Quem quer dinheiro?

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Por Roberto Marinho

Antônio Furtado, eleito deputado federal do PSL por Volta Redonda, e Alexandre Serfiotis, do PSD de Porto Real, estão encerrando o ano vestidos a caráter. Como ‘bom velhinho’, dispostos a distribuir presentes (verbas) aos prefeitos do Sul Fluminense durante o ano de 2020. O valor a ser distribuído (em até 225 emendas ao Orçamento da União) pelos dois representantes da região não é pouco. Muito pelo contrário. É de R$ 15,4 milhões e pode ser usado para tudo. Ou melhor, quase tudo. Nenhum tostão, por exemplo, pode ser destinado a pagamento de pessoal. Como se fosse uma verba carimbada, podem ser usados apenas em reformas de escolas, postos de saúde, etc.

Por isso, todos os prefeitos aguardam ansiosamente pela parte que lhes será destinada. E, óbvio, pressionam os ‘amigos deputados’ apelando para as suas bases eleitorais para que o ‘bairrismo prevaleça’. “Foi eleito por Volta Redonda, tem que destinar verbas para a cidade”, dispara um dos caciques políticos da cidade do aço, ressaltando que as emendas tanto de Furtado quando de Serfiotis ainda podem ser cortadas do orçamento da União. Ou, caso sejam aprovadas, nem sair do papel. “A destinação de qualquer verba na LOA (Lei Orçamentária Anual)  é só uma formalização da intenção dos parlamentares; a tesoura pode funcionar no ano que vem”, dispara.             

No Sul Fluminense, Furtado e Serfiotis apresentam estilos diferentes na hora de assumir o papel de Papai Noel e distribuir as emendas. No caso do delegado, que atua pela primeira vez como ‘bom velhinho’, ele não deixou de contemplar a sua base eleitoral, formada em Volta Redonda. Para a cidade do aço, o deputado-delegado destinou três emendas, no valor total de R$ 1,3 milhão: R$ 600 mil para a compra de equipamentos para o Hospital do Retiro; R$ 600 mil para a compra de equipamentos para a Guarda Municipal; e R$ 150 mil para serem investidos em assistência social.

Furtado também foi generoso com a cidade vizinha, Barra Mansa, onde tem como aliado o prefeito Rodrigo Drable. Para sorte dos barra-mansenses, o ex-delegado de Volta Redonda destinou R$ 1,1 milhão a Barra Mansa, através de quatro emendas: R$ 500 mil para a compra de um Castramóvel (divididos em duas emendas); R$ 450 mil para compra de equipamentos para a Guarda Municipal; e outros R$ 160 mil para assistência social.

Na região, Furtado destinou ainda R$ 933 mil para Resende – com emendas para a Santa Casa, para o projeto Casa das Artesãs, e para a Guarda Municipal. Outros R$ 446 mil quer mandar para Itatiaia, tudo para ser usado em assistência social. Até em Piraí, terra de Pezão, o delegado plantou uma emenda de R$ 200 mil para a Saúde; assim como outros R$ 937.228 que serão divididos entre Barra do Piraí e Pinheiral, também para custeio em saúde. Pinheiral, onde Furtado também foi delegado, pode receber mais R$ 500 mil, se for aprovada a emenda por ele apresentada para o campus do Instituto Federal de Educação (IFRJ) que funciona no município. 

Tem mais. Antônio Furtado, que vive pressionado a assumir seu papel de candidato a prefeito em Volta Redonda nas eleições do ano que vem, também destinou recursos para Japeri, Mangaratiba, Rio Claro, e Paty do Alferes, que vai receber R$ 500 mil para a restauração da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. Outros R$ 120.226,00 foram destinados para o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. O projeto cultural Casa Laura Alvim, também no Rio, pode receber R$ 310 mil. Prova de que o delegado está preocupado com cultura e educação, o que, em tempos atuais, é um ótimo sinal.

Mas, como não poderia deixar de ser, eleito apregoando reforço na segurança pública, Furtado destinou a maior parte dos recursos das suas emendas parlamentares para esta área. No total, foram R$ 5,42 milhões para diversos projetos na segurança fluminense: R$ 1,5 milhão para a construção da sede dos Estudos Forenses da secretaria Estadual de Segurança Pública, e mais R$ 720 mil para aquisição de equipamentos para a Polícia Militar.   

Preocupado também com a saúde dos policiais, Furtado destinou recursos para os hospitais da polícia civil (R$ 1,5 milhão) e militar (R$ 1 milhão). O parlamentar ainda enviou R$ 700 mil para a secretaria de Estado de Prevenção à Dependência Química (Sepredeq), mais precisamente para a Fazenda Santa Mônica, unidade modelo de acolhimento (UMA) da secretaria, que funciona em Valença.

O deputado também destinou recursos de R$ 3 milhões para a aquisição de equipamentos para hospitais estaduais do Rio, e R$ 600 mil para implantação e modernização da infraestrutura de esporte no estado do Rio.

Serfiotis é fiel a vereadores

O deputado Alexandre Serfiotis é médico, filho e herdeiro político do ex-prefeito de Porto Real, Jorge Serfiotis (já falecido), e está em seu segundo mandato. Ou seja, não é marinheiro de primeira viagem como Furtado na hora de destinar suas emendas individuais. Ao justificar as emendas, por exemplo, Serfiotis sempre coloca o nome de vereadores ou entidades que pediram o dinheiro. Uma forma de reconhecimento, mas também de garantir o apoio político para as próximas eleições, claro.

