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Ex-presidente diz que atual situação do Lar dos Velhinhos não foi herança da sua gestão

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Por Pollyanna Xavier

As denúncias envolvendo o Lar do Velhinhos de Volta Redonda, publicadas pelo aQui com exclusividade há duas semanas, causaram uma reação do ex-presidente da instituição, José João Sales. Afastado do cargo em 2023 por determinação judicial, Sales foi alvo de uma investigação do Ministério Público por suspeita de negligência e maus-tratos. Na época, o vice- presidente, Otávio Luiz Gama, assumiu o posto e, desde novembro do ano passado, também vem sendo investigado pelo MP por suspeita de irregularidades. Em carta ao aQui, José João Sales escreveu: “É mentirosa a narrativa de que a responsabilidade pelo atual passivo contábil, fiscal e ou trabalhista do Lar dos velhinhos de Volta Redonda (LVVR) se deve à administração afastada”. O desabafo foi uma resposta de Sales às declarações dadas por Otávio Luiz Gama ao jornal de que a saúde financeira da entidade estaria deficitária devido à má administração de gestões passadas, incluindo a do ex-presidente. Na carta enviada também ao aQui, José João Sales sintetiza a situação da instituição e resume como ela chegou ao estado atual. “(…) órfã da tutela estadual e principalmente do poder público municipal”, relatou.

Segundo José João Sales, o Lar dos Velhinhos abrigava, quando a administração afastada assumiu o LVVR, em 2016, 81 idosos, com uma receita de R$ 96 mil e custo operacional de cerca de R$ 340 mil mês (A partir de então e por força de RDC, as ILPIs não mais poderiam operar com ocupação superior a 70 abrigados, grifo nosso), gerando um déficit superior a R$ 240 mil. Para piorar, segundo José João Sales, desde 2014, por força de uma lei federal, o Lar deixou de ser Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e passou a ser Organização da Sociedade Civil (OSC), perdendo o subsídio estatal, o reconhecimento de Utilidade Pública, o CEBAS e os repasses dos governos estadual e municipal. Como se não bastasse, na pandemia da Covid-19, o número de internos foi reduzido pela metade e os encargos trabalhistas com funcionários se mantiveram no mesmo patamar da época, resultando em prejuízo financeiro para a entidade.

Há ainda outras questões pontuadas por Sales na sua versão, entre elas, a precariedade na infraestrutura do Lar, com a cisterna de recepção de água do Saae quase “imersa sob a rede de esgoto fecal, com potencial risco de infiltração” e a ausência de higienização das caixas d’água. Outro ponto citado por José João Sales seria quanto à segurança do local, com indícios de que “o tráfico já ocupava os limites geográficos da instituição” e as constantes incursões da Polícia Militar, em busca de drogas, ossadas humanas e até mesmo cadáveres que eram “desovados” nas imediações.

Sales vai além na sua versão enviada ao aQui. Ressalta que compunha a administração que assumiu o Lar dos Velhinhos por determinação da Maçonaria (mantenedora da instituição) e permaneceu na presidência por dois biênios consecutivos (2020- 2024). Porém, a própria Ordem Maçônica teria optado por não mais manter a condução do Lar, “relegando os dirigentes indicados por administrações passadas”, abandonando-os “à própria sorte” e, reitera: às denúncias de maus-tratos aos idosos, de que estão sendo acusados, a defesa técnica, em todas peças recursais, seja em que instância tenha sido, enfatiza que o material probatório foi produzido sem nenhum amparo científico ou robustez fática, mas simplesmente ancorado em depoimentos e narrativas revanchistas, articuladas por empregados que foram ou seriam dispensados e que o denunciante que se apresentou como integrante na linha sucessória da instituição jamais, nos últimos oito anos, foi dirigente, associado ou ao menos visitante do Lar dos Velhinhos de Volta Redonda. As críticas constam na Carta Aberta que José João Sales chamou de “Síntese do LVVR”.