Pollyanna Xavier
Está marcada para segunda, 12, a audiência que deve esclarecer quem realmente deve mandar e desmandar no Sindicato dos Metalúrgicos. A incerteza vem desde março, depois das mudanças realizadas por cinco membros da executiva, conhecidos como G5. Eles promoveram um remanejamento de cargos e funções e tiraram Edimar Miguel da presidência, deslocando-o para a Secretaria por Local de Trabalho – uma pasta que até hoje ninguém sabe para que serve. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente Odair Mariano. As mudanças tiveram como base o estatuto e foram tidas pelo G5 como necessárias para barrar alguns excessos que, supostamente, teriam sido cometidos por Edimar.
O imbróglio acabou na Justiça, através de uma ação ajuizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos, na figura do então presidente Odair Mariano. O problema é que Edimar foi reconduzido ao cargo através de uma liminar e, como presidente, se tornou o autor da ação ajuizada por Odair. A confusão jurídica é tão grande, que o próprio juiz do trabalho, Thiago Rabello, responsável por julgar a ação, aceitou adiar a audiência de instrução (marcada para julho), para que as partes fundamentassem bem suas defesas, já que a dança das cadeiras na liderança do Sindicato causou insegurança jurídica na situação.
O próprio Edimar, que antes figurava como reclamado (alvo da ação) e passou a reclamante (autor da ação), chegou a pedir a anulação do processo, tamanha a confusão causada, mas o pedido não foi acolhido pela Justiça. Em tese, nem poderia. É que o próprio juiz do Trabalho reconheceu, no início de março, que as mudanças realizadas pelo G5 no Sindicato, e que resultaram no remanejamento de cargo e na saída de Edimar da presidência, foram tomadas com base no estatuto, o que as tornaram legítimas. Anular o processo, como Edimar pediu, invalidaria o próprio parecer jurídico.
Seja como for, é esperada para segunda-feira uma posição mais clara sobre a situação. O juiz deverá ouvir as partes e as testemunhas, para formular sua decisão. Por falar em testemunhas, um dos motivos que levou ao primeiro adiamento da audiência foi a ausência das duas testemunhas arroladas pela defesa de Edimar. Sem o depoimento de ambas, o líder sindical se disse prejudicado e solicitou o adiamento da audiência. Outro ponto que também contribuiu para que a audiência fosse prorrogada é o fato de o Ministério Público do Trabalho ter colocado Odair e o G5 como litisconsortes na ação, ou seja, se antes eles eram autores, agora, com Edimar na presidência, eles continuam como autores, só que ao lado de Edimar.
A decisão do imbróglio, que poderá acontecer com a audiência, ou não, será importante para saber quem, de fato, comandará o Sindicato dos Metalúrgicos até 2026, quando se encerra o mandato da atual gestão. Seja como for, o G5 defende uma gestão participativa, tal qual determina o estatuto que elegeu todo o grupo. Já Edimar quer liderar sozinho, sem a interferência dos diretores, só com a ajuda de assessores que não compõem a executiva do órgão e que não foram eleitos com a chapa.
Contas
Há ainda um ponto que deve ser debatido na audiência: as contas do Sindicato, que Edimar colocou em xeque quando acusou o diretor financeiro, Alex Clemente, de ter desviado cerca de R$ 650 mil, através de 142 saques que, supostamente, teriam sido feitos da conta bancária do órgão. Na prestação de contas, em julho, que Edimar tentou impedir, Alex apresentou o balanço do Sindicato e provou que todas as operações bancárias tiveram a anuência de Edimar. “Inclusive quando os saques beneficiaram o próprio presidente”, disse Alex na ocasião. Os extratos e comprovantes foram mostrados na prestação de contas, que chegou a ser transmitida no perfil do Sindicato no Instagram.
Por ter tido a sua conduta questionada pelo líder sindical, inclusive com ampla publicidade nas redes sociais e em vídeos gravados por Edimar e que circularam no WhatsApp, Alex ajuizou uma ação criminal contra Edimar, por calúnia e difamação. A ação tramita na 1ª Vara Criminal de Volta Redonda e ontem, sexta, 9, aconteceu a primeira audiência. Ao aQui, Alex afirmou que não aceitaria fazer nenhum acordo com Edimar. “Eu sou negro e ter tido minha honra colocada em descrédito não me permite fazer acordos”, concluiu.