sexta-feira, setembro 13, 2024
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Precisava de verdade?

Secretaria de Ordem Pública cortou 140 árvores na Vila; MP será acionado

 

É fake. É um absurdo. É uma vergonha. Isso é crime. Isso é sacanagem. Essas serão, certamente, algumas das definições que os leitores do aQui vão usar para classificar o que está acontecendo nas Ruas 41-C e 41-A, na Vila, que são separadas pelo Rio Brandão e que serviam de modelo para um cartão-postal de Volta Redonda até que suas árvores fossem cortadas, sem qualquer explicação oficial, pela secretaria de Ordem Pública do governo Neto. Ao todo, conforme levantamento feito pela reportagem, a Semop podou, cortou e eliminou 140 árvores de um total de 302 espécimes existentes no trecho que vai apenas do Centro Médico, próximo ao antigo Hospital Vita, à Ponte Salvador de Sena, na altura do Tiro de Guerra da 60.
O caso, como não poderia deixar de ser, revoltou os volta-redondenses, afinal a cidade do aço, poluída pelas chaminés da CSN, conta com pouca vegetação em seu perímetro urbano. Pior. Até o momento, a prefeitura de Volta Redonda não deu qualquer explicação convincente para a poda, o corte e a supressão das árvores. Nem o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente foi avisa- do sobre o serviço feito pela Semop, comandada pelo tenente-coronel Luiz Henrique Monteiro Bar- bosa. O caso deverá parar no Ministério Público, conforme denúncia apresentada pelos conselheiros do Condema, que cobram uma investigação dos responsáveis pelo que entendem ser crime ambiental. Em entre- vista ao aQui, o engenheiro florestal Sandro Alves explicou a gravidade do caso. Ele é analista ambiental no ICMBio e representa o ór- gão do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Volta Redonda. “Estamos fazendo uma in- vestigação deta-
lhada desse caso”, disse o engenheiro, ressaltando que o trabalho está sendo feito em parceria com outros membros do Condema. “A prefeitura divulgou que cortou apenas ár vores que estavam doentes. Nós fomos ao local e tiramos fotos dos tocos das árvores suprimidas, por exemplo, que mostram que a grande maioria estava saudável”, rebate o ambientalista.
Segundo Sandro Alves, as supressões das árvores na Rua 41-C terão consequências legais e ambientais, explicando que o Rio Brandão é um dos principais afluentes do Rio Paraíba do Sul e sua margem é considerada uma Área de Proteção Permanente. Segundo o Código Florestal (Lei Federal 12.651/12), podas e supressão em APPs só podem ser feitas em caso de interesse social e utilidade pública. Nesse caso do Rio Brandão, aparentemente não estavam presentes as características necessárias para o corte”, disse o engenheiro florestal, salientando que, segundo o Decreto Federal 6514/08, também é proibido cortar e podar árvores em APPs sem autorização do órgão competente.
O ambientalista vai além. Lembra que Volta Redonda é uma das poucas cidades onde existe um Conselho Municipal de Proteção do Meio Ambiente, formado por membros de órgãos públicos e da sociedade civil. “Isso seria um motivo de orgulho, já que também somos uma das poucas cidades que têm o próprio Código Municipal do Meio Ambiente (feito em 2008, grifo nosso)”, completou, res- saltando que o Condema é um conselho que deve debater e deliberar políticas ambientais. “E nós não fomos informados desses cortes”, reclama.
De acordo com Sandro, algumas perguntas urgentes precisam ser respondidas pelo Palácio 17 de Julho. “Qual a finalidade da supressão dessas árvores? Qual técnico competente assinou o parecer indicando que o corte seria necessário? E onde está esse parecer? Essas são perguntas que seguem sem respostas”, pontuou, fazendo questão de salientar que esses cortes só poderiam ser feitos com o devido parecer técnico. “Até porque quem assinou o parecer pode ter que responder judicialmente, inclusive sendo condenado a pagar multa por cada árvore cortada e suprimida”, completou.
“Essas árvores que foram cortadas eram adultas, estavam cumprindo seu pleno papel ecológico, principalmente de filtrar o ar. Mesmo que sejam plantadas árvores como forma de compensação, essas levariam anos, talvez décadas, para cumprirem a mesma função das que foram cortadas”, sublinhou, destacando ainda que, entre as árvores cortadas, pode ser que, algumas, de fato, estivessem doentes. “Mas cortar é o último caso. Existe tratamento, poda preventiva, outros métodos para tentar salvar a árvore”, afirmou.
Em Volta Redonda, segundo pesquisa recente, restaram apenas 10% de remanescentes florestais. “Por isso a importância dessas ár vores. A cidade tem uma grande poluição por conta da Usina Presi- dente Vargas e da grande frota de veículos. Essa supressão de árvores desregula o microclima, tira sombra de pedestres e ainda atrapalha a fauna. Temos várias aves de perímetro urbano que precisavam dessa vegetação. É muito grave tudo que aconteceu”, desabafou. E com razão!
A fúria da Semop em cortar 140 das 302 árvores no trecho citado no início da matéria deve preocupar os ambient0alistas locais, afinal, existem outras tantas – mais de 100 – que podem acabar tendo o mesmo fim. Elas ainda estão de pé no trecho que começa na ponte da 60, perto da Praça dos Expedicionários, localizada no bairro, e termina nos fundos do Tiro de Guerra. Contar quantas são é uma tarefa impossível. Pode-se dizer que são cerca de 200, de todos os tamanhos. Algumas são belas, como a da foto. Que não morram pelas mãos dos homens.

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