Por Mateus Gusmão
Desde que foi criada, em 2014, a operação ‘Lei Seca’ já retirou mais de 270 mil motoristas que dirigiam sob efeitos do álcool pelas ruas do estado do Rio de Janeiro. Tinham tomado todas. Números, é claro, impressionantes. Tanto que na terça, 21, até uma missa foi celebrada na Igreja da Candelária (ver foto) para celebrar a passagem do 14o aniversário do programa, que é aplaudido por quem é contra beber e dirigir. Para se ter uma ideia, desde o início do projeto, mais de quatro milhões de motoristas foram abordados pela ‘Lei Seca’. Na região, Volta Redonda sempre foi a cidade com mais registros de casos.
Mas como nem tudo são flores, o badalado projeto também é alvo de críticas e denúncias. De forma bem contundente até. Felipe de Lima, leitor do aQui, por exemplo, entrou em contato com a redação para denunciar que foi coagido por agentes do programa do go- verno do Estado. Segundo ele, o caso ocorreu no mês passado, durante uma abordagem na Avenida Amaral Peixoto, uma das principais vias de Volta Redonda. Detalhe: ele teria sido orientado a não realizar o teste do bafômetro.
“Quando eu estava passando pelo Posto JK, na Amaral Peixoto, estava tendo a ‘Lei Seca’. Eles sempre ficam ali. Quando chegou minha vez de passar, um dos agentes me perguntou se eu havia consumido bebida
alcoólica nas últimas 12 horas. Respondi que não”, destacou, ressaltando que nesse momento o agente pediu para que ele fizesse um teste. “Ele mandou assoprar, mas era um teste desses que a gente assopra de longe, sem ter que colocar a boca no aparelho. E o equipamento acusou que eu teria bebido. Repetimos o teste e deu positivo”, comentou.
Lima foi além. Reiterou aos agentes da ‘Lei Seca’ que não teria consumido bebidas alcoólicas, mas foi orientado a encostar o veículo e descer do carro. “Nesse momento, veio um policial militar, extremamente grosseiro, dizendo que meu teste havia dado positivo. Me perguntou se eu iria querer fazer o teste do bafômetro, aquele que encosta a boca no aparelho. Eu disse que queria fazer, porque não havia bebido”, relembrou Lima, salientando que nesse momento o PM começou a fazer pressão para que, vejam só, ele não fizesse o teste com o etilômetro.
“Ele me perguntou se eu tinha certeza de que iria fazer o teste, pois dependendo da quantidade de álcool que o aparelho acusasse, eu poderia até ser preso, pagar multa alta, entre outras coisas. Como eu não tinha bebido, eu lhe disse que iria fazer, sim, o teste. Tivemos até uma pequena discussão, porque outros agentes, que estavam por perto, começaram a debochar como se eu fosse um mentiroso. Acho que eles apostavam que eu tinha ingerido bebida mesmo”, comentou, ressaltando que, após a discussão, o teste do bafômetro foi feito. O resultado, como previsto por Felipe Lima, deu negativo. “Deu zero de álcool. Se eu não tivesse feito, teria que pagar uma multa à toa. Achei uma covardia o que eles fizeram comigo. Muitas pessoas podem ser enganadas com o primeiro teste. E acabam tendo que pagar a multa mesmo sem ter ingerido álcool, com medo do teste do bafômetro”, concluiu o rapaz. Ah, importante, ele estava acompanhado pela mulher. Ou seja, tem testemunhas do achaque do qual entende ter sido vítima.
Diante da denúncia, a reportagem do aQui procurou a Secretaria de Governo do Rio, responsável pela Operação ‘Lei Seca’, para tratar da acusação. Entre outras, o jornal pediu esclarecimentos sobre as ações ocorridas em Volta Redonda e quis saber se o caso de Felipe Lima seria comum. Até o fechamento desta edição, entretanto, não houve retorno das autoridades.
Aumento de operações em Volta Redonda
Uma coisa é certa: é bom que os volta- redondenses se preparem
para enfrentar mais blitzes da Lei Seca. Como o aQui revelou na edição 1340, o projeto tem tudo para ser incrementado no município. O motivo: a cidade do aço aparece como a oitava cidade do fluminense com maior porcentagem de alcoolemia nas operações da ‘Lei Seca’. Segundo dados do governo do Estado, 22,40% dos motoristas parados nas operações em Volta Redonda estavam dirigindo sob efeito do álcool. A cidade foi a líder no Sul Fluminense. Resende, por exemplo, aparece com 18,80% e Barra Mansa, com 17%.
“As ações da ‘Lei Seca’ são planejadas de acordo com o número de motoristas, a curva de incidência de acidentes de trânsito e a taxa de alcoolemia. Em 2022, já realizamos um aumento significativo nas fiscalizações na Capital e no Interior e pretendemos reforçar ainda mais as nossas operações nas regiões que apresentaram um índice acima do que classificamos como admissíveis”, disse o subse-cretário estadual de Governo, Júlio Canelinha, ressaltando que monitorou a situação em vários municípios neste começo de ano e foi verificado que o interior está com um índice grande de motoristas flagrados dirigindo sob o efeito do álcool.
Número de embriagados ao volante caiu neste verão
Uma boa notícia é que a ‘Lei Seca’ fechou a ‘Operação Verão’ com redução no índice de alcoolemia. Foram fiscalizados 11.114 motoristas entre os dias 21 de dezembro e 20 de março. Neste período, 1.174 motoristas acabaram flagrados dirigindo sob o efeito do álcool e tiveram suspensos o direito de dirigir (ou seja, 10,6%). Em relação ao verão passado, no mesmo período foram examinados 8.053 condutores e 1.203 reprovados no teste do bafômetro (14,9%).
O resultado da ‘Operação Verão’ foi apresentado na terça, 21, durante as homenagens pelos 14 anos de criação da ‘Lei Seca’. O secretário estadual de Governo, Chico Machado, ressaltou que o aumento de pessoas dirigindo sob a influência do álcool, verificado no momento após o fim da pandemia, começou a reduzir graças às campanhas de conscientização da ‘Lei Seca’.
“O verão passado nos apresentou um dado muito elevado e que mereceu a adoção de vários mecanismos para reduzir aquele número. Um deles foi a adoção da fiscalização com motos, a ampliação do quadro de fiscais e a intensificação das campanhas educativas”, destacou o secretário. Na ‘Operação Verão’ deste ano, a ‘Lei Seca’ atuou com o auxílio de drones e montou fiscalização diurnas nos principais acessos às áreas de praias da capital e do interior do Rio de Janeiro.