quinta-feira, março 28, 2024
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‘Nada a fazer’

O prefeito Rodrigo Drable resumiu tudo em um curto comentário: “Nada a fazer”, disparou, referindo-se à decisão das prefeituras de Itatiaia e Resende de mandar todo o lixo produzido nas duas cidades para o CTR (Centro de Tratamento de Resíduos) de Barra Mansa, que é operado pela Foxx Haztec. “Não cabe a mim aceitar ou negar. Existe um contrato assinado em 2012 que prevê um volume mensal de entrada (no aterro, grifo nosso). Até a utilização desse volume, não podemos impedir. Contudo, vale apontar que Barra Mansa, em função de ter este CTR, e receber resíduos de outros municípios, não paga qualquer taxa de disposição final, que é cobrada em outros municípios”, pontuou.

 

Rodrigo vai além. Lembra que em alguns municípios existe a cobrança da taxa de coleta de lixo e disposição final. “Barra Mansa não tem. O custo de disposição final em Barra Mansa é quase zero, além de termos todo resíduo sendo adequadamente destinado”, destacou, referindo-se ao temido chorume, que, inclusive, já provocou um mal estar entre a prefeitura e a Haztec, que já deveria ter criado uma Estação de Tratamento do Chorume. “Tivemos que aplicar as multas”, contou Rodrigo, em entrevista exclusiva ao aQui

 

“As pessoas só vêm o negativo (manter lixões). Mas temos que mostrar que isso é um problema que foi solucionado em Barra Mansa há anos”, acrescentou. “Em nenhum local do mundo  há um CTR que exista para apenas um único município, pois não há como manter a estrutura ambientalmente adequada. Isso demanda (a existência) consórcio ou atividade cooperada entre várias cidades”, afirmou Rodrigo, ainda referindo-se ao lixo de Resende e Itatiaia que, até o final do ano, será transportado diariamente para Barra Mansa. “Vale ressaltar que temos o mais antigo, maior e mais efetivo programa de coleta seletiva da região. E que estamos iniciando um projeto de seleção de recicláveis dentro do aterro, diminuindo o volume do material disposto e aumentando o tempo de vida útil do CTR”, finalizou.

Audiência

O lixão de Resende, localizado em Bulhões, fechará suas portas até o final do ano, fazendo com que todo o lixo da cidade e ainda o de Itatiaia, seja levado para o Centro de Tratamento de Resíduos de Barra Mansa. Apesar da posição de Rodrigo, de nada poder fazer, muita gente não gostou da notícia. O vereador Gilmar Lelis (PRTB) chegou a apresentar um requerimento para que a Câmara realize uma audiência pública com o intuito de discutir o despejo de resíduos sólidos, classe 2A e 2B, no CTR local. “Algumas questões precisam ser estabelecidas. Fizeram estudos? Qual será o impacto ambiental com todas essas toneladas que estarão vindo para Barra Mansa?”, disse. “Esse lixo produz chorume e sabemos que o CRT tem manta de impermeabilização para o chorume não atingir o lençol freático. Mas, quem garante que não possa acontecer um acidente ambiental? Tudo isso precisa ser respondido”, explicou. “A cidade pode até se beneficiar nesse primeiro momento com mais cidades trazendo lixo pra cá. Isso resulta em mais verba, porém o aterro tem vida útil. E depois?”, indaga.

 

Sem fronteiras

Para quem não sabe, Barra Mansa é pioneira no Sul Fluminense desde a implantação, em 2012, do Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), localizado no Km 6 da estrada para Bananal (SP), e que recebe diariamente 750 toneladas de resíduos (a capacidade total é de 950 toneladas/dia). Além de permitir a destinação ambientalmente correta do lixo do município, Barra Mansa ainda auxilia outras prefeituras, como de Volta Redonda, Porto Real, Quatis, Rio Claro, Pinheiral, além de Bananal e Arapeí (ambas de São Paulo), que pagam para se ver livre do que é produzido em suas cidades.

 

De acordo com o coordenador de Resíduos Sólidos do Saae-BM, Jackson Rabelo, o CTR atende a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). “O município adotou um modelo de gestão de resíduos regionalizada, garantindo a preservação do meio ambiente e a constante busca pelo reaproveitamento dos resíduos. O procedimento, além do ganho ambiental, permite fomentar a economia, por meio da geração de cerca de 150 empregos diretos e indiretos, arrecadação de ISS, na casa de R$ 70 mil, recebimento de outorga pela operação do aterro sanitário, que rende aos cofres do município R$ 80 mil/mês, acrescidos de outros R$ 18 mil referentes à outorga do biogás. O tratamento adequado do lixo em Barra Mansa ainda permite ao município receber parcelas maiores dos recursos do ICMs Verde”, detalhou.

 

Outra vantagem do CTR, segundo ele, é o fim dos catadores de lixo. “Tínhamos mães que amamentavam seus filhos ao mesmo tempo em que catavam recicláveis. Era uma situação muito triste. Conseguimos absorver grande parte dessas pessoas que sobreviviam da atividade, inclusive com a Cooperativa de Catadores de Barra Mansa, que gera uma renda mensal de R$1,3 mil para os cooperados”, comparou.

