Por Mateus Mateus
O período de 18 a 25 de setembro, quando se comemorou a Semana Nacional de Trânsito, criada para promover a educação e a conscientização sobre o trânsito em todo o país, em Volta Redonda, cidade com uma das maiores frotas de veículos da região, quase nada foi feito. Pode-se dizer que pouco – muito pouco – foi digno de registro. Nem campanhas de conscientização dos motoristas e, principalmente, dos motoqueiros foram feitas pelaspolêmicas secretarias de Transporte e Mobilidade Urbanae a de Ordem Pública ou ainda pela Guarda Municipal e Policia Militar. Deveriam ter feito, por um grande motivo: o aumento do número de acidentes de trânsito na cidadedo aço.
Se duvidam, que pesquisem os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), através dopainel eletrônico sobre trânsito. De janeiro a junho de2025, por exemplo, foram registrados 155 acidentes em Volta Redonda – um aumento de 47% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando ocorreram 105. Tem mais. Também foi registrada uma alta no número de mortes: oito este ano contra seis do ano passado – um crescimento de 60%.
No início da noite de segunda, 22, os números aumentaram, após a chuva que caiu na cidade do aço. Uma batida entre uma moto e um carro chamou atenção de quem passava pela Vila, nas proximidades da Praça Brasil. O serviço de resgate do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado para socorrer um motociclista, de 32 anos, que acabou sendo levado para o Hospital São João Batista com ferimentos leves. O caso não foi grave, mas foi mais um para mostrar como situação em Volta Redonda merece uma atenção maior das autoridades citadas no início da reportagem.
O aumento expressivo de motocicletas circulando em Volta Redonda fazendo serviços de Uber – proibido conforme a lei municipal ……. em vigor — a exemplo do que tem se observado em todo o país — tem impacto direto na dinâmica do trânsito e dos acidentes. Diante disso, o Centro Regional de Saúde do Trabalhador do Médio Paraíba I de Volta Redonda (Cerest/VR), ligado à Secretaria de Saúde, criou um boletim dedicado a uma análise descritiva dos acidentes de moto registrados no município entre 2023 e julho de 2025. Segundo a prefeitura, o levantamento será fundamental para embasar as iniciativas a serem adotadas.
Um dado importante do boletim é a predominância de condutores do sexo masculino entre os envolvidos: eles representam 78% do total, contra 22% do sexo feminino. O estudo também aponta os motoboys como o grupo mais vulnerável dentre as profissões informadas: 35% do total, contra 6% de estudantes e 6% de vendedores. Neste caso, porém, vale destacar que 53% dos envolvidos não tiveram a profissão registrada.
Quanto à faixa etária, mais de 75% das ocorrências envolvem pessoas entre 18 e 40 anos: 39,8% com jovens de 18 a 25 anos, 35,8% com adultos jovens de 26 a 40 anos e 13,9% com adultos de 41 a 55 anos. No que diz respeito ao horário, não há grandes diferenças: à noite foram 698 ocorrências (35,1%), à tarde 654 (32,9%) e pela manhã 519 (26,1%). Outras 116 (5,8%) não tiveram o horário informado.
O aumento de acidentes com motos não é exclusividade de Volta Redonda. Na capital, os motociclistas continuam sendo as maiores vítimas na Linha Amarela, uma das principais vias expressas do Rio. De janeiro a agosto de 2025, mais de 70% de todas as ocorrências na via envolveram motos, segundo a Lamsa, concessionária responsável. No período, foram 403 acidentes com motociclistas, número 30% maior que no mesmo intervalo de 2024.
Falta experiência
Segundo o motoboy Cristiano Ferreira, o Cris, que atua em uma pensão na Colina, um dos principais motivos para os acidentes de moto é a imprudência dos próprios motociclistas, somada às barbeiragens de motoristas. “Hoje é muito fácil os jovens comprarem uma moto e começarem a trabalhar por aplicativo, seja entregando produto pelo iFood, virando motoboy ou agora mototáxi”, disparou, ressaltando que os aplicativos não exigem experiência para cadastrar motociclistas.
