Por Luiz Vieira
Antes de explicar os motivos do título acima, devo abordar o caso do prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable, que está sendo massacrado nas redes sociais por supostamente ter cometido um ‘crime de importunação sexual’ contra uma funcionária de uma empresa que explora os serviços de camarotes no Maracanã, o maior estádio do mundo. Foi na noite de quarta, 19, e Drable, que estava acompanhado por vários amigos, flamenguistas roxos como ele, assistia à decisão da Copa do Brasil contra o Corinthians.
Aos 10 minutos de jogo, saiu o gol do Flamengo e, enlouquecido, Drable passou a pular de alegria, a gritar, e, como ocorre nesses casos, abraçar quem encontrava pela frente. Não importava se era um amigo, como o da foto que postou na internet, ou um ilustre desconhecido. Afinal, no camarote todos torciam para o Urubu (ops, para o Flamengo). As comemorações não duraram nem dois minutos. Quando o jogo foi reiniciado, todos voltaram a torcer. Só que, no auge da alegria, Rodrigo Drable teria abraçado quem não devia. A funcionária do camarote, uma pessoa que nunca tinha visto na vida.
A felicidade do prefeito acabou quando ele foi informado que deveria comparecer à sede do Juizado Especial do Torcedor, que funciona em dias de jogos no estádio do Maracanã. Estava sendo acusado de ‘importunação sexual’ pela mulher que abraçou nas comemorações do gol do Flamengo. Ele foi, certo de que tudo seria esclarecido.
Não foi. Para sua surpresa, o juiz Francisco Emilio de Carvalho Posada e a promotora, Denise Pieri Peçanha Pitta, disseram-lhe que a mulher, cujo nome não foi divulgado, o estava acusando de importunação sexual. Ela estava acompanhada por duas testemunhas, que o prefeito disse também nunca ter visto e que nem no camarote estavam. Na acusação, a mulher disse que, por volta das 22 horas, quando o time do Flamengo fez o gol, Drable se aproximou dela e lhe disse: “Agora é a hora que vou te abraçar e te beijar”. Em seguida, segundo a vítima, o prefeito teria tentado beijá-la, mas ela se esquivou. Rodrigo negou tudo. Apresentou suas testemunhas, que também negaram o ocorrido. Tudo em vão. Era a palavra dele contra a dela.
E, importante, diante do juiz e da promotora, a mulher não acusou Rodrigo Drable de qualquer tipo de abuso sexual. Não o acusou de tê-la apalpado. Nem mesmo de ter lhe convidada para irem para um canto discreto do camarote. Muito pelo contrário. Disse que o prefeito a abraçou no meio do camarote, que estava cheio de famílias, esposas de torcedores, inclusive.
Para evitar o pior, Drable aceitou o acordo proposto pelo juiz de pagar uma indenização de R$ 500,00, dinheiro que seria entregue ao Inca (Instituto Nacional do Câncer). Não à mulher que o acusou, conforme decisão judicial, referendada pelo MP. Rodrigo concordou e ainda dobrou o valor da indenização para R$ 1 mil, que doou ao Inca. Disse que preferiu aceitar a proposta de pagar a indenização para evitar ser obrigado a comparecer diante do juizado várias vezes enquanto durasse o processo, em idas constantes ao Rio de Janeiro. “Em duas viagens ao Rio eu gasto quase isso de despesas. Preferi encerrar o assunto”, justificou.
Foi o seu erro. Se não tivesse aceitado a proposta, o caso iria se prolongar. Ele poderia, inclusive, provar que não cometeu a ‘importunação sexual’. Se o fizesse, a imprensa, em especial a TV Rio Sul, não iria noticiar o caso garantindo até que “Rodrigo confessou o crime”. Nas redes sociais, a reportagem bombou. Os adversários adoraram. Os ‘cristãos’ passaram a linchá-lo moralmente.
Nos lembra o famoso caso, ocorrido há duas décadas, dos donos da Escola de Educação Infantil Base, localizada na zona sul de São Paulo, que foram acusados de pedófilos. Na época, a opinião pública e a grande imprensa condenaram Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada, Mauricio Alvarenga e Paula Milhim Alvarenga pelos ‘crimes que cometeram’. O problema é que tudo foi esclarecido, pois as acusações eram falsas. Só que eles, donos da escola e o motorista que trabalhava para eles, não se recuperaram do linchamento moral que sofreram.
E é aí que volto ao tema principal da matéria: “O mundo mudou… para pior”. O caso Rodrigo Drable mostra que já não se pode torcer nem em jogos de futebol, seja no Maracanã, na Colônia Santo Antônio ou no Raulino de Oliveira. Já não se pode abraçar o torcedor ao lado quando seu time fizer um gol. Torcer passou a ser um risco de vida, como ocorreu no último final de semana em jogos do Vasco da Gama e do Ceará. E fico a imaginar se cumprimentar um cristão durante a missa de domingo e desejar a ‘Paz de Cristo’ a quem estiver por perto, mesmo que seja um desconhecido, também não pode ser um ato de risco. Quem garante o que acontecerá a seguir? E o que fazer na Virada do Ano, na noite do dia 31 de dezembro, quando todos também se abraçam? Vamos manter a tradição ou, pensando no pior, não vamos falar com ninguém?
É por essas e outras que reafirmo: O mundo está mudando para pior. Hoje, nada se pode fazer sem que a câmera de um celular o flagre cometendo um ‘crime’, como abraçar alguém depois de um momento único de alegria. Hoje, não podemos mais falar de religião, de política, de futebol. Não podemos cantar músicas de sucesso dos tempos dos nossos avós e pais. E a partir do caso Rodrigo Drable, também não devemos mais comemorar nada. É o fim do mundo.