 

Com relação à possibilidade de Barra Mansa receber o lixo de Resende e Itatiaia, Rabelo lembrou o ganho financeiro e ambiental que será gerado. “A demanda seria de 100 toneladas/dia. Isso representa um ganho ambiental imensurável para a região, se levarmos em consideração que o chorume produzido nos lixões das duas cidades contamina o solo e atinge o lençol freático que, por sua vez, deságua nos córregos, riachos e rios, provocando a contaminação hídrica na região. O gás metano, gerado nos lixões, contamina o ar e favorece a destruição da camada de ozônio. Daí, é fundamental entender que não existe fronteira para as questões ambientais”, frisou.

 

Marcelo Ricardo da Silva, gerente de operações da Foxx Haztec, conforme release enviado pela prefeitura, enumera as principais diferenças entre um lixão e o CTR. “Os lixões são áreas de despejo de lixo a céu aberto, sem qualquer medida de proteção ao meio ambiente e à saúde pública, com alto risco de contaminação do solo e do lençol freático e atração de animais vetores de doenças. Nos aterros sanitários, ao contrário, existe todo um projeto de topografia, de preparação e impermeabilização do solo. Também há total controle sobre os resíduos enviados pelas prefeituras e empresas privadas”, revela.

 

Tem mais. “Os caminhões que chegam com os resíduos precisam apresentar nota contendo informações sobre o produto. O caminhão carregado vai para o processo de pesagem e para o descarte do resíduo. Na sequência, o veículo retorna para a balança para uma nova conferência de peso. Se eventualmente houver divergência de informações, o material não é descarregado. É encaminhado de volta à empresa de origem.”, explicou.

 

Marcelo garante que o aterro sanitário é uma obra de engenharia projetada sobre critérios técnicos e ambientais, com finalidade de garantir a disposição dos resíduos sólidos urbanos sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente. “O aterro recebe e acomoda vários tipos de materiais, em diferentes quantidades, sem causar danos à saúde e ao meio ambiente. Os aterros sanitários são compostos por setores: de preparação, execução e conclusão”, pontua, aproveitando para explicar.

 

“No primeiro (setor) acontece a impermeabilização e o nivelamento do terreno. No setor de execução, os resíduos são dispostos na célula operacional. Quando a capacidade de disposição de resíduos em um setor do aterro é atingida, a área é recomposta e revegetada, com os resíduos sendo então depositados em ou-tro setor. Quem olha de fora nem imagina que debaixo de uma montanha verde e bonita há resíduos descartados pela população”, detalhou.

CTR

O Centro de Tratamento de Resíduos de Barra Mansa tem área total de 1.936 mil metros quadrados, o que garante à unidade pelo menos 50 anos de vida útil. Segundo Marcelo Ricardo, a área licenciada atende as demandas da região por 20 anos, podendo ser prorrogável, de acordo com o interesse do município, por mais cinco anos. Porém, a extensão do terreno possibilita a ampliação das atividades em meio século. Na unidade, também é feito o encaminhamento do lixo hospitalar para tratamento. “Temos uma câmera fria onde acondicionamos o lixo hospitalar pelo prazo de até 48 horas. Em dias alternados, enviamos o material para o tratamento em sistema de autoclavagem e, posteriormente, recebemos os resíduos no CTR”.

Para 2020, o CTR terá a sua primeira Estação de Tratamento do Chorume. Hoje, a unidade conta com 13 lagoas de chorume. Com a tecnologia alemã, que será adotada pela Foxx Haztec, o chorume poderá ser transformado em água potável. “Essa água poderá ser utilizada para lavar carros, quintais, calçadas e irrigar plantações. Só não é viável para o consumo humano. Esse tipo de iniciativa permite economicamente o tratamento do chorume, sem a necessidade do tratamento deste líquido em uma estação de esgoto. O chorume recolhido do aterro é bombeado para uma miniestação de tratamento que cabe em um contêiner. Equipamentos de última geração filtram o chorume. Micro membranas só deixam passar as moléculas de água. O resultado do processo é impressionante”, disse o gerente de operações da empresa, Marcelo Ricardo.

Antigo Lixão

Um compromisso assumido pela Foxx Haztec está relacionado à recuperação ambiental da área onde durante décadas funcionou o lixão de Barra Mansa, no Km 8, da estrada que liga o município a Bananal. Segundo Marcelo Ricardo, 80% da área foi remediada. Por questões litigiosas, o processo foi suspenso e, após um TAC firmado durante audiência no Ministério Público Federal, foi estipulado que o restante das ações necessárias será realizado até outubro deste ano. “O monitoramento ambiental do córrego que passa no entorno do antigo lixão e do Rio Bocaina aponta que esses corpos hídricos não sofrem mais impacto ambiental proveniente do antigo lixão”, concluiu.

 

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