Com mais de dez anos de experiência, Cris garante que a falta de prática tem sido fatal. “A gente vê muito motociclista achando que é piloto de corrida, querendo fazer dinheiro rápido e se arriscando. Isso é muito perigoso. Moto requer cautela. Eu mesmo, com toda experiência, me acidentei este ano. Por sorte, caí sozinho fazendo uma curva e não me machuquei. Mas pode acontecer com todo mundo. Por isso é preciso cuidado e cautela”, completou.
Rio terá novo monitoramento de mototaxistas
Uma medida que visa diminuir o número de acidentes com mototaxistas cadastrados na plataforma 99Táxi foi lançada na semana passada no Rio. Condutores do aplicativo na capital deverão ser os primeiros do país a ter acesso ao Relatório de Direção com Telemetria, que faz um Raio-Xdo desempenho dos motociclistas no cumprimento das regras e boas práticas de trânsito. O lançamento está previsto para o último trimestre deste ano, segundo o diretor de negócios da 99, Leandro Abecassis.
O novo monitoramento faz parte de uma parceria firmada em maio com a prefeitura do Rio de Janeiro, visando ao compartilhamento de dados com o poder público para permitir um melhor planejamento urbano diante do crescente uso de motocicletas. Por meio da telemetria, a plataforma vai identificar freadas bruscas, curvas perigosas, excesso de velocidade e outros comportamentos de risco, atribuindo uma pontuação a cada motociclista para que ele possa se ajustar.
A reincidência nesses comportamentos poderá levar ao bloqueio do condutor, disse Abecassis. “Mais do que punir ou qualquer outro tipo de atitude, o principal objetivo é educar, informar que o comportamento deve ser ajustado”, afirmou. “A ideia não é tirar a forma de ganha-pão do trabalhador, mas precisamos que os acidentes não aconteçam”, completou.
Posto sem uso
Recentemente, em julho, como mostra a foto, a prefeitura de Volta Redonda gastou cerca de R$ 250 mil para construir um centro de apoio e descanso aos motoqueiros que atuam em entregas de produtos adquiridos pelas redes sociais ou que fazem mototáxis. O local, é bom que se diga, não caiu no gosto da classe. Um dos motivos seria a localização, ela fica ao lado da rodoviária, no centro de Volta Redonda. Para a maioria, o ideal seria que o centro ficasse no coração da Vila, ou no Aterrado. “Foi um projeto do vereador Renan Cury que recebeu nosso total apoio, e os motoboys passaram a ter um local para descansarem, realizarem suas refeições, nos intervalos de suas jornadas de trabalho”, comentou Neto ao inaugurar o posto, que conta com dois banheiros, área de convivência, copa e internet, entre outros.
Ações
Para prevenir e coibir a ocorrência de acidentes de trânsito pelas ruas de Volta Redonda, a secretaria de Ordem Pública (Semop), através de denúncias que recebe ou usando as cerca de duas mil câmeras do Ciosp (Centro Integrado de Operações de Segurança Pública), tenta agir, em tempo real, para combater as irregularidades ou os crimes cometidos por motoqueiros, acionando os agentes da Guarda Municipal ou da Operação Segurança Presente (PM). Isso, segundo a pasta, em release recente, estaria sendo fundamental para a apreensão de motocicletas em situação irregular, ou que estejam sendo utilizadas em infrações de trânsito, como o chamado “grau”.
Só que Semop ignora a própria legislação municipal. Em vigor desde 14 de junho 2024, a lei 3.984, apresentada pelo ex-vereador Mauricio Batista, aprovada e sancionada pelo prefeito Neto, estabelece que é proibido o uso de veículo de duas rodas na prestação de serviços de transporte de passageiros (aluguel) no uso como moto táxi cabendo as sanções pertinentes. Ou seja, a lei não está sendo desrespeitada e a Semop do coronel Luiz Henrique nada faz. Só retira de circulação as motos barulhentas, sem escapamento e sem documento.