Por Mateus Gusmão
Faltando exatamente duas semanas para os volta- redondenses irem às urnas escolher quem comandará o Palácio 17 de Julho até 2028, a eleição em Volta Redonda continua fria. Só não está gelada porque alguns cabos eleitorais passaram a ocupar as ruas com suas bandeirolas. O motivo parece ser simples: Neto, em seu quinto mandato, caminha a passos largos para vencer pela sexta vez. É que nenhum dos outros seis candidatos parece ter chance de incomodar Neto & Faria.
A bem da verdade, que sirva de consolo para eles, não existe nenhuma pesquisa de intenção de voto registrada no TSE que possa servir de parâmetro para o atual cenário pré-eleitoral. Mas, nos bastidores, há quem garanta que o atual prefeito segue favorito. Vai até se dar ao luxo de participar do debate na TV Rio Sul, marcado para o dia 3 de outubro. Nele, com certeza, será massacrado pelos adversários. Esperamos apenas que não leve nenhuma cadeirada ao vivo, no estilo Datena x Marçal. Para quem não sabe, Neto já venceu a eleição para prefeito de Volta Redonda cinco vezes, e em apenas uma delas foi no segundo turno.
Em 1996, Neto ganhou com apoio do então prefeito Paulo Baltazar, tendo o dobro de votos de Nelson Gonçalves. No ano 2000, quando concorreu à reeleição, Neto teve quase 80% dos votos. Foi uma surra. Sem poder concorrer ao terceiro mandato seguido, Neto, em 2004, lançou o então vereador Gotardo – que saiu vitorioso no pleito.
Após passar por cargos no governo do Estado, como a presidência do Detran e a secretaria de Fazenda, Neto retornou ao Palácio 17 de Julho por ter vencido a eleição de 2008. Também no primeiro turno. A disputa mais acirrada foi em 2012, quando Neto tentou – e conseguiu – seu quarto mandato. O ex-deputado Zoinho, que tinha como vice o empresário Rogério Loureiro, conseguiu levar a eleição para o segundo turno com uma margem apertada de votos – faltaram menos de 700 votos para que Neto vencesse já no primeiro turno. Veio o segundo turno e Neto conseguiu se reeleger com quase 55% dos votos válidos.
Como estava completando o segundo mandato consecutivo, Neto não poderia concorrer à reeleição em 2016 e, por este motivo, resolveu apoiar a vereadora América Tereza, que ficou apenas em terceiro lugar na disputa. Quem venceu a eleição foi o então pouco conhecido Samuca Silva, que derrotou o ex- prefeito Paulo Baltazar. Em 2020, Neto voltou a concorrer à prefeitura de Volta Redonda. Detalhe: contra 13 candidatos, inclusive Samuca, que concorria à reeleição, tendo o apoio da máquina. Neto venceu novamente no primeiro turno, com mais de 89 mil votos.
De férias para a campanha
A única eleição em que Neto enfrentou o segundo turno foi a de 2012, contra Zoinho. E ela deixou lições importantes. Uma delas é não subestimar o processo eleitoral. Há 10 anos, faltaram pouco menos de 700 votos para vencer no primeiro turno – o que deixou muitos surpresos. Neto tinha uma tradição de acompanhar a apuração dos votos no Clube Comercial. Quando o resultado mostrou que haveria segundo turno, o clima era de “derrota” entre os netistas. Coube ao radialista Dário de Paula fazer um discurso para animar a trupe.
Dez anos depois de enfrentar esse segundo turno contra Zoinho, Neto não quer ver o filme se repetir. Prova disso é que já no início da campanha foi para as ruas pedir votos, fez reunião com diversos candidatos a vereador (a coligação do prefeito conta com 250 postulantes a uma cadeira no parlamento), visitou projetos da terceira idade e circulou com caminhão de som. Tem mais. Desde o início de setembro, oficialmente de férias. Quer fazer campanha a qualquer horário do dia, sem ter a ‘obrigação’ de estar despachando no Palácio 17 de Julho. Só não pode ficar parado, ou sentado em uma cadeira na Feira Livre da Vila.
