O mês de agosto é marcado pela campanha ‘Agosto Lilás’, uma iniciativa que procura conscientizar a população sobre a violência contra a mulher e incentivar a denúncia de casos de abuso. Em 2024, a campanha ganha ainda mais relevância diante dos números divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que revelam um aumento nos casos de violência doméstica no Brasil. O relatório aponta um crescimento de 0,8% nos feminicídios em 2023, com 1.467 mulheres assassinadas por razões de gênero. Além disso, houve aumento nas taxas de registros de agressões, ameaças, perseguições, violência psicológica e estupros.
A campanha não apenas destaca a importância de denunciar a violência, mas também busca educar a sociedade a identificar comportamentos tóxicos, especialmente de homens narcisistas, que podem estar por trás de muitos casos de abuso. Homens com traços narcisistas são frequentemente descritos como egocêntricos, manipuladores e carentes de empatia, características que podem levar a relacionamentos abusivos e perigosos. A identificação desses indivíduos é crucial para a prevenção e o combate à violência doméstica.
“Sempre oriento as mulheres no consultório presencial e on-line a observarem o comportamento do homem com quem elas vão se relacionar antes de entrar no relacionamento. Homens que em cada encontro só falam de si mesmos, só exaltam suas vitórias com histórias em que eles são sempre os vencedores, que mal dão espaço para a mulher falar nos encontros, ou quando a mulher fala ele a corta, não dando importância, colocando outro assunto em cima, este é um forte perfil com traços narcisistas”, explica Amanda Souza, psicanalista.
A especialista destaca que um narcisista carrega o traço do amor próprio excessivo, onde a única figura que ele enxerga é ele próprio, e, principalmente, o que é importante para ele. “É importante destacar que o narcisismo é um transtorno mental, podendo ser
genético ou por motivação de como ele foi criado, levando esse ser humano a desenvolver o transtorno.
Pessoas que na infância foram criticadas demais ou exaltadas em excesso pela família têm fortes propensões a gerar o transtorno. Logo, quem se relaciona com um homem com esses traços pode sofrer invalidação de seus sentimentos, por eles amarem mais a si, ou quando a vítima percebe que o parceiro a está fazendo mal e tenta sair da relação, ele a humilha, invalidando seus sentimentos, fazendo transferência de culpa e até se comportando com violência física, usando da força para que a mulher tema sair da relação”, acrescenta.
Quando se sentem ameaçados, perdendo o controle, parceiros com esse transtorno tendem a usar de chantagens emocionais, e podem chegar ao ponto de ameaçar tirar a própria vida, caso a vítima os abandone. Amanda ressalta que, nesses relacionamentos, para conquistar uma mulher, os narcisistas se comportam de maneira sedutora, são galanteadores, fazem de tudo para conquistar suas vítimas. No entanto, com o tempo, podem se tornar controladores e agressivos, utilizando táticas como gaslighting (manipulação psicológica) para minar a autoestima e a confiança das vítimas. Essas dinâmicas de poder e controle são frequentemente invisíveis aos olhos de quem está de fora, tornando a denúncia e o reconhecimento dos sinais de abuso ainda mais desafiadores.
A campanha ‘Agosto Lilás’ reforça a necessidade de uma rede de apoio sólida para as vítimas de violência doméstica, incluindo familiares, amigos, profissionais de saúde e autoridades. O apoio psicológico e jurídico é essencial para que as vítimas possam sair de situações de abuso e reconstruir suas vidas. Além disso, a campanha enfatiza a importância de políticas públicas eficazes e de uma sociedade vigilante e empática, capaz de identificar e denunciar casos de violência.
“É importante que essas vítimas tenham o amparo adequado, na delegacia, nos
hospitais, onde todos esses profissionais devem estar preparados para acolher essas vítimas com o psicológico tão fragilizado. As sessões de terapia/ análise com um psicanalista são fundamentais, para fazer essa vítima compreender o que a levou a se envolver a tal ponto que no início ela não percebeu. Muitas mulheres geram dependência emocional para com esses parceiros narcisistas, e a psicanálise é fundamental para que a vítima não faça repetição, se envolvendo num futuro relacionamento com outro parceiro de traços narcisistas, sendo um meio de libertação e autoconhecimento para ela”.
Para a psicanalista, as autoridades e a saúde pública precisam criar mecanismos legais para que homens com traços narcisistas sejam submetidos a tratamento contínuo e por tempo indeterminado. Amanda explica que um narcisista não deixa de ser narcisista, logo o acompanhamento psicanalítico e médico psiquiátrico monitoram e previnem esses traços com a intenção de reduzir o impacto negativo dessas pessoas na sociedade. Em um cenário onde a violência contra a mulher continua a ser uma triste realidade, a campanha ‘Agosto Lilás’ é um lembrete poderoso de que a luta por igualdade e segurança é uma responsabilidade de todos. A conscientização sobre os perigos do narcisismo e a educação sobre sinais de abuso são passos fundamentais para construir uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres e crianças, que são diretamente afetadas pelos relacionamentos abusivos dos adultos. “Atendo pacientes de todo o país através do perfil @serhumanoemfoco, nas redes sociais. Com essa ferramenta eu consigo fazer uma escuta qualificada junto às vítimas dessa violência e seus familiares em qualquer lugar do Brasil. Precisamos facilitar o acesso das pessoas aos cuidados com saúde mental, sem tratamento fácil, acolhedor, e em todas as regiões do país, as doenças mentais irão sair do controle e isso já está se refletindo nos índices de insegurança e crimes por toda parte”, conclui.
Traços narcisistas
Agressores precisam de tratamento contínuo