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Sonho de mobilidade urbana começa a virar pesadelo para o governo Neto

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Vinicius de Oliveira

Desde o seu último mandato (2012-2015), o prefeito Antônio Francisco Neto fala em promover uma revolução na mobilidade urbana em Volta Redonda, prometendo um megaprojeto que prevê novos viadutos, ciclovias e, principalmente, calçadas revitalizadas. Mas parece que o destino conspira contra isso. Primeiro foi o Ministério Público que, em 2014, travou um empréstimo de R$ 60 milhões do município com a Caixa Econômica para esta finalidade. Na época, o MP achou que o investimento seria apenas para beneficiar a CSN. Com isso, o tempo passou e Neto deixou a prefeitura sem nada fazer. Seu sucessor, Samuca Silva, de pirraça, desistiu dos projetos e do dinheiro.
De volta ao Palácio 17 de Julho, Neto retomou seu ambicioso projeto e contou com a benevolência do governador Cláudio Castro, que passou a financiar as prefeituras com dinheiro da privatização da Cedae, e, com isso, garantiu uma quantia milionária, bem maior do que os R$ 60 milhões que tinha acertado com a Caixa: R$ 140 milhões, segundo a secretaria de Comunicação. Só que, ao executar o projeto, Neto descobriu que as empreiteiras contratadas pelo Estado passaram a fazer buracos por todo canto e nada do que o prefeito sonhou se materializou.
A empreiteira Santa Luzia, por exemplo, ficou responsável por tocar a reforma do calçamento nas principais avenidas do Aterrado, enquanto outra empresa, a Metropolitana, deveria trocar as calçadas em alguns pontos próximos ao antigo Hospital da CSN, no Laranjal. Também fazia parte do contrato a reforma nas ruas 164, 163, 161-B, além das ruas 162 e 160. Em seguida, a empreiteira deveria avançar pelas ruas 43 e José Policarpo, na Vila, indo para os quarteirões entre o prédio do antigo Escritório Central da CSN até as calçadas em frente ao chafariz da Praça Brasil, somando 33 metros quadrados de reforma.
Em vez de ver seu antigo sonho sendo realizado, Neto acumula dor de cabeça e reclamações. Afinal, as empresas estão abrindo buracos ‘feito tatus’ e não fecharam nenhum enquanto avançavam nos pontos. Uma fonte garante que a culpa não é apenas das empreiteiras, mas, também, das eleições. “A ideia era fazer tudo muito rápido para ajudar a garantir votos para o governador e deputados. Daí não deram conta, e deu no que deu”, aponta uma delas.
A Rua 33 é outra novela. Os planos de Neto previam para uma das vias mais famosas da cidade do aço serviço completo de revitalização, paisagismo, melhorias do mobiliário urbano e nos passeios públicos. O Saae aproveitou a deixa, escavou e trocou a rede de água e parte da de esgoto. “Como o projeto inicial contemplava a colocação das redes elétrica e de telefonia de forma subterrânea, aproveitamos para recuperar as redes de água e esgoto que já estavam comprometidas. Isso minimiza o risco de intervenções futuras no solo”, disse o diretor-presidente do Saae-VR, Paulo Cezar de Souza, o PC.
Em seguida, a empresa Irmãos Vasconcelos LTDA, que venceu a licitação da reforma da 33, entrou em ação. Chegou a retirar algumas pedras portuguesas e pavimentar pontos específicos. Mas, pasmem: a empreiteira resolveu largar o serviço pela metade e bater em retirada. Motivo: queria receber a mais pelo serviço. Ou seja, tinha orçado um valor baixo só para ganhar a concorrência, apostando que receberia um aditivo quando começasse a obra. Quebrou a cara – e as calçadas. Foi embora em março e deixou tudo por fazer.
O fato é que Neto ficou mais uma vez na mão e anunciou que haverá nova licitação ainda este ano para que a 33 fique ‘um brinco’ em 2023. Mas até que isso aconteça e a fim de evitar mais transtornos para os pedestres e prejuízos para os lojistas, Neto definiu a criação de uma força-tarefa para cimentar, de forma provisória, as calçadas dos dois lados da Rua 33. “O cimento é provisório. Vamos retirar todas as pedras portuguesas da Rua 33 e vamos cimentar, porque não é justo a população andar em calçadas com pedras soltas, buracos, com a situação piorando em dias de chuva”, justificou em recente entrevista.

