‘Tudo farinha do mesmo saco’

As eleições para o Sindicato dos Metalúrgicos parecem estar correndo bem, tranquilas demais, desde que as negociações do acordo coletivo da CSN terminaram, com a aprovação da proposta da siderúrgica. Mas não é bem assim. No chão da Usina Presidente Vargas, a sensação é de que uma bomba foi armada e pode explodir a qualquer momento. “Por nós está tudo tranquilo sim”, negou um dos diretores próximos a Jovelino Juffo, candidato à sucessão de Silvio Campos, presidente do órgão. “A oposição está armando alguma. O Vitor, da chapa 3, está muito calado”, pontuou outro sindicalista, pedindo que seu nome não fosse revelado.
De hoje, sábado, 9, até o início da votação, no dia 26, faltam apenas 17 dias e, para quem não sabe, três chapas estão oficialmente inscritas: a Chapa 1 tem Jovelino José Juffo como candidato a presidente; a Chapa 2 é liderada por Edimar Miguel Pereira Leite; e a Chapa 3 por Vitor Raymundo Junior, o Vitor Véio, que tenta provar aos operários da CSN que sua tropa é que representa a oposição sindical em Volta Redonda.
Um metalúrgico, entretanto, discorda da tese e não faz segredo. Trata-se de Jovelino José Juffo que, em entrevista exclusiva ao aQui, não deixou por menos ao falar dos seus adversários: “É tudo farinha do mesmo saco”, sentenciou, indo além: “Até ontem eles eram amigos, estavam unidos. Agora, por interesses pessoais e querendo tomar o Sindicato, eles fingem que são inimigos. Não são”, afirmou.
Na entrevista, Jovelino falou sobre as eleições, seus projetos e contou como pretende se relacionar com a direção da CSN, caso seja eleito. “Vou marcar logo uma reunião com o dono da CSN para cobrar dele uma melhoria no plano de saúde. Vamos cobrar mais respeito da CSN para com o Sindicato”, detalhou.
Veja abaixo a íntegra da entrevista com Jovelino, lembrando aos leitores que o aQui bem que tentou fazer uma matéria com o candidato da Chapa 2. Só que Edimar, infelizmente, fez pouco caso da oportunidade que lhe foi oferecida. O mesmo tratamento foi dado a Vitor Véio, só que este soube usar o espaço que lhe foi dado, expondo as suas opiniões em algumas edições anteriores.

aQui: O senhor é taxado de candidato da situação por ter o apoio de Silvio Campos, atual presidente do Sindicato dos Metalúr-gicos, ou só por ter vários integrantes da diretoria dele em sua chapa?
Jovelino: O Silvio decidiu se aposentar da parte sindical e não faz parte da nossa chapa. A nossa chapa reúne companheiros que já tem uma experiência na área sindical, mas ainda nunca tiveram a oportunidade de ter uma posição mais de comando no Sindicato e também muitas caras novas. A nossa chapa representa uma renovação com experiência, com responsa-bilidade e sem aventuras.

aQui: O que o difere do Silvio Campos?
Jovelino: Eu não gosto de comparações, mas o Silvio é o Silvio e o Jovelino é o Jovelino. Eu sou do chão de fábrica, cria da Aciaria, conheço muito bem a CSN e, nos últimos anos, tive a oportunidade de me dedicar às negociações nas montadoras de Resende e Porto Real. Conheço muito bem a turma toda e, uma vez sendo presidente, continuarei presente no dia a dia com os companheiros.

aQui: Quais são suas propostas para o Sindicato?
Jovelino: Temos algumas prioridades. A principal delas é defender a manutenção dos empregos. Estamos em um período de inflação alta no país, muitas empresas, Brasil a fora estão demitindo. Vamos brigar, em primeiro lugar, pelos empregos. O emprego é a nossa prioridade número um. Além disso, temos questões que são mais específicas a cada empresa, que vão desde a melhoria das condições de trabalho, melhores benefícios, e, principalmente, melhores salários.

aQui: Qual será sua postura diante da CSN, caso seja eleito?
Jovelino: A postura com todas as empresas será a mesma. Nós sempre vamos buscar o diálogo, de forma respeitosa, mas firme. E vamos cobrar da CSN o mesmo respeito. Uma vez eleito, eu vou marcar uma reunião com o dono da CSN para tratar temas que são urgentes, como o plano de saúde, melhoria na alimentação, a definição urgente de metas para a PLR e a estipulação de um piso de salário decente para a categoria.

aQui: Como vê a postura dos seus adversários?
Jovelino: Infelizmente, o que a gente vê é uma turma muito ligada a partido político, querendo usar o sindicato para fazer politicagem. Eu sou o único candidato que não tem ligação com nenhum partido político. Eles orientaram mal os trabalhadores, atrapa-lharam as negociações, e provocaram mais de 200 demissões, tudo para tentar tirar proveito político da situação. Isso é lamentável, pois colocaram os seus interesses pessoais na frente e acima dos interesses coletivos da categoria, que era a negociação sindical.

