Por Mateus Gusmão
“O que a história não contou”. Esse é o nome de mais um livro do arquiteto e urbanista Ronaldo Alves, um dos mais respeitados do Sul Fluminense. O trabalho revela parte da história da emancipação de Volta Redonda, que, oficialmente, completou 70 anos na quarta, 17 de julho. Ronaldo, um dos principais responsáveis pela anexação de vários bairros do Complexo Roma, até então entendidos como de Piraí, ao território de Volta Redonda, fez um levantamento junto ao acervo público da prefeitura de Barra Mansa e descobriu, entre outras, que a CSN deveria ficar em terras barra-mansenses.
O livro foi lançado há cerca de um mês, visando exatamente aproveitar o aniversário da cidade do aço. “Essa é a verdadeira história da emancipação de Volta Redonda, que não se deu oficialmente em 1954, mas sim em 1955”, destaca. “Diversos historiadores já trataram sobre o assunto da emancipação de Volta Redonda, mas me chamou a atenção que nunca por esse ponto de vista que apresento no livro, corroborado por documentos públicos do acervo da prefeitura de Barra Mansa”, completou Ronaldo.
Pesquisando nos livros, Ronaldo descobriu que em 1943 o governo do Estado publicou um decretolei delimitando os limites do 8o Distrito de Barra Mansa, chamado Santo Antônio de Volta Redonda. “Esse limite iria até o Rio Brandão, após já seria Barra Mansa. Ou seja, é como se após o Clube Umuarama tudo fosse terra barraman- sense”, destacou. “Quando da implantação da Companhia Siderúrgica Nacional, a empresa comprou as terras onde hoje se chama Vila Santa Cecília (que era Vila Operária)”, acrescentou.
Quando começou o movimento para emancipar o distrito chamado de Volta Redonda, capitaneado por Sávio de Almeida Gama, Heitor Leite Franco e Lucas Evangelista, não houve atenção para o espaço territorial. “Eles não sabiam nada de geografia. Somente após conseguirem realizar a emancipação é que eles se atentaram para os limites de Volta Redonda. Tanto que posteriormente tiveram que aprovar outra lei para mudar esses limites”, comentou.
De acordo com Ronaldo Alves, houve um plebiscito para saber se a população do distrito de Volta Redonda gostaria de se emancipar, o que era necessário para se cumprir a legislação. Odetalhe, disse ele, é que o caso já teria sido iniciado com irregularidades. “Os trabalhadores da CSN que moravam onde hoje é a Vila Santa Cecília, por exemplo, tiveram direito a voto. Mas eles moravam em terras que não eram do 8o Distrito, e sim do município de Barra Mansa, e não poderiam votar. Mas os emancipalistas não sabiam disso”, comentou.
Quando o plebiscito foi realizado e a Assembleia Legislativa aprovou a emancipação de Volta Redonda, em 1954, a lei estadual era bem simples. “Essa legislação não continha em sua norma os limites de Volta Redonda e Barra Mansa. E sabendo que os limites do 8o Distrito iria apenas até o Rio Brandão, o prefeito de Barra Mansa à época, João Chiesse, peticionou um documento no Instituto Brasileiro de Geografia (hoje IBGE) questionando os limites legais das cidades”, acrescentou.
O detalhe é que o IBGE não respondeu à prefeitura de Barra Mansa enquanto a Assembleia Legislativa aprovou a nova Lei, o que Ronaldo acredita ter sido por pressão política para que se mudassem a legislação e os limites das cidades. Os emancipalistas volta-redondenses teriam começado a agir politicamente. “E uma nova lei foi sancionada em 5 de abril de 1955 sobre esse tema. É ela que determina os limites agora dos municípios. A questão era financeira, quem era a favor da emancipação queria a riqueza da CSN e não deixaria que a siderúrgica ficasse em terras de Barra Mansa”, pontua. Essa nova lei, um ano após a primeira legislação que emancipava a cidade do aço, ampliou os terrenos da cidade para os limites atuais. “Se não fosse isso, a CSN seria de Barra Mansa, assim como bairros como Ponte Alta, Eucaliptal, São Lucas e outros”, completou Ronaldo Alves.
Cálculos feitos pelo arquiteto, baseado em dados públicos, apontam que Barra Mansa teve um prejuízo de R$ 54 bilhões desde que houve a mudança dos limites das cidades. “Essa é a real história da emancipação. Os emancipalistas não sabiam os limites de Volta Redonda e tiveram que mudar a legislação, com muita influência política e jurídica, para conseguir o que queriam. Essa é a história que ninguém conta”, disse, ressaltando que começou a pesquisar sobre o assunto por curiosidade. “Eu queria entender o motivo pelo qual fizeram uma lei em 1955, um ano após a emancipação, para definir os limites da cidade”, disse. A Prefeitura de Barra Mansa entrou com um mandado de Segurança contestando a definição de limites prevista na nova Lei, mas perdeu. A advocacia da PMBM declarou que… “nunca dantes na história desse país se viu tamanho esbulho contra o verdadeiro limite entre os Municípios daqui!” …
“A verdadeira emancipação de Volta Redonda, com seus limites definidos como são hoje, não foi em 1954 e, sim, em 1955”, completou. Quem quiser o livro de Ronaldo Alves pode ter acesso, de forma gratuita, na gráfica ImprimAqui, no Aterrado.