossexual, bi, trans ou não-binária, ele está reproduzindo o preconceito que justamente nós queremos enfrentar”, pontuou. Segundo Charles, muitos políticos tentam ganhar votos falando mal dos homossexuais. “Eu estou do outro lado dessa trincheira.
Todas as famílias têm alguém que é uma pessoa LGBT QIA+, e eu acredito que precisamos investir na solidariedade, e não na violência. É isso que quero dizer para os volta-redondenses. E isso requer que eu mostre quem eu sou e o que penso sobre o mundo e sobre a sociedade em que vivemos”, completou. Questionado sobre o motivo de Volta Redonda nunca ter tido um vereador LGBT, Charles destacou que o Brasil é um País preconceituoso. “Ser homossexual, trans, ou não-binário, sempre foi tratado como motivo de vergonha, como pecado, como algo que precisa ser combatido. Mas o fato é que isso sempre existiu, e ficava escondido, no plano somente das relações individuais. Não à toa muitos parlamentares gays são perseguidos, vítimas de fake News, humilhados. Outros não se declaram porque se rendem ao preconceito”, avaliou.
Para Charles, há – entre os mais de 300 candidatos a vereador – outros que também são homossexuai. “Com absoluta certeza, há outros. Muitos não assumidos. Mas acredito também que há candidatos/as assumidamente LGBTQIA+ em suas vidas. Mas fiquei surpreso quando o maior portal do Brasil de visibilidade de candidatos LGBT publicou apenas meu nome. Eu tomei a iniciativa de me autodeclarar. Levei essa dimensão da minha vida, que me constitui como ser humano, para a política. O poder público tem responsabilidade de assegurar os direitos da nossa comunidade”, destacou. Sobre a importância de a cidade do aço ter um parlamentar homossexual, Charles lembra que o primeiro ponto é reconhecer que a comunidade LGBTQIA+ existe. “Temos que usar o parlamento como espaço para manifestar e criar políticas públicas para nossas necessidades e demandas, como cidadãos que somos. E para enfrentarmos o discurso dominante que infelizmente assolou os espaços de poder em nossa cidade que quer nos diminuir e nos invisibilizar”, pontuou. Se eleito, Charles quer criar uma Comissão na Câmara de combate ao preconceito. “Temos pouquíssimos dados sobre bullying nas escolas, preconceitos no atendimento dos serviços públicos e no comércio, perseguições nos locais de trabalho, LGBTI vítimas de violência doméstica ou na rua, etc. O Brasil já tem protocolos e normativas que obrigam os entes federados a terem esses dados e Volta Redonda também precisa ter”, destacou. “Hoje eu cuido dos meus pais idosos, e sei que essa é uma realidade vivida fortemente por mulheres, mas também pela comunidade LGBTQIA+, como as pessoas trans, que foram expulsas de casa e que retornam quando os familiares adoecem”, explicou. “Porque na hora da dor e do sofrimento, nós nos solidarizamos. E quem se solidariza conosco? Pra onde nós vamos quando muitos de nós somos expulsos de casa ou sofremos violência? Ou a gente enfrenta essa onda conservadora de imbecilidade, precarização e ódio, ou caminharemos para o aprofundamento das desigualdades e da barbárie social. Um mandato precisa fortalecer a luta por igualdade social, com respeito à diversidade”, conclui