Tiro no pé

Como anunciado, a secretaria de Infraestrutura da prefeitura de Volta Redonda começou, na segunda, 24, a cimentar, de forma provisória, as calçadas dos dois lados da Rua 33, na Vila. O reparo visa “minimizar os transtornos à população enquanto o novo processo licitatório para a retomada das obras definitiva não seja finalizado”, justificou Poliana Gama. titular da pasta, reiterando que a nova licitação poderá ser realizada entre o fim deste mês e o início de novembro, com o reinício da repaginação da via para começo de janeiro, após as festas natalinas.
Nas redes sociais, Poliana anunciou que já foram pavimentados trechos da Rua 33, nas proximidades da ETPC, na divisa com a Sessenta. “É uma obra emergencial para que a população não tenha que andar em calçadas com pedras soltas, buracos e em poças que são formadas em dias de chuva. Esta ação já começou e estamos correndo para terminar o mais rápido possível, dependendo também da previsão do tempo”, disse.
Não é bem assim. As pedras portuguesas não estão sendo retiradas. Pior. Nas ruas paralelas à 33, estão deixando os antigos pisos, aqueles que lembram a foice e o martelo do PC, colocados em governos anteriores do prefeito Neto. Os pisos quebrados e as pedras não retiradas são remendadas, o que dá um ar de serviço porco, até prova em contrário.
Aliás, a postagem feita pela @prefeituravr rendeu várias críticas dos internautas. “Tomara que façam um sistema de drenagem bom também para não alagar igual todo ano”, escreveu um deles. “Mais um pouco e as calçadas fazem aniversário”, disparou outro. O comentário de uma internauta, entretanto, mostra o quanto a prefeitura demorou a tomar uma atitude (a empresa contratada abandonou o serviço em março, grifo nosso). “Sei que imprevistos acontecem, mais acho que poderia ter sido feito uma coisa de cada vez. Muitas calçadas quebradas ao mesmo tempo causando transtorno ao pedestre. Poderia ter sido feito aos poucos. Hoje fui levar meu pai ao médico na clínica procor e quando saímos da clínica não tinha lugar para passar pois os trabalhadores estavam cimentando a calçada, uma situação muito difícil pois meu pai tem 81anos, tem Parkinson e muita dificuldade para andar. Acho que esses trabalhos deveriam ser feitos ao domingo, quando o fluxo é bem pequeno. Não estou criticando somente sugerindo para que da próxima vez se pense mais nos pedestres”, sugeriu. Que ela não se alegre, pois, até prova em contrário, suas sugestões não serão acatadas.
O problema da 33, onde a obra foi abandonada pela prefeitura, também atinge outros pontos da Vila, bairro onde o m2 é dos mais caros em Volta Redonda. “Em compensação ontem, 23/10, por volta de 11h30, presenciei um cadeirante tendo que utilizar a rua 12 na Vila porque não havia calçada. Falta de respeito total! Absurdo. Outro lugar que também está um horror é o calçadão da rua 2 no conforto, que antes era usado para caminhada e agora o calmamente virou escória… é isso mesmo nobre prefeito. Se o Senhor desconhece tais fatos sugiro que dê uma caminhada ????? ?????”, sugeriu uma internauta. Essa também pode tirar o cavalinho da chuva…
Para encerrar, fica o comentário de um internauta que resume tudo que se refere a calçadas em Volta Redonda. “Que ca Ga daaaaa … ??”, postou.