O prefeito Rodrigo Drable ficou tiririca da vida ao tomar ciência do projeto do governo Federal, via ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre), de mudar a praça do pedágio de Itatiaia na Via Dutra para o distrito de Floriano, em Barra Mansa. A ideia foi apresentada e debatida na quarta, 15, quando vários prefeitos da região foram conhecer os detalhes da proposta da agência para a nova concessão do sistema rodoviário entre o Rio e São Paulo. Profundamente irritado, Rodrigo falou durante cinco minutos. E não deixou por menos. Para ele, as propostas desfavorecem o estado e, pior, o Sul Fluminense.
“Em 1994, desci a Serra das Araras na companhia do meu pai e ele dizia das expectativas das obras de duplicação da estrada naquele trecho. Passados quase 26 anos da concessão da Via Dutra, esse mesmo sonho continua sendo vendido. A ideia é que daqui a três anos a gente possa ter essa realização. Eu não consigo entender esse projeto que divide a Dutra para que possam ocorrer investimentos na BR-101. Nós vamos pegar o faturamento da Dutra para investir na Rio-Santos? Vai ser uma ilusão semelhante ao que ocorreu em 1994. Mangaratiba e Angra dos Reis vão ficar sonhando com isso?”, questionou.
Ele foi além. “Em Barra Mansa, tenho 10 pontos de retorno na Via Dutra, sete deles oficiais e três informais. A gente vive solicitando à Concessionária o fechamento desses pontos e a resposta é sempre a mesma: Na próxima semana a interferência será realizada. Além disso, os sete acessos formais da Dutra ao município estão cheios de buracos, todos arrebentados. As ruas dos bairros Boa Sorte e São Luiz apresentam problemas causados pelas obras de drenagem realizadas na Via Dutra, que joga toda a água das chuvas para esses locais. Com isso, as vias ficam completamente alagadas e isso arrebenta com os bairros”, reclamou.
Outro problema citado pelo prefeito de Barra Mansa foi quanto ao atendimento das vítimas em acidentes ocorridos na Via Dutra. “Eu recebo vítimas de acidentes na Via Dutra todos os dias. Nunca me perguntaram quanto custa atender esses pacientes ou ainda qual o valor que gastamos para manter o Pronto Socorro e o Serviço de Imagem da Santa Casa de Barra Mansa. Este projeto é um atentado ao cidadão”. Ele tem razão. Uma ideia de jerico.
Pedágio
Para Rodrigo Drable, a instalação de uma praça de pedágio em Barra Mansa vai onerar ainda mais as operações de transportes de carga no Sul Fluminense. “Já sofremos com as inúmeras indústrias que deixaram a região para se instalar em São Paulo. O projeto apresentado fortalecerá esse movimento de esvaziamento do Sul do Estado. Os problemas são muitos. Para se ter ideia, são 72 passarelas de pedestres. Nenhuma em Barra Mansa. Temos cidadãos que morrem atropelados toda hora no trecho da estrada que corta o município. Me pergunto por que a outorga da atual concessão não é utilizada para investimentos nos hospitais, melhoria do CTI, Pronto Socorro e aumento no número de leitos para atender essas vítimas? Penso que esse projeto está errado”, ponderou, lançando uma proposta que não vai agradar a Brasília. “Deve haver uma manifestação de toda a sociedade contra essa proposta. É preciso ter um estudo sério sobre os motivos para que o projeto esteja sendo feito dessa forma. E com relação ao pedágio no município, qual o resultado positivo para a sociedade? Essas informações precisam estar claras”.
Presente à audiência, o vereador Wellington Pires disse estar indignado com a proposta. “Um dos pontos que mais me chamou a atenção foi a mudança da praça de pedágio de Itatiaia para Barra Mansa, na altura do distrito de Floriano. Essa pretensão segrega os moradores da localidade do distrito-sede. Nos próximos dias, vou organizar um abaixo-assinado para entregar à bancada do Rio de Janeiro na Câmara Federal e aos deputados estaduais, inclusive ao represente da nossa cidade, o deputado Marcelo Cabeleireiro, visando impedir essa medida”.
O presidente da Aciap-BM, Bruno Paciello, endossou a postura dos políticos. E garantiu que a entidade também é contrária ao novo projeto de concessão da Via Dutra. “Em outubro passado, estivemos em Brasília e entregamos pedidos de duplicação imediata do trecho de descida da Serra das Araras; de não instalação de novas praças de pedágio; e da construção de acessos a áreas que podem receber novos empreendimentos às margens da rodovia. Nenhuma dessas demandas foi contemplada no novo projeto de concessão. O que vimos na apresentação da ANTT foram investimentos prioritários no trecho paulista da estrada. O estado do Rio, em especial a região Sul Fluminense, ficou em segundo plano”, denunciou Paciello.
Entre os pontos de maior discordância da Aciap-BM está a implementação da nova praça de pedágio em Barra Mansa, próxima à Pedreira Pombal. “Além de separar a sede do município do distrito de Floriano, a instalação de mais uma praça de pedágio vai gerar desemprego na região. Milhares de moradores de Barra Mansa e Volta Redonda trabalham no polo automotivo de Resende e em Itatiaia. O custo do transporte vai subir muito, inviabilizando a contratação desses moradores. Também defendemos a construção de acessos a áreas que podem receber novos empreendimentos às margens da rodovia, como a Zona Especial de Negócios de Barra Mansa, que aguarda a liberação e investimentos na obra de acesso ao local”, defendeu Paciello.
Sugestões
Ontem, sexta, 17, aconteceu a terceira e última audiência pública para tratar do caso. Porém, as contribuições da consulta pública podem ser enviadas até 3 de fevereiro pelo site http://www.antt.gov.br – Participação Social – Audiência Pública nº 018/2019.
O novo edital de concessão da Via Dutra prevê contrato de 30 anos e investimentos de R$ 17 bilhões pela futura concessionária. O contrato atual com a Concessionária expira em 29 de fevereiro de 2021. A previsão da ANTT é de que a licitação do edital do leilão seja realizada no segundo semestre de 2020, após a apreciação e aprovação dos estudos do projeto da concessão pelo Tribunal de Contas da União.