aQui: Dois candidatos se dizem de oposição, mas, na sua opinião, qual seria realmente a chapa de oposição à atual diretoria do Sindicato dos Metalúr-gicos? E por que ela deve ser evitada pelos operários na hora da votação?
Jovelino: Não vejo grandes diferenças entre os dois grupos. Eles estavam juntos até dias atrás e só brigaram por questão de vaidade, porque querem o poder a todo custo. São farinha do mesmo saco, ligados a partidos políticos, sem nenhuma contribuição para a classe, além do fato dos integrantes de uma destas chapa terem sido ligados ao cabeça da outra chapa “até ontem”.

aQui: A chapa 3 acusou a Comissão Eleitoral de agir com parcialidade para favorecer a chapa 2 duran-te análise de documentos e de pedidos de impu-gnação. Para vocês, da chapa 1, que situação deixou isso evidente?
Jovelino: Eu prefiro não tecer comentários sobre a atuação da Comissão Eleitoral. Mas posso dizer que não entendi a homologação da chapa 2, por exemplo, pelo fato dela estar composta de vários integrantes que não têm vínculo empregatício com nenhuma empresa e/ou que são licenciados (contrato de trabalho suspenso) e/ou que não são associados ao Sindicato, mas deixo essa questão para ser conduzida pelo Jurídico da nossa chapa.

aQui: O MPT afastou a denúncia de parcialidade envolvendo a Comissão Eleitoral? O senhor pre-tende levar a questão para a Justiça do Trabalho?
Jovelino: Os nossos advo-gados estão avaliando a questão.

aQui: O senhor entende que o clima de protesto contra a CSN nas negociações do acordo coletivo de trabalho vai influir na votação?
Jovelino: Os trabalhadores da CSN e de todo o país estão numa situação muito difícil. Os preços explodiram no país, o desemprego aumentou. Ainda estamos sofrendo efeitos da pandemia, e tudo isso causa uma comoção natural das pessoas. Eu acredito que é momento de pensarmos com a cabeça e ter cuidado com as aventuras propostas por grupos radicais que não estão preocupados com o trabalhador e sim com interesses políticos/pessoais, como já disse.

aQui: O projeto de construção de um condomínio residencial em Volta Redonda em parceria com a CSN continuará sendo desenvolvido caso o senhor vença as eleições?
Jovelino: Sem dúvida nenhuma, essa será uma das prioridades. A maioria dos empregados da CSN hoje não tem condições financeiras de comprar uma casa, essa é a verdade. Um condomínio residencial, popular, com condições especiais para o empregado é urgente e necessário. Nós temos diálogo e credibilidade para conseguir essa conquista para o trabalhador.

aQui: O que pode propor para melhorar o plano de saúde oferecido aos operá-rios da CSN?
Jovelino: O Plano de Saúde da CSN está uma vergonha. Tem situações inadmissíveis. Vou exigir melhorias no atendimento, mais agilidade nas aprovações e autoriza-ções, e mais clínicas creden-ciadas não só aqui em Volta Redonda e Barra Mansa, mas também em mais regiões.

aQui: A história das 200 demissões que teriam ocorrido na CSN já é uma página virada na cidade do aço? O assunto morreu para os sindicalistas e políticos?
Jovelino: Se você vê, nem mesmo a chapa 2 que provocou toda essa situação, fala mais no assunto. Eles até hoje não entraram com pedido de reintegração para todos, porque sabem que fizeram besteira. Infeliz-mente, 200 famílias foram atingidas por essa irresponsabilidade.

aQui: As 200 possíveis demissões podem servir de lição para a classe e para os sindicalistas?
Jovelino: A principal lição que temos que tirar é que é preciso ter responsabilidade com a vida das pessoas, com os empregos. Não podemos nunca deixar que os interesses pessoais e políticos se sobreponham aos interesses da classe. Temos que brigar, mas dentro das regras, para que situações como essa não aconteçam.

aQui: O senhor, ao ser lançado candidato da Chapa 1, disse que organi-zaria as contas do Sindica-to caso eleito. O que há de errado com as contas?
Jovelino: Desde a reforma trabalhista, o Sindicato perdeu muita receita e, ao mesmo tempo, a inflação também fez com que as despesas aumentassem. O que eu vou buscar é uma rigidez maior com as despesas, ao mesmo tempo em que buscamos novas fontes de receita, ou seja, adequando as despesas à nova realidade financeira.
Nota da redação: A entrevista com Jovelino foi feita antes da queda de Vitor Véio. Sua substituição, entretanto, não altera o que ele disse a respeito da postura da Chapa 3.


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