Na região, o deputado do PSD privilegiou suas bases eleitorais. Eleito com 37.526 votos, Serfiotis teve a maior votação em Barra Mansa (7.947 votos) e Resende (7.097 votos), além, é claro, dos 5.264 votos que recebeu em Porto Real. Neste último caso, parece pouco em números absolutos, mas representa mais de 44% dos votos para deputado federal em disputa na cidade natal de Serfiotis. Em Volta Redonda, o parlamentar recebeu 2.427 votos, o que representa 1,6% do total de votos para deputado federal no município.    

Pode até ser que não haja uma relação direta, mas a destinação das emendas de Serfiotis sugere que mais votos significam mais dinheiro para aquela cidade. A campeã de votos, Resende, por exemplo, foi também a campeã das emendas. Levou cinco, com um total de R$ 1,04 milhão, destinados à Santa Casa (R$ 300 mil); compra de ambulância (R$ 230 mil); reforma da UPA (R$ 200 mil); e à Escola Municipal Rompendo o Silêncio, especializada na educação de surdos (R$ 200 mil).  

Barra Mansa, a segunda colocada no número de votos, teve somente uma emenda, mas no valor de R$ 2 milhões, para custeio em saúde, enquanto Porto Real recebeu R$ 1 milhão: R$ 750 mil para a construção de uma UBS (Unidade Básica de Saúde), e outros R$ 250 mil para a implantação de uma academia da saúde. Uma fortuna, se comparada aos míseros R$ 450 mil destinados a Volta Redonda, para a implantação da Casa da Mulher.

Mas seria injusto dizer que Serfiotis apresenta as emendas conforme os votos. Em Angra dos Reis, por exemplo, o deputado teve 1.274 votos – 1,58% dos votos para deputado federal em disputa na cidade, percentual menor que os 1,6% de Volta Redonda – e teve R$ 300 mil destinados para compra de um veículo adaptado para o transporte de pessoas com deficiência. Serfiotis também destinou emendas para Quatis, Rio das Flores, Sapucaia, Paulo de Frontin, Itaocara, Natividade, Santo Antônio de Pádua, Cordeiro e Belford Roxo.

Como médico, uma das bandeiras do mandato de Serfiotis é a saúde. Por isso, boa parte do valor das emendas do parlamentar é destinada à área. No total, foram R$ 7,3 milhões destinados tanto para hospitais estaduais (R$ 4,2 milhões) quanto para a atenção básica nos municípios (R$ 2,1 milhões). O parlamentar também apresentou uma emenda de R$ 250 mil, dirigida para a reestruturação e modernização do IFRJ, no campus do município de Cambuci.  Bem longe, né?

Furtado: Emendas levam em conta ‘bem-estar’ da população

O deputado federal Antônio Furtado não faz segredo que existe certa influência do número de votos para destinar suas emendas, mas afirma que isso não é tão determinante assim. Segundo ele, até municípios onde não teve praticamente nenhum voto foram aquinhoados com suas emendas.

“Houve municípios que eu não tive voto nenhum, mas ao receber a visita do prefeito e do presidente da Câmara, que me explicitaram as necessidades, procurei atender. Um exemplo foi Paty do Alferes, onde eu não pude visitar na campanha. Mas recebi o convite para inaugurar uma creche lá. Me explicaram as necessidades e nós conseguimos contemplar”, justificou Furtado, referindo-se à emenda de R$ 500 mil para a reforma da Igreja da Matriz da cidade. Emenda que ele fez questão de justificar: “É uma igreja histórica, datada do século 19. Representa o cristianismo em toda a nossa região, é belíssima. Mas hoje não tem mais missa, está totalmente interditada. Se não houver um aporte de recursos, essa igreja pode inclusive cair. Eles (prefeito e vereadores) me levaram ao local, eu me sensibilizei com o fato e nós encaminhamos uma emenda”, pontuou.

Mas que ninguém fique com ciúmes. Furtado sabe bem quais foram as cidades que o ajudaram a conquistar uma vaga na Câmara e valoriza isso na hora de distribuir as emendas a que tem direito. “Nossa base é o Sul Fluminense. Isso é um critério (para distribuir as emendas). A população que confiou no nosso trabalho como delegado nos permitiu estar lá em Brasília, lutando pelos seus interesses”, disse ele, afirmando ainda que sempre vai “dar prioridade para educação, saúde e segurança”.

No entanto, Furtado disse que gosta de ouvir os prefeitos para saber a realidade e as necessidades de cada município antes de destinar as verbas. “Há municípios que têm necessidade de fazer encostas, para evitar danos das chuvas, outros investem mais em educação, têm necessidade de transporte público de qualidade para levar os alunos”, afirmou.

Segundo o parlamentar, a junção disso tudo – votação e necessidade dos municípios – é a fórmula que ele está usando para onde aplicar as emendas. “É desse grande contexto, que evidentemente leva em consideração as cidades que nos ajudaram a estar hoje em Brasília, as necessidades dos municípios, muito bem esclarecidas através da visão dos prefeitos, e muitas visitas”, disse Furtado, que completou: “As emendas que eu direciono não levam em consideração um conteúdo político ou a quantidade de votos, mas o bem-estar da população como um todo”.