Por Pollyanna Xavier
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Edimar Miguel, está sendo acusado de ter cometido vários erros durante a votação do acordo coletivo da empresa Vulcano, de Barra Mansa, e de suas subsidiárias. O imbróglio pode até parar no Ministério Público do Trabalho (MPT). Entre as irregularidades apontadas, a pior dá conta que, supostamente, Edimar teria retirado votos de uma urna para compensar em outra. “Isto é um tipo de fraude, não pode acontecer”, denunciou José Marcos, diretor de Comunicação do próprio órgão. Tudo aconteceu na terça, 19, quando Edimar colocou a proposta da Vulcano (ver box) em votação. Detalhe: a empresa, uma beneficiadora de aço, localizada em Barra Mansa, possui duas unidades com o mesmo CNPJ, uma, sua matriz e outra, a filial, sendo que, em tese, a votação de uma não poderia ser separada da outra. Edimar separou os votos, como se fossem duas empresas distintas. O resultado foi desastroso.
Os trabalhadores da filial aprovaram a proposta; os da matriz, rejeitaram. A discordância teria preocupado a empresa, que teria pedido a Edimar que resolvesse a situação, já que a Vulcano não poderia aplicar os benefícios da proposta – incluindo o reajuste salarial – a um grupo de operários e a outro, não. Outro possível erro é que a Vulcano possui três empresas terceirizadas (MPSB, Elisa Saleh e JCSA), e a votação do acordo coletivo em cada uma delas só poderia acontecer depois de encerradas as negociações na matriz. E elas, supostamente, foram feitas de maneira simultânea. Na hora da votação, cinco urnas diferentes – uma para cada empresa – foram levadas para dentro da sede da Vulcano. Segundo José Marcos, Edimar não poderia ter considerado a matriz e a filial da Vulcano como duas empresas diferentes. “Os votos da filial e da matriz deveriam ser contados juntos, mas o Edimar separou tudo. Daí a filial aprovou a proposta, enquanto os trabalhadores da matriz recusaram. Já o pessoal das três terceirizadas aprovou”, detalhou.
O erro, segundo ele, chegou a preocupar a Vulcano e um diretor da empresa teria pedido que Edimar resolvesse a questão. Ele também teria pedido que as urnas fossem levadas até os operários das terceirizadas, para não prejudicar a produção. “Cada empresa tinha que ter a sua própria urna e, além disso, tirar os trabalhadores dos seus postos iria prejudicar a produção”, comentou, dizendo que a solução foi atravessar a rua, com as urnas nas mãos (ver foto), para que os trabalhadores das terceirizadas votassem”, relatou.
Tem mais. Segundo José Marcos, a lista de votantes não bateu com o número de cédulas encontradas dentro das urnas. Isto teria feito com que Edimar tirasse as cédulas excedentes de uma urna e considerasse como sendo de outra. “Uma empresa tinha 14 votantes na lista e 16 votos na urna. Como sobraram dois votos, o Edimar pegou e colocou num canto dizendo que ia faltar na outra urna, depois ele contou esses votos como sendo de outra urna. Isso não pode acontecer numa votação coletiva. É fraude”, denunciou. Na quinta, 21, o departamento jurídico do Sindicato foi chamado à empresa para resolver a situação. A solução encontrada foi somar os votos da filial e matriz, resultando na aprovação da proposta. “Fomos na empresa e conversamos com os trabalhadores. O Leandro (diretor jurídico) explicou que os votos deveriam ter sido juntados. O Edimar pediu desculpas aos trabalhadores e confessou que cometeu um equívoco na apuração dos votos”, contou José Marcos.
O aQui tentou falar com Edimar Miguel, mas ele não respondeu aos questionamentos da repórter. O aQui também fez contato com a empresa Vulcano, que comentou que a votação teria sido realizada dentro da normalidade, “de forma calma e serena”. Em nota enviada ao jornal, a Vulcano disse que “a maioria indiscutível dos colaboradores aprovou o Acordo Coletivo proposto, demonstrando a clara satisfação dos envolvidos”. Disse ainda que o “Departamento Jurídico da empresa acompanhou todo processo e está certo que foram respeitados os passos legais necessários e atendidas as demandas do Sindicato e dos trabalhadores, dentro do que determina a legislação vigente”, concluiu.
Veja a proposta aprovada na Vulcano e nas suas terceirizadas:
– Reajuste salarial de 4% retroativo a maio/ 2024
– Cartão alimentação de R$ 470 retroativo a maio
– Renovação do banco de horas, reduzindo de 80h para 45h.
Rejeição
Por falar em acordo coletivo, os trabalhadores da Volks de Resende rejeitaram a proposta da empresa para 2025/2026. A oferta consistia em um reajuste salarial de 100% do INPC (4,6%); aumento de 21% no cartão-alimentação, que passaria dos atuais R$ 620 para R$ 750; PLR de R$ 10.500, sendo a primeira parcela – R$ 7 mil – paga em maio de 2025 e o restante após a aprovação da proposta, e ainda o fim do custo adicional
por dependente no plano médico Saúde Bradesco. Com a rejeição, o Sindicato aguarda a Volks remarcar uma nova reunião para dar continuidade às negociações.
Edimar teria expulsado trabalhador da votação da Volks
Edimar também teve problemas durante a votação do acordo coletivo da Volks, em Resende. Foi no dia 14, quando o sindicalista teria expulsado o cipista Danilo Moura de Araújo Santos do local da votação, alegando que a presença do trabalhador não era bem-vinda. “Fica aqui a minha indignação como trabalhador e cipista. Eu fui impedido de acompanhar a votação. Não estava fazendo nada, apenas observando”, disse Danilo, em áudio encaminhado aos grupos da fábrica. Segundo apurado, Danilo virou desafeto de Edimar em abril, quando o líder sindical convocou uma assembleia entre os trabalhadores da base para mudar o estatuto do Sindicato. Na época, Danilo ajuizou uma ação contra o Sindicato pelo fato de Edimar não ter cumprido os requisitos obrigatórios para a mudança no estatuto. Dentre eles, a colocação de urnas itinerantes para percorrer todas as empresas da base consultando os trabalhadores. Na ação, a que o aQui teve acesso, Danilo pede o cancelamento da assembleia que mudou o estatuto, alegando que Edimar não consultou os trabalhadores da Volks ou das empresas do consórcio modular, mas apenas os da CSN, em Volta Redonda. A ação tramita na 3ª Vara do Trabalho e ainda não tem data para ser julgada. Desse então, os dois andam estranhando. Procurado, Edimar não comentou o ocorrido.