A Covid da CSN

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Ao contrário do comércio – que foi obrigado a fechar suas portas por conta do coronavírus –, a CSN, óbvio, não parou. E não vai parar. Sorte de Volta Redonda, porque se a maior e principal empresa da região desligar seus fornos e anunciar uma parada, o sistema econômico regional teria tudo para entrar em colapso. E o número de desem-pregados, aí sim, seria fatal. A empresa, segundo relato de uma fonte, tem sofrido pressão por todos os lados para dispensar seus funcionários e reduzir a jornada de quem trabalha em setores essenciais da UPV. 

Em nota, a CSN informou, na última semana, que tomou medidas preventivas para resguardar a saúde de seus funcionários. Cerca de dois mil deles foram dispensados, dentre estagiários, aprendizes menores de 18 anos e trabalhadores acima de 60 anos. Além disto, a empresa passou a verificar a temperatura de quem entra na usina, seja fornecedor, trabalhador ou visitante. Áreas da usina ganharam álcool em gel e trabalhadores com suspeita da doença foram aconselhados a ficar em casa. Aqueles que tiveram contato com suspeitos, mas que não apresentaram sintomas, também foram colocados em quarentena.

Outra medida tomada pela CSN foi uma doação polpuda para que o prefeito Samuca montasse o hospital de campanha no Raulino. A CSN teria doado boa parte dos R$ 800 mil necessários para a montagem das estruturas e manutenção da unidade. O valor exato não foi revelado, mas será suficiente para manter os 114 leitos, 10 tendas de 100 metros quadrados cada, pelos próximos quatro meses. Até o fechamento desta matéria, ontem, sexta, 3, felizmente nenhum paciente havia “inaugurado” o hospital.

Após anunciar as medidas protetivas contra a Covid-19, uma enxurrada de comentários – a maioria com crítica feroz à CSN – tomaram conta das redes sociais. “Sem nenhuma proteção para os funcionários! Nem álcool gel, nem nada. Sem medidas protetivas. Refeitórios lotados, ajudem os trabalhadores da CSN, por favor”, pedia uma das seguidoras de Samuca Silva. O comentário foi rebatido pelo próprio prefeito, que replicou dizendo que tinha acabado de anunciar que a CSN havia adotado, sim, uma série de medidas preventivas.

Em meio aos comentários, um chamou a atenção: foi o do vereador Carlinhos Santana, ex-metalúrgico da CSN, ligado a movimentos sindicais. O parlamentar questionou Samuca querendo saber de quais setores da UPV a empresa tiraria os dois mil funcionários. A resposta veio rápida: “Esse é um critério da empresa. Você pode entrar em contato com a direção da mesma para tirar sua dúvida”, sugeriu Samuca. 

Outros questionamentos envolveram o escritório central da CSN e ainda o porquê de a empresa não parar suas atividades e dispensar todo mundo. Coisa de doido.  Aliás, a maioria era de mulheres, provavelmente, que tenham maridos que trabalham na usina. “Muita aglomeração de pessoas no refeitório da CSN. O que pretendem fazer”, perguntou uma delas. “Quero saber das empreiteiras da CSN, hein prefeito?”, pediu outra. “O que você está falando da CSN não está acontecendo. Ainda tem pessoas com problemas crônicos dentro da usina”, alertou um dos seguidores de Samuca. “Não vai parar? Nos dê uma posição”, esbraveja outro internauta.  “A CSN é privada e não do município”, retrucou outro internauta na tentativa de explicar que o prefeito Samuca não responde pela CSN.

Inconformados com o fato de a CSN não parar suas atividades, o que provocaria milhares de demissões, os internautas apelaram até para o vereador Rodrigo Furtado. “Cadê a fiscalização na CSN”, cobrou um deles. “Será que o prefeito não poderia fazer do escritório central um hospital? Depois que tudo isto passar é só devolver à CSN. Não seria melhor?”, sugeriu outro.

Teve internauta que foi além. Um deles denunciou que quatro metalúrgicos teriam sido infectados com coronavírus, mas não citou de quais empresas, áreas ou se os operários foram afastados, ou não. A verdade é que, além das medidas preventivas já citadas, a CSN adotou um protocolo que vem sendo cumprido em todas as unidades da empresa em São Paulo, Rio, Minas e Paraná. Dentre elas estão restrições de visitas, reuniões com aglomerações, viagens e contatos, acompanhamento médico, higiene dos ambientes e orientações de higiene adequada das mãos.