“Neto é favorito”, analisa especialista
O advogado Daniel Renna, especialista em direito eleitoral e que assessorou diversos políticos volta- redondenses, Neto seria de fato o favorito para vencer a eleição já no primeiro turno. “Volta Redonda é vanguarda na política, nosso povo é politizado. Algumas coisas acontecem aqui antes de acontecer no país. Um exemplo foi a eleição do Samuca, um outsider com discurso antipolítica. Esse fenômeno se repetiu depois no Brasil com eleição de João Dória, em São Paulo, e do próprio Bolsonaro para presidente”, analisou. “Mas esse modelo de antipolítica não deu certo. Prova disso é o retorno de políticos tradicionais”, disse. “Vamos usar o exemplo nacional: Bolsonaro não foi bem, e o povo escolheu o retorno de Lula, mesmo tendo passado por governos acusados de corrupção. O povo acaba querendo voltar para a segurança, para quem já conhece”, destacou, salientando que isso aconteceu em 2020 em Volta Redonda, quando Neto venceu a eleição. “Samuca não foi bem, e o povo acabou escolhendo quem já conhecia, o prefeito Neto”, completou. Daniel lembra que os adversários de Neto têm problemas para crescer junto ao eleitorado. “O professor Habibe vem pelo PT, partido que não conta com muita simpatia da população de Volta Redonda, tanto que Bolsonaro ganhou aqui na cidade na eleição passada. Arimathéa, apesar de estar no partido do deputado Jari, um político com maior ascendência na região, não conseguiu sair com prestígio em Pinheiral, onde foi prefeito. Não vai conseguir empolgar os eleitores de Volta Redonda”, crê.
Tem mais. “O Samuca é o Samuca, tem muito discurso, mas na prática o povo conhece e não vai votar, assim como não votou em 2020 na sua tentativa de reeleição”, analisou. “O Mauro Campos é um bolsonarista, um direitista. Mas, quando ele perdeu o PL para o Neto, acabou perdendo votos dos bolsonaristas que seguem o ex-presidente em tudo. Ele perdeu força. Pode acabar sendo um bom nome para um próximo ciclo político, mas para agora não”, disse. O advogado ainda salienta que o prefeito Neto é muito experiente e se aproximou de grandes lideranças, além da direção da CSN – com que já viveu às turras. “Neto conseguiu apoio de ex-adversários, como o vereador Edson Quinto, o ex-vereador Maurício Batista e o ex-deputado Zoinho. O Edson Albertassi também foi para o grupo do prefeito”, afirmou, para logo opinar. “Neto hoje é imbatível a meu ver. Acho que vence no primeiro turno. Mas, mesmo se tiver um segundo turno, ainda seria o favorito”, completou.
Cenário morno
O aQui também entre- vistou o marqueteiro político Higor Santos, CEO da Dub Marketing de Volta Redonda, para analisar o quadro eleitoral. Segundo ele, com menos de 20 dias para as eleições, o cenário político local tem se mostrado relativamente morno, com poucas movimentações de campanha de alto impacto e uma divulgação limitada de pesquisas de opinião pública. “Esse comportamento faz parte de uma estratégia comum em campanhas eleitorais. Os candidatos optam por manter uma postura cautelosa, evitando movimentações bruscas que possam comprometer suas imagens ou gerar desgaste junto ao eleitorado, especialmente em uma fase final, tão próxima da votação”, crê.
Para Higor, a ausência de pesquisas eleitorais registradas no TSE cria um cenário interessante e desafiador para os candidatos. “Para Neto, a ausência de pesquisas publicadas pode ser uma oportunidade estratégica. Com um histórico de gestão reconhecida, ele tem concentrado sua campanha
em destacar suas realizações. Sem os dados de pesquisas publicados, Neto pode continuar moldando sua imagem com base em suas conquistas passadas, sem o risco de que números negativos ou indicativos de desgaste influenciem a percepção do eleitorado”, disse.
Tem mais. A falta de sondagem também pode gerar oportunidades para quem disputa a eleição contra Neto. Ele deu o exemplo do professor Habibe (PT). “Habibe adota uma
abordagem voltada para a renovação e justiça social. Para ele, a falta de pesquisas eleitorais públicas também pode ser uma oportunidade de construir uma narrativa mais direta e engajadora, sem a pressão imediata de competir com a popularidade que uma pesquisa publicada poderia estabelecer a favor de Neto. Com sua agenda progressista, ele pode utilizar esse vácuo de dados para consolidar sua base e atrair novos eleitores”, disse. Para Higor, sem as pesquisas eleitorais, os marqueteiros devem desenvolver adaptações nas estratégias de comunicação. “As pesquisas qualitativas internas desempenham um papel fundamental para que cada um ‘aposte suas fichas’ em ações que vão desde o monitoramento de redes sociais até planos de organização de equipes em bairros da cidade, com o objetivo de intensificar a interação direta com os eleitores”, comentou. “Assim, a ausência de pesquisas publicadas pode ser vista tanto como uma oportunidade quanto com um desafio. Em ambos os casos, a conexão direta com o eleitorado e a capacidade de adaptar rapidamente as estratégias de comunicação são diferenciais expressivos nessa disputa